O criador de moda Miguel Vieira aceitou o convite de uma conceituada cadeia de retalho para criar uma linha desportiva exclusiva. A coleção Sport Zone + Miguel Vieira Powered by Portugal Fashion, à venda em 12 lojas selecionadas desde a segunda quinzena de abril de 2017 depois de lançada inicialmente apenas online, apresenta peças para quatro modalidades, corrida, ténis, ciclismo e combate.

Em entrevista ao Modern Life/SAPO Lifestyle, o estilista, que anda atualmente ocupado com os preparativos para a apresentação da nova coleção para a primavera/verão de 2018, explica onde foi buscar a inspiração, fala sobre os negócios que as feiras especializadas onde costuma marcar presença geram e ainda comenta o panorama atual do setor.

Como é que encarou o desafio de criar a sua primeira coleção de moda desportiva?

Encarei-o com muito otimismo. Eu não sou um homem de desporto. Não sou um homem que faça desporto. Mas acho que é preciso dar uma nova roupagem à área desportiva. Achava, sobretudo, que era muito importante haver uma moda de autor numa área como estas, algo que já está a acontecer internacionalmente com vários designers internacionais.

A esse nível, foi muito simpático este convite. Foi bastante estudioso porque existem matérias-primas completamente diferentes das que costumo trabalhar, coisas muito mais técnicas para cada uma das modalidades. Mas estou muito contente com o resultado, que está maravilhoso.

Em que é que se inspirou para criar esta coleção?

Basicamente, peguei no conceito Miguel Vieira. Não quis fugir muito das cores que as pessoas me associam mais, como é o caso do preto e do branco. No entanto, quis dar um apontamento mais luxuoso e, nesse luxo que queria imprimir às peças, era muito importante ter apontamentos de dourado. Todas as linhas têm esses apontamentos, que não são muito usuais nesta área.

Se tivesse que eleger uma peça como a sua favorita, conseguia ou era difícil?

Conseguia! Eu, nas primeiras reuniões que tive antes de começar a desenhar a coleção, havia um elemento, que não é uma peça de vestir, de que eu gostava mesmo muito e que queria muito ter nesta linha, que é o saco de boxe. Acho que tinha tudo muito a ver comigo, porque era em pele e tinha as correntes... Gostava de dar um ar de design a um produto que, muitas vezes, não é encarado nessa perspetiva. Essa peça, para mim, é maravilhosa.

É mais difícil desenhar a moda que faz habitualmente do que moda desportiva?

Não, é igual. O grau de dificuldade é semelhante. Aqui, o único problema que se coloca são os tecidos técnicos e as especificidades necessárias para cada uma das modalidades, daí que hajam muitos detalhes, como é o caso dos tecidos respiráveis, dos tecidos impermeáveis, os refletores... Há mil e um pormenores...

Os bolsos para as bolas nos calções de ténis que criou...

Exatamente... São coisas que são muito simpáticas e que também, no fundo, dão para avivar a memória. Permitem-nos fazer um estudo pormenorizado sobre cada uