'Encontrei o Amor Onde Menos Esperava': eis o novo romance de Fátima Lopes que marca o regresso da apresentadora à escrita, uma das suas grandes paixões. Estivemos à conversa com a comunicadora, que vive uma fase particular da sua vida na sequência da saída da TVI.

Conta-nos que agora está dedicada a outras paixões, que sempre teve, mas às quais não tinha tempo para se dedicar como queria.

Fátima Lopes revela-se segura de si mesma, confiante nas suas capacidades e no futuro, apesar de todas as mudanças drásticas por que passou.

A televisão não foi colocada de lado, pelo contrário. A apresentadora sabe que um dia regressará à caixinha mágica onde cresceu e conquistou o coração do público. Mas isso acontecerá no tempo certo, até porque recebe de braços abertos os desafios da vida, sem nunca olhar para trás.

O novo livro da Fátima Lopes representa um regresso ao romance. Este género literário traz-lhe um particular gosto?

Gosto de escrever sobre géneros diferentes. Já tinha saudades do romance. Tinha vontade de criar histórias e pessoas. Dá-me particular satisfação porque é realmente fazer nascer alguém. É muito desafiante.

A graça do amor está aí, em não o encontrarmos assim de uma forma previsível, porque senão acho que parte da magia se diluía

E, de facto, encontra-se o amor onde menos se espera?

Acho que sim. Se olharmos e ouvirmos as histórias de muitas pessoas à nossa volta percebemos que grande parte das vezes aconteceu quando menos se esperava ou então com alguém que nunca se pensou. A graça do amor está aí, em não o encontrarmos assim de uma forma previsível, porque senão acho que parte da magia se diluía.

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Capa do novo livro de Fátima Lopes© DR

Qual é a história do livro?

A protagonista chama-se Sofia, uma mulher que aos 49 anos não é casada, não tem filhos nem nunca teve, não tem irmãos e perdeu a mãe. Chega a uma fase da vida dela em que profissionalmente está muito bem, tem os seus amigos, mas sente que há ali um vazio dentro dela e um propósito que precisa de encontrar. Então, decide fazer uma grande mudança na vida dela. Deixa Lisboa e vai para o Alentejo, para a casa que era dos avós maternos e que está fechada há muitos anos, e resolve reconstruir esta casa e com isto reconstruir-se a ela própria. Vai para um sítio onde não conhece ninguém e começa do zero.

A reconstrução desta mulher é que é o bonito deste livro. No fundo, está cheio de lições e reflexões para que outros possam pensar se realmente não conseguirão fazer uma grande mudança nas suas vidas para ficarem pessoas mais felizes.

E há muitas Sofias por aí, não é?

Ui! Sofias e 'Sofios' [diz, entre risos].

A mudança não é necessariamente má, ela normalmente é assustadora

Porque é que as pessoas precisam de ler este livro?

Porque é transformador, e quando digo transformador é porque nos leva a pensar primeiro no amor próprio. Quando aqui se diz 'encontrei o amor onde menos esperava' estamos a falar disso.

As pessoas estão a precisar de fazer esse trabalho interior, de ir atrás do amor próprio. Este livro nota a importância da mudança. A pandemia ensinou-nos que as coisas podem mudar num abrir e fechar de olhos, num estalar de dedos, e nós podemos ter de nos reinventar. A mudança não é necessariamente má, ela normalmente é assustadora. Por isso é que dediquei este livro àqueles que se atrevem a mudar. Mesmo quando se começa um caminho totalmente do zero ele pode-nos trazer muitas alegrias e muitas aprendizagens. É aceitar só que é um caminho.

As pessoas que não têm amor próprio estão sempre à espera da validação dos outros e isso é muito complicado

E o amor próprio é capaz de salvar?

O amor próprio não é capaz de salvar, ele salva-nos. As pessoas que não têm amor próprio estão sempre à espera da validação dos outros e isso é muito complicado, porque às vezes existe validação e outras vezes não existe. Não posso dar à minha vida a cor que os outros decidem que ela tem. Tenho de ser eu a saber o valor que eu tenho, as capacidades, as fragilidades, as dificuldades e a pôr-me no centro das atenções.

As pessoas que andam ao sabor dos outros têm normalmente muito mais razões para viver a infelicidade. Muitas vezes os outros de uma forma precipitada, gratuita, ou de uma forma até pouco humana criticam por criticar e não nos olham com olhos de amor. É um caminho, ninguém sabe tudo. Esta humildade é bom que a tenhamos sempre. É um dia de cada vez.

