Perceção vs. Realidade
Mas será que Meghan Markle tinha verdadeira noção de que estava prestes a entrar para a Família Real e do que isso significava dali em diante? “Eu diria: entrei nisto ingenuamente. Porque não cresci a saber muito sobre a família real. Não era algo sobre o qual conversávamos em casa, não era algo que acompanhávamos.”
Ao iniciar a sua relação com Harry, com quem criou uma ligação devido ao trabalho social que ambos desenvolviam, a ex-atriz afirma que no início da relação nunca lhe passou pela cabeça pesquisar sobre o marido online nem sobre a Família Real. “Pensei no que poderia ser. Nunca compreendi qual era o trabalho, o que significava ser um membro ativo da realeza, o que se fazia. […] Mas acho que não havia forma de compreender como é que o meu dia a dia ia ser. Eu não romanceei nenhum elemento disto. Mas o que é os americanos, especialmente, sabem sobre a família real? É o que lemos nos contos de fadas. Achamos que é isso que sabemos sobre eles e é fácil ter uma imagem que é está longe da realidade. E isso é que foi complicado ao longo destes últimos anos: quando a percepção e a realidade são duas coisas diferentes e estamos a ser julgados pela perceção mas vivemos a realidade. Há um desalinhamento e não há forma de explicar isso às pessoas.”
O casamento a dois e o casamento real
“Estávamos conscientes, mesmo antes, de que este não era o nosso dia. Era o dia que tinha sido planeado para o mundo”, refere a ex-atriz sobre o casamento real que aconteceu a 19 maio de 2018 perante milhares convidados e celebridades na St George's Chapel, em Windsor.
Em entrevista a Oprah Winfrey, o casal revela que houve um primeiro casamento que ninguém viu: que aconteceu três dias antes, no quintal de sua casa, e que foi oficiado pelo Arcebispo da Cantuária. “Eramos só nos os três”, disse Harry.
A relação de Meghan Markle com a Rainha
Sobre a primeira vez que conheceu a rainha Isabel II, encontro que teve lugar no Royal Lodge, em Windsor, Meghan explica que “houve uma grande formalidade” para a qual não estava preparada. Apesar de recordar o momento como “encantador” e “fácil”, refere que, equivocadamente, a família real não pode ser comparada às celebridades que estava acostumada a ver na rua em Los Angeles.
“Lembro-me de eu o Harry estarmos no carro e ele me dizer ‘Olha a minha avó está aqui, vais conhecê-la’. Eu eu respondi ‘Ótimo. Eu adorava a minha avó, costumava tomar conta dela”. E ele diz ‘Tu sabes fazer a vénia?’ E eu respondi ‘O quê?’. Eu pensei, genuinamente, que isso era o que acontecia do lado de fora. Que fazia parte do aparato. Não sabia que isso acontecia do lado de dentro. E eu disse ‘Mas é a tua avó’. E ele ‘É a Rainha’. E foi nesse momento que me caiu a ficha.”
Durante a entrevista Meghan explica que é preciso fazer a distinção entre a família real e as pessoas que gerem a instituição. Sobre a sua relação com Isabel II só tem coisas boas a dizer. “A rainha sempre foi maravilhosa para comigo”, afirma recordando o primeiro evento real que tiveram juntas. “Sempre foi calorosa, convidativa e muito acolhedora.”
Harry revela ainda que ficou surpreso por Meghan ter sido tão bem recebida pela família na altura em que começara a namorar. “Muito melhor do que esperava”, afirmou.
A nova vida em Los Angeles
O que é que a entusiasma mais nesta nova vida fora da Família Real que deixou para trás em janeiro de 2020? “Poder viver de forma autêntica. Estas coisas básicas [como salvar galinhas] que são enriquecedoras. E voltar às raízes”, referiu Markle.
Ao falar sobre a decisão de abandonar tudo para viver uma nova vida num novo país, o príncipe Harry vai mais longe, revelando que a mulher o ajudou a libertar-se de uma vida que, no fundo, não o fazia verdadeiramente feliz. “[Se não fosse a Meghan] Nunca teria tido a capacidade de deixar a família real, porque eu estava preso. Eu não vi uma saída. Estava preso mas não sabia que estava preso”, começa por explicar o filho mais novo de Carlos e Diana. "Estava preso a um sistema, tal como o resto da minha família. O meu pai e o meu irmão estão presos. Eles não podem abandonar [a família real]."
