'Não Me Chamem Bom Pai' reúne um leque de confissões que Nuno Graciano escolheu partilhar com o público no ano em que completa 50 anos.

O antigo apresentador dá a conhecer as maiores batalhas que enfrentou nos últimos três anos afastado da televisão: A saída do pequeno ecrã, a mudança de profissão, o divórcio, a boa performance enquanto pai de quatro filhos.

“Ser pai já engloba a excelência”, afirma. Mas de que mais é feito o homem que foi a companhia do país durante mais de duas décadas? Hoje sente-se mais forte e conta-nos porquê.

Está aqui a sua verdade, sem rodeios. Sentiu necessidade de a repor?

Senti. Quer queiramos quer não, nestas profissões, começam a surgir ambientes e pessoas tóxicas e essas pessoas tentam subverter aquilo que é a realidade. Então, de vez em quando, acho importante pôr os pontos nos ‘is’. Para aqueles que não me conhecem ficarem com a certeza absoluta daquilo que eu sou.

Não faço televisão há quase três anos e as pessoas continuam a tratar-me como se fosse lá de casa

Há muita gente que gosta de si e quer saber mais…

A partilha sempre. A minha vida é uma vida pública. Não vale a pena acharmos que devemos usar a imprensa só para os momentos cor-de-rosa. Nem acho isso justo. Quando se faz programas de ‘day time’ é inevitável que a nossa vida seja pública. Não faço televisão há quase três anos e as pessoas continuam a tratar-me como se fosse lá de casa.

Começa este livro precisamente por aí, pela saída da televisão. Porquê falar deste tema logo no primeiro capítulo?

Era uma justificação que faltava às pessoas. A minha saída da televisão foi uma coisa um bocado pateta, ninguém percebeu o que aconteceu. E se na altura quem devia ter tido responsabilidade de perceber que tem de haver respeito pelo público não teve, tive eu de ter esse respeito pelas pessoas. Costumo dizer que o meu patrão é o público. Tive de dizer às pessoas que não foi uma opção minha não me ter despedido delas. Não me foi dada essa possibilidade.

Isso foi o mais difícil?

Foi a única coisa que me custou, rigorosamente mais nada.

Escreveu: “No fundo a televisão que eu estava a fazer não era a televisão que eu queria fazer”. O que é que falhou nesse projeto profissional?

Tem a ver com linhas editoriais. Sou uma pessoa bem disposta, divertida e gosto de liberdade de expressão.

Sentiu que estava num meio com pouca benevolência para com quem se ‘atreve’ a ser verdadeiro?

Acho que há momentos na nossa vida em que nos tentam cortar as pernas. Ou nos tentam domar e eu não sou domável.

Na verdade, senti-me muito perdido. Mas houve um ‘clic’ e percebi que tinha de me reinventar imediatamente

Confessou que sentiu medo de “defraudar a imagem do tipo bem-sucedido”. O que guarda desse período?

Uma angústia gigante. Muitas incertezas. Foi nessa altura que percebi o quão frágil eu era. Esta imagem forte, sólida. Os meus amigos e as pessoas próximas acham que sou sempre a rocha, mas a rocha também sofre. Na verdade, senti-me muito perdido. Mas houve um ‘clic’ e percebi que tinha de me reinventar imediatamente. Já estava a sustentar a ideia do ‘Tio Careca’ [marca de queijos da serra], por isso foi só pôr em prática. Utilizei o dinheiro que tinha e o que não tinha pedi aos meus amigos para começar um novo projeto. Foi dar o exemplo aos meus filhos das voltas que o mundo pode dar.

Eu podia ter ficado numa televisão qualquer, a opção é que não estava certa para aquilo que é a minha felicidade. A vida, tanto quanto eu a conheço, não é um ensaio geral. Só temos uma vida e é para ser bem vivida. Devemos fazer das grandes fraquezas forças. E isto não é para ter nenhuma coroa de glória. Isto é a realidade da maioria das pessoas. A minha preocupação foi explicar aos demais: ‘Da mesma forma que ficaste desempregado, eu também’. E acho que foi bem percebido, ninguém interpretou como uma queixa.

Abandonou a profissão que exercia há 23 anos para se dedicar à produção de queijos da serra. Uma mudança inspirada numa personalidade marcante da sua vida, a avó Celeste…

A minha avó Celeste é a minha guia. Acredito em Deus e acho que a minha avó está constantemente aqui. Num momento em que estava muito triste, ela mostrou-me o caminho. A minha avó era a pessoa mais franca do mundo. Não conseguia mentir, eu consigo. No essencial da minha vida não sou mentiroso, mas às vezes uma mentirinha… A minha avó não era capaz.

Essa transparência é notória no livro. Não se inibiu, por exemplo, de escrever que pediu ajuda financeira a amigos. Houve alguma parte tenha sido mais difícil de decidir se seria publicada?

Em relação a posições radicais que tenho. Por exemplo, na fidelidade. Acho que ninguém é fiel, fazemos todos um esforço pela cultura em que vivemos. Há períodos de fidelidade longos e até para sempre, mas dá um trabalho enorme.