E a Fátima sempre foi assim ou é algo que se vai aprendendo?

Vai-se aprendendo. Eu não era assim, aprendi a ser assim. Fui fazendo formações na área do desenvolvimento pessoal que me ajudaram com muitas ferramentas de autoconhecimento. Fiz um trabalho com uma psicóloga durante alguns anos onde não só trabalhámos a parte da psicoterapia mas também muito coaching. Mas também passei pela aprendizagem de uma série de ferramentas que me ajudam a estar mais forte, mais robusta interiormente, a saber perceber melhor o que se passa à minha volta e a não estar dependente dos outros, a ser capaz de decidir eu. As dependências são todas muito perigosas, sejam elas quais forem e as afetivas estão incluídas.

O mais fácil seria ficar onde se está, mesmo que no momento não nos sintamos felizes, não nos sintamos bem, partir é o mais difícil

Essas ferramentas foram fundamentais para enfrentar aquilo por que passou ao longo dos últimos meses?

São úteis sempre, mas obviamente que para ter a coragem de fazer o que fiz se calhar só é possível com estas ferramentas. O mais fácil seria ficar onde se está, mesmo que no momento não nos sintamos felizes, não nos sintamos bem, partir é o mais difícil. Quando temos estas ferramentas acreditamos que vamos conseguir construir algo novo, e que vamos conseguir abraçar outro caminho, porque confiamos em nós.

Eu confio em mim, tenho noção das minhas capacidades e das minhas potencialidades, sei a profissional que eu sou, sei a forma como me entrego aos projetos e como os abraço. Sabendo estas coisas todas posso dizer que tenho esperança em mim, então, tendo essa esperança posso abraçar um outro caminho.

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Fátima Lopes evidencia a importância das ferramentas de autoconhecimento que foi adquirindo com o passar dos anos© DR

Não estava feliz na TVI?

Não, não estava, se estivesse teria ficado.

Para as pessoas que querem fazer uma grande mudança e estão com medo, o que é que a Fátima lhes aconselharia neste momento?

Primeiro ter-lhes-ia de dizer que o medo é natural, faz parte do processo.

Mas não deve ser um impedimento...

Não deve ser é bloqueador, ter medo é só normal. É humano. O que não podemos é ficar no medo, porque tem esta capacidade de nos bloquear caminhos. Não há nada pior do que a consciência de que nem sequer tentámos.

[A saída da TVI] Teve que ver com um somatório de emoções que aconteceram ao longo dos últimos dois anos e que não me levaram a outra decisão senão à de sair

Como é que ganhou a consciência de que estava na hora de mudar?

As coisas não foram assim, de ganhar consciência. Teve que ver com um somatório de emoções que aconteceram ao longo dos últimos dois anos e que não me levaram a outra decisão senão a de sair. Vão-se somando as coisas, pensando nelas, vai-se refletindo, até porque eu sou uma pessoa que penso sempre imenso, não sou de impulsos e, a partir daí, quando percebo que a situação não é aquela que me faz feliz tenho de enfrentar o medo e tomar uma decisão, mas isto é um processo, é sempre um processo.

Nunca se age de cabeça quente.

Cada um age de acordo com a sua forma de pensar, com os seus valores, não há duas pessoas com uma personalidade igual. Há pessoas que agem de cabeça quente, à primeira situação arrumam as botas e vão-se embora, eu não sou assim. Penso imenso nas situações, durmo sobre o assunto, peso os prós e os contras, analiso, sou das que levo bastante tempo a tomar as decisões que são muito importantes na minha vida. Quando está a decisão tomada, está tomada.

Ficou em paz com a decisão que tomou?

Sim.

A reação do público surpreendeu-a? A Fátima foi muito acarinhada e compreendida...

Não, porque acho que o público me conhece, eu sou muito coerente, compreenderam.

Quando fui à TVI dar uma entrevista entrei tranquilamente. Não sou nada dada a nostalgias, não tem nada que ver comigo

Na passada semana regressou à SIC para uma entrevista com Júlia Pinheiro. Esse momento foi nostálgico?