Harry refere que se a mãe fosse viva – e após ter passado o que passou com a família real e os média - que tem a certeza de que esta apoiaria a sua decisão “uma vez que tudo o que ela quereria era que fossemos felizes”, dizendo que sentiu a sua presença durante todo este processo de transição. “Eu sinto-me muito aliviado e feliz em poder estar aqui sentado a falar contigo, com a minha mulher ao meu lado. Porque não consigo sequer imaginar o que foi para ela ter de passar por todo este processo sozinha.”
A criação da fundação Archewell permitiu a Meghan e Harry começar a produzir programas para a Netflix e podcasts para o Spotify. Uma estratégia que o casal encontrou para se financiar na sua nova vida nos Estados Unidos. “A minha família deixou de me financiar na primeira metade de 2020 mas tenho tudo aquilo que a minha mãe me deixou e sem isso não poderíamos fazer isto", uma revelação que deixou Oprah Winfrey incrédula.
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O furacão Meghan e as mentiras da imprensa
Seis meses após o casamento, começaram as histórias na imprensa sobre um alegado desentendimento entre Meghan e Kate provocado pelos vestidos das damas de honor e que teria levado a Duquesa de Cambridge às lágrimas. “A narrativa com a Kate, que nunca aconteceu, foi muito difícil. E acho que foi aí que tudo mudou.”
Meghan explica que aconteceu precisamente o oposto “durante uma semana stressante do casamento” mas que Kate Middleton, após perceber que tinha magoado a futura cunhada, reconheceu que tinha errado. “Pediu-me desculpas e eu perdoei-a.” Tendo em conta que as pessoas à sua volta tinham conhecimento do sucedido, porque é que a Família Real nunca tentou proteger Meghan das acusações injustas de que foi alvo? “É uma boa pergunta”, afirma referindo ainda que “[os média] queriam uma narrativa de um herói e de um vilão.”
“Não vou comentar” era a resposta usada pelo casal sempre que questionado sobre notícias que saíam na imprensa e Meghan refere que desde o início que seguiu as instruções que lhe foram dadas porque acreditava que a estavam a proteger. “Isso foi muito díficil de reconciliar porque assim que nos casámos e tudo começou a piorar percebi que, não só não estava a ser protegida, como também eles estavam dispostos a mentir para proteger outros membros da família. Mas não estavam dispostos a dizer a verdade para me proteger a mim e ao meu marido.”
O racismo
E como se sentiu ao ser a primeira pessoa multiracial a entrar para a Família Real? “Pensei nisso porque eles [a imprensa] me fizeram pensar nisso. […] Sempre falei abertamente, especialmente, sobre os direitos das mulheres. Essa é a ironia dos últimos quatro anos: é que sempre defendi para as mulheres usarem a sua voz e depois fui silenciada.”
As restrições e a solidão
“Eu sei que há uma obessão sobre como as coisas vão ser vistas mas alguém já falou como isso me faz sentir? Porque agora não me podia sentir mais sozinha”, refere sobre o facto de não poder fazer coisas normais, como sair para almoçar com amigos. E o assédio da imprensa não veio ajudar, fazendo com que Meghan Markle fosse aconselhada a resguardar-se o máximo possível. “Havia muito pouco que eu podia fazer. Claro que isso nos faz sentir sozinhos. Especialmente quando se deixa uma vida cheia de liberdade."
A propósito do documentário emitido sobre a digressão real dos duques de Sussex pela África do Sul, Meghan afirma que há muito tempo que não se sentia bem. “Estava há algum tempo a pedir ajuda à Instituiçao. Depois de termos voltado da digressão na Austrália, que foi um ano antes disto, falamos de como as coisas começaram a mudar porque não estava em segurança e foi durante a minha gravidez que comecei a perceber como iria ser a nossa realidade.”
