Ainda me lembro dos bons velhos tempos em que as famílias eram todas “maravilhosas” e os pais viviam juntos até que, literalmente, a morte os separasse. Isto porque não me recordo de, em criança, ter amigos de pais separados. Só mais tarde, no pico da minha adolescência, convivi de perto com uma amiga que partilhava a casa e a vida apenas com a sua mãe – e confesso que aquele registo me parecia brutalmente estranho.

De repente tudo mudou. As pessoas não aceitam mais viver relações que não as completem ou que não lhes tragam felicidade, optando pela separação em busca de caminhos mais equilibrados. Mesmo que esses caminhos sejam feitos a apenas dois pés.

Eu confesso que não senti nunca o estigma de ser divorciada ou “mãe solteira”. Os meus amigos mantiveram-se precisamente os mesmos, a minha família aceitou a situação sem grandes dramas e os meus filhos continuaram a ver a mãe e o pai a manter uma relação devidamente equilibrada. O meu estado de “divorciada” não me trouxe quaisquer contratempos – a não ser na hora de ter de usar um berbequim ou de querer mais tempo para mim.

Até que me deparo com um estigma público que desconhecia por completo. Os chamados “pacotes de família” em estabelecimentos de lazer ou de cultura. No último mês, deparei-me duas vezes com este problema. Primeiro num museu, depois numa piscina municipal. Os pacotes de família apresentados por estes dois locais disponibilizam preços francamente vantajosos, mas em circunstâncias apertadas: só podem ser utilizados por quem se apresente efetivamente com crianças, mas também em casal. Ora, para estas duas entidades, uma mãe e respetivos filhos não podiam, então, gozar do chamado pacote familiar.

Nos dois casos, expus a fragilidade da situação, questionando quem me atendeu acerca da nítida injustiça para com famílias monoparentais. Eu, apenas por não ter um homem a acompanhar-me, deveria ser prejudicada, pagando um valor bastante mais elevado para aceder aos espaços com os meus filhos?

- São as regras, minha senhora…. Não podemos fazer nada.

Não podiam fazer nada, disseram-me. Quer dizer, até podiam, mas alterar a política, fazer e imprimir novos preçários e perder uns euros em vendas não lhes deve parecer vantajoso. Por isso mesmo, e porque há que pensar com “cabeça de negócios”, também podiam ainda definir um novo serviço – que, dada a realidade, me parece ter elevado capital de lucro: o aluguer de maridos e mulheres. Já que estes “pacotes de família” não consideram como tal um grupo constituído apenas por mãe e filhos, teriam sempre a possibilidade de alterar a resposta dada a quem os confronte por desconsiderarem as famílias monoparentais:

- São as regras, minha senhora…. Mas temos aqui um marido que lhe podemos alugar e que lhe permitirá gozar do excelente pacote de família!

Pode ser um serviço de apenas 10 minutos, já que só necessitaremos do acompanhante na hora de comprar os bilhetes. Passada a bilheteira, ele (ou ela) poderá voltar à sua vida com mais uns trocos no bolso.

Ou não. Porque se quiserem investir à séria no negócio, contratem modelos que façam concorrência a qualquer Claudia Schiffer ou David Beckham e nunca se sabe se o “compromisso” não passará as barreiras da bilheteira.

Alda Benamor