Gosto de ter as minhas coisas e a minha casa direitas. Gosto de ter os sofás arranjados, os quadros direitos, os livros alinhados, as almofadas batidas, os tapetes no sítio certo e a sala arrumada. É claro que, após terem nascido os meus filhos, e especialmente com os 2 em casa, não tenho a casa tão arrumada como gostaria, e muitas (muitas, mesmo) são as vezes em que estamos a brincar na sala e não no quarto, com os brinquedos todos ( literalmente todos) em cima do tapete.
Fui forçada a ter que ceder, porque uma casa com miúdos é uma casa vivida e quero que eles estejam bem e não sempre preocupados com o que desarrumam e o que não podem tocar. Mesmo assim há regras que tento que cumpram: uma é arrumar os brinquedos no fim de brincar, tanto no quarto como na sala. O mais velho arruma, já o pequenino tenta. Mas é envolvido no processo e começa a familiarizar-se com as rotinas.
Tenho dois rapazes que gostam de agitação e desarrumação. Que gostam de saltar e correr, de gritar e pular. Mas sabem que não saltam nos sofás, nem jogam à bola dentro de casa; sabem que não atiram coisas pelo ar e que as canetas são só na mesinha.
Quer dizer, o mais velho, muito atinadinho e ajuizado que é, sabe, sabe isso e muito mais. Já o mais novo considera que as paredes são perfeitas para pintar, mais do que os cadernos até, que as gavetas são mais úteis se estiverem sempre abertas, que os brinquedos são mais interessantes se estiverem em exposição na sala, no corredor e na cozinha, que os comboios não andam nos carris mas sim voam contra as paredes, que as almofadas funcionam tipo buffer para amparar quedas (propositadas), e que fazer torres de diversas e variadas coisas empilhadas é giro, mas mais ainda é ver tudo cair (e por vezes partir).
Sim, como costumo dizer, ele tem ideias e é muito criativo no uso que dá aos objetos, na sua conceção artística.
Tenho a minha casa lentamente a desfazer-se. (Mais) Um risco no chão, (mais) um copo partido, (mais) uma almofada descosida, (mais) um quadro torto, (mais) um risco na parede que tento a todo o custo limpar.
As mãos pequeninas são muito rápidas e os objetos voam a grande velocidade. Num instante estou a limpar algo, e já está outra coisa partida, e só é preciso uns míseros segundos. Uma casa com crianças é diferente de uma casa com adultos, dizem-me. Mas, uma casa com crianças é diferente de uma casa com o Tomás, respondo...
Temo que a minha casa não sobreviva às ideias do meu pirata. E desconfio que ele tem como missão especial convencer-me disso.
Marta Andrade Maia
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