O polémico nascimento do filho, Archie
Para além de a releza não querer que o filho dos duques de Sussex tivesse o título real de Príncipe, o futuro bisneto de rainha Isabel II também não iria ser protegido ou receber qualquer tipo de segurança.“Muito foi-me dito pelo Harry e outras partes através de conversas com membros da família. E foi uma decisão que acharam apropriada”, afirma Meghan acrescentando que nunca deu importância aos títulos reais e que essa era uma decisão que não lhes cabia tomar. Para si o mais importante era o seu bem-estar e segurança de Archie. "A ideia de o nosso filho não estar seguro e a ideia de que um membro de cor nesta família não vai receber um título da mesma forma que os outros netos...”, disse visivelmente emocionada.
Contrariamente aquilo que os média noticiavam, a verdade é que Harry e Meghan nunca tiveram intenção de quebrar a tradição ou os protocolos reais. Mas será que a razão pela qual a Casa Real não queria conceder o titulo de Príncipe a Archie – e consequentemente negar-lhe proteção - era por causa da cor da sua pele? “Naqueles meses em que estive grávida, havia preocupações e conversas sobre o quão escura iria ser a sua pele quando nascesse”, uma resposta que deixou Oprah Winfrey perplexa e a levou a questionar que membros da Família Real estiveram envolvidos nessas discussões e nas quais Meghan não esteve presente. “Acho que isso iria ser prejudicial para eles.”
Questionado novamente por Oprah Winfrey sobre o teor dessas conversas e que membros estiveram envolvidos nas discussões sobre a cor da pele de Archie, Harry negou-se a responder, afirmando que “essa conversa é algo que eu nunca vou revelar” e que esse é um tema que o deixa "desconfortável".
“Eu não queria mais estar viva”. O pedido de ajuda que lhe foi negado
Após falarem sobre a digressão real que o casal fez pela África do Sul, em 2019, e que ficou para a história por Meghan afirmar que ninguém lhe pergunta se estava bem, a ex-atriz refere que há muito tempo que receava pela sua sáude mental.
“Não via uma solução. Ficava sentada à noite, a pensar como é que isto estava a ser tão turbulento... […] Tive vergonha de o dizer na altura, de o admitir, especialmente ao Harry, porque sei as perdas que ele sofreu, mas sei que se não o dissesse, que o faria. E eu não queria mais estar viva. E isso foi um pensamento claro, real, assustador e constante”, disse sobre a época em que teve pensamentos suícidas e que a levaram a pedir ajuda à Instituição.
Após ter “suplicado” que lhe fosse dada a possibilidade de dar entrada numa clínica para tratamento, Meghan explica que isso lhe foi negado de forma a não por em causa a imagem da Família Real. “O meu coração está contigo porque vejo o quão mau é, mas não há nada que possamos fazer para te proteger porque não és um membro pago da Instituição”, recorda sobre a resposta que lhe deram na altura e como trataram o tema.
“Fui a todos os sítios que achava que devia para pedir ajuda, fomos os dois juntos e separadamente”, refere Harry sobre esta altura particularmente difícil na sua vida enquanto casal e que “não estava preparado” para a revelação feita pela mulher que decidiu não partilhar com mais ninguém da realeza. “Tinha vergonha de admitir isso perante eles. E porque não sei se eles experienciaram os mesmos sentimentos ou tiveram os mesmos pensamentos.”
"Triste" e "magoado" foram os adjetivos escolhidos por Harry para descrever a falta de ação da família perante os ataques de que Meghan foi alvo por parte da imprensa. A discriminação racial "foi o gatilho para eu começar a ter estas conversas com o staff sénior do Palácio e com a minha família e dizer que isto não vai acabar bem para ninguém.”
Será que Harry e Meghan têm medo da reação da família real?
“Não vou viver a minha vida com medo. Não sei como é que eles esperavam que, depois deste tempo todo, nós ficaríamos calados enquanto "A Firma" tem um papel ativo em perpetuar mentiras sobre nós. Chega a um certo ponto em que alguém tem de dizer a verdade”, explica a ex-atriz que espera que, com esta entrevista, o público e o mundo “saiba que há um outro lado, que a vale a pena viver a vida”.
O segundo bebé: uma menina
O casal, que está à espera do seu segundo filho, revelou em exclusivo que está à espera de uma menina que deverá nascer no verão.
O casal, ao mudar-se para a Califórnia no início de 2020, perdeu todas as mordomias da família real: apoio financeiro, segurança e residência oficial. “A nossa maior preocupação foi que enquanto estávamos no Canadá – na casa de outra pessoa - disseram-me que íamos ficar sem proteção e, por cortesia do Daily Mail, o mundo inteiro sabia a nossa localização exata. De repente caí em mim: as fronteiras podem ficar fechadas, vamos ficar sem segurança, quem sabe quanto tempo vai durar o confinamento, o mundo sabe onde estamos. Não é seguro e provavelmente temos de sair daqui”.
Apesar do risco de ameaça iminente sobre o casal e de não estarem em segurança, Harry refere que a proteção a que estavam habituados foi-lhes negada “devido à mudança de status, uma vez que não iríamos ser membros ativos da família real” e que o apoio do ator, produtor e amigo Tyler Perry foi fundamental nesta altura de mudança e adaptação na vida do casal.
A relação de Harry com a avó, o pai e o irmão
“Falei mais com a minha avó nos últimos 12 meses do que em todos estes anos”, disse Harry sobre a boa e forte ligação que mantém com Sua Majestade e que tem acompanhado o crescimento do neto.
Questionado sobre a relação com o pai, que na altura em que abandonaram a família real deixou de atender as suas chamadas, Harry faz uma pausa visivelmente pensativo. “Há muita coisa que precisa de ser trabalhada… Sinto-me muito desiludido porque ele passou por algo semelhante. Sabe o que é passar por momentos de dor e o Archie é o neto dele. E claro que sempre o vou amar mas passaram-se muitos momentos dolorosos e vou continuar a fazer disso uma das minhas prioridades: tentar recuperar essa relação”, diz.
Sobre William, cuja relação e afastamento foi muito falado pela imprensa, “amo-o muito, é meu irmão, passamos por muita coisa juntos”, “mas estamos em caminhos dferentes”, deixando claro que esse é um tema que ainda irá dar que falar.
Megxit: os motivos que levaram Harry e Meghan a deixar o Reino Unido
O casal explica que apesar de continuarem a ser parte da família, o seu plano era retirarem-se enquanto “membros séniores da realeza” e evitar que Meghan – que era a maior preocupação do príncipe - tivesse o mesmo fim que a mãe, a falecida princesa Diana. “E o que estava a ver era a história a repetir-se mas de uma forma mais perigosa porque adicionamos a questão racial e as redes sociais a isso.”
A desvalorização de toda a situação - “disseram-nos continuamente que é assim que as coisas são” - foi o ponto de viragem para Harry que aponta “a falta de apoio e compreensão” por parte dos tablóides britânicos e da "Firma" como os motivos que o levaram a abandonar a realeza. Mas será que Sua Majestade foi apanhada de surpresa com a decisão do casal? “Nunca apanhei a minha avó de surpresa. Tenho muito respeito por ela”, que refere que teve conversas com a Rainha e o pai, Carlos, sobre aquilo que estavam a planear fazer.
Megxit foi o nome dado a esta crise sem precedentes na família real e que, segundo a imprensa, terá sido criada e orquestrada por Meghan Markle. Mas o que é que a duquesa de Sussex tem a dizer a este respeito? “Eu deixei a minha carreira, a minha vida. Eu deixei tudo porque o amava, certo? E o nosso plano era fazer isto para sempre. […] Mas também não houve orientação. Havia certas coisas que não podíamos fazer, mas isto não é como nos filmes em que temos aulas em como falar, cruzar as pernas e aprender a ser da realeza. Isso pode existir para outros membros, mas isso não me foi oferecido.”
O casal salienta que se isto tivesse sido gerido de outra forma e tivessem tido o apoio que necessitavam que "sem dúvida alguma" de que ainda estariam a viver no Reino Unido e que ainda continuariam a fazer parte da Família Real.
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