
O último papel que desempenhou, na série de televisão «Terapia», na RTP 1, permitiu a Virgílio Castelo voltar a mergulhar em temas que lhe despertam naturalmente a curiosidade. «O meu primeiro contacto com o personagem Mário Magalhães fez-me sentir um eco face ao que fazemos enquanto atores, tentar compreender o personagem (neste caso, o paciente) e depois encontrar um caminho comum», revela.
«Mas o maior desafio foi o rigor da linguagem», assume. «Se um ator, num improviso, quer dizer eu sinto, mas diz eu acho ou eu penso, não há grande diferença. Um terapeuta não pode fazê-lo. Tem de ser rigoroso, encontrar uma linguagem clara e que seja confortável para o paciente. Também já fiz terapia e reconheço a importância de encontrar alguém de confiança, que nos dê respostas», assume.
«No meu caso, esse processo nem um ano durou, pois aquietei as minhas questões de um modo tão satisfatório que não precisei de mais. Temos de perder o preconceito de fazer terapia e ter medo de falar sobre nós próprios. Mais, acho que o que realmente aterroriza é ouvir-nos por dentro», refere o ator.
«Ultrapassar isso e ter sucesso na terapia, como defende o escritor e psiquiatra Irvin D. Yalom, tem muito que ver com a relação que se estabelece entre paciente e terapeuta. Por outro lado, temos de potenciar o autoconhecimento pois somos treinados para acreditar em fórmulas generalistas que não têm em consideração a especificidade de cada um. Só assim podemos lutar contra os limites que nos são impostos», defende.
«A explicação meramente racional ajuda mas não chega»
A série de televisão da RTP 1 prendeu milhares de portugueses ao pequeno-ecrã. «Há quem se julgue no direito de não ter limites e há quem se sinta confortável com as normas. Tudo depende do uso do livre arbítrio. E, nesse sentido, o terapeuta Mário Magalhães enriqueceu-me na medida em que tentar uma explicação racional para a existência é um dos maiores exercícios a que qualquer ser humano se pode dedicar», diz.
«Mas também concluí aquilo que já suspeitava. A explicação meramente racional ajuda mas não chega. É por isso que procuro ler tudo o que posso sobre o tema. É essa a minha terapia para ter a mente sã. Já há muito tempo que estas questões me preocupam e, de algum modo, sempre me dediquei a elas. Por vezes, de um modo mais científico, outras de forma mais empírica», acrescenta.
A série original que deu origem a «Terapia» é israelita mas já foi alvo de muitas adaptações. Para se preparar, o ator conta que se deixou «levar pela energia das cenas que já determinavam com clareza a atitude deste terapeuta. Olhava para as outras versões quando tinha dúvidas (sobretudo em relação a tecnicismos) sobre o original israelita. Tanto eu como os outros atores encontrámos na adaptação portuguesa uma grande margem de conforto», afiança.
Texto: Carlos Eugénio Augusto
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