Portanto, foi com estes chavões sociais [que estive mais reticente]. Quantos colegas meus não têm clube de futebol nem partido político para não machucar ninguém? Mas eu não sou assim.

Sabia que iam sair notícias sobre a separação. Eu e a Bárbara já estávamos a viver em casas diferentes

Foi esse sentimento que o fez também anunciar a separação de Bárbara Elias uma semana antes do lançamento deste que é um autêntico poço de confissões?

Só fazia sentido nessa altura. Sabia que iam sair notícias sobre a separação. Eu e a Bárbara já estávamos a viver em casas diferentes. Sabia que isso ia acontecer, recebia telefonemas. E pensei: hoje em dia com as redes sociais, quem controla da informação sou eu. [Se não fosse naquela altura] depois ia lançar o livro e o foco, em vez de ser o livro, ia ser a separação. Por isso, nada como esclarecer.

O nome de um dos capítulos é 'A separação é um erro'...

E até vou dizer mais: No dia em que recebi o livro físico, folheei e foi nessa página que abri. Uma separação é sempre um erro. Ninguém se casa ou se junta a pensar que um dia vai acabar.

Como se gere isso perante uma vida mediática?

Com verdade. Estou a redescobrir-me. Desde muito novo que não estou um período sozinho e neste momento estou. Sinto-me bem sozinho.

E por falar em fases, completa este ano o 50.º aniversário. Com tanta mudança a nível pessoal e profissional, como se sente?

Não ligo nenhuma [à idade]. Claro que vou fazer uma festa com muita gente, porque faço sempre de 10 em 10 anos. Mas na verdade não ligo muito à idade porque acho que isso é o que temos na cabeça. Os meus pais passam a vida a dizer que eu não cresci. Às vezes vou na rua com os meus filhos e começo a tocar às campainhas e a fugir.

Não sou para ninguém, em nada, um meio termo. Ou me detestam - e gosto de ter essas pessoas, até para me verem vencer - ou me adoram

Essa festa que idealiza é também uma forma de rematar este ano tão marcante?

Este ano tem de ser rematado. É um ano de ciclo, tenho mesmo de o fechar. Na vida todos precisamos de fechar ciclos. Com muita regularidade faço balanços na minha vida. Não todos os dias porque às vezes prefiro não pensar muito e ‘chutar para a frente’.

É uma pessoa impulsiva…

Sou ‘hiper impulsivo’. Não sou para ninguém, em nada, um meio termo. Ou me detestam - e gosto de ter essas pessoas, até para me verem vencer - ou me adoram.

Recorda alguma situação caricata em que tenha sido ‘vítima’ dessa impulsividade?

Sou muito criticado, por isso posso dizer o que me apetecer. Mas às vezes penso que era escusado dizer algumas coisas porque magoei alguém gratuitamente.

No livro deixa explícito que o nascimento do Gonçalo, primeiro filho, foi o ponto de viragem. O que é que se ganha e o que é que se perde com a paternidade?

Perde-se descanso, a capacidade do sono profundo. Perde-se alguma privacidade. Ganha-se tudo o resto. O amor eterno. Só a sensação de seres atingido pelo sentimento maior… O que é que ganhas depois disso? Não precisas de mais nada.

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Tem quatro filhos, qual o mais parecido consigo?

O Tomás [segundo filho, fruto do relacionamento com Patrícia Chester]. É um pirata. Já partiu sete vezes a cabeça e o queixo. Só faz asneiras. E a piolha, a Maria, vai na mesma linha. A Matilde e o Gonçalo são mais pragmáticos.

Diz também que as relações com os filhos começaram a mudar com o seu crescimento. “Deixei de os levar à escola para os ir buscar às saídas à noite”. É um pai ‘para a frente’?

Quando o meu filho Gonçalo vai beber copos quer que eu vá com ele, está maluco. Mas aí já sinto a idade, já não consigo acompanhar.

Viveu a primeira separação como vive esta?

Não, mudou tudo. Consigo ponderar mais e equilibrar mais as coisas e a mim mesmo.

Ninguém se torna pai, quando os filhos nascem percebe-se logo

A boa relação com as mães dos seus filhos foi um exemplo que aprendeu do seu pai?

Tem muita influência. Mas também tem a ver comigo, com a minha forma de estar.

O principal mote deste livro é que a paternidade por si já engloba a excelência.

Um pai é sempre um bom pai. Os progenitores são uns merdas. Ninguém se torna pai, quando os filhos nascem percebe-se logo.

É fácil dar a devida atenção a quatro filhos com personalidades diferentes?

Não, esqueces-te de ti. Mas se me perguntarem: preferes ter o teu tempo ou tempo com eles? Tempo com eles, com certeza. Mas gosto muito de estar sozinho e isso também é ser pai.

“Se amanhã voltar a mudar tudo outra vez, eu e os meus filhos temos as malas feitas (...) Prontos para tudo. Prontos para a vida” (frase com que finaliza o livro). Deixou de ter medos?

Não tenho medo nenhum, de nada nem de ninguém. Mesmo.