Não, sou extremamente pragmática. Fecho a porta e está fechada. Quando fui à TVI dar uma entrevista entrei tranquilamente. Não sou nada dada a nostalgias, não tem nada que ver comigo. Ir à SIC teve um lado bonito que foi rever uma série de colegas que trabalharam lá comigo durante muitos anos e foi uma festa reencontrar uma série de gente, foi bonito.

Então a Fátima não é daquelas pessoas que se pudesse voltava atrás...

Não, não, essa coisinha do 'coitadinho, ai', não tenho mesmo paciência para isso. A vida é feita como é, eu aceito-a, aceito que tudo tem um propósito e um tempo para acontecer, mesmo quando é uma situação dolorosa. Não vivo a vida com a cabeça virada para trás, mas sim com a cabeça virada para a frente.

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"Não vivo a vida com a cabeça virada para trás, mas sim para a frente", diz a apresentadora© DR

Disse na entrevista com Júlia Pinheiro que não gosta tanto do lado da exposição da sua profissão, do lado da fama. Há pessoas que adoram e a Fátima não. Porque é que não gosta? Existe um fascínio pelas figuras que estão na televisão por parte do público...

Utilizou a palavra certa, essas pessoas têm só fascínio, não sabem a realidade do que é ser conhecido e as implicações que isso tem nas nossas vidas. Quem gosta de ter uma vida relativamente privada e feita com alguma liberdade e com respeito (por mim própria e pelos meus), dificilmente aprecia esse lado da exposição pública. É uma circunstância que está associada ao nosso trabalho e eu aceito isso, não me causa nenhum tipo de peso, pelo contrário. Mas depois é preciso saber gerir bem as fronteiras. Há áreas da nossa vida que precisam de ser só nossas por uma questão de sanidade mental.

Não passei a trabalhar menos, trabalho o mesmo ou mais, faço é coisas diferentes com horários e equipas diferentes

E agora com esta nova vida, quais as vantagens de não ter um horário fixo com um programa todos os dias?

Tem a ver com a liberdade de fazer a minha agenda de maneira diferente, porque posso agendar os compromissos, as reuniões, as coisas que tenho de uma forma distinta, mas tudo com a mesma responsabilidade e com o mesmo grau de envolvimento. Não passei a trabalhar menos, trabalho o mesmo ou mais, faço é coisas diferentes com horários e equipas diferentes.

Não terminei a minha carreira como apresentadora, estou é a pôr em prática outras valências que tenho e que podia não ter

É seguro dizer que está a concretizar sonhos antigos?

É absolutamente certo. Isto não quer dizer que um dia não vá voltar à televisão, claro que sim, tenho a certeza que isso vai acontecer, não terminei a minha carreira como apresentadora, estou é a pôr em prática outras valências que tenho e que podia não ter.

Há algum projeto que lhe esteja a dar mais gosto?

Todo o trabalho à volta do meu livro, as gravações do 'Ó Chef', o trabalho de consultora de comunicação em algumas empresas, os webinars nas faculdades, são tudo coisas diferentes e atraentes e o bonito é isso, é não conseguir eleger uma.

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Desde a sua saída da televisão que Fátima Lopes tem vindo a concretizar sonhos antigos© DR

Mas deverá ser ótimo acordar e saber que se irá concretizar uma série de projetos.

Faço por isso, é mérito meu.

E isso muitas pessoas também não entendem: que a sorte dá trabalho.

Aconselho toda a gente a ler um livro que se chama 'Boa Sorte'. É muito pequenino, mas explica o que é isto da sorte. É o resultado de um imenso trabalho, imenso empenho, o não aceitar que não é possível e ir sempre à procura de uma janela de oportunidade.

Como é que viveu a pandemia? Foi um tempo difícil ou conseguiu gerir as emoções?

Foi difícil como foi para toda a gente. No ano passado tive de colocar os meus filhos e os meus pais no Alentejo para poderem estar seguros, só estava com eles ao fim de semana e para mim era bastante difícil, graças a Deus correu tudo bem, ninguém ficou doente.

No confinamento deste ano já foi diferente porque mantive a minha família cá em Lisboa, já estava fora da televisão, pude dar-lhes todos o acompanhamento e apoio que eu, enquanto cuidadora, gosto de dar, e portanto foi difícil, mas teve o lado bom de estarmos ainda mais unidos e mais próximos e de sabermos que podemos contar uns com os outros. É extremamente valioso, não teve tudo de mau, teve muitas coisas boas também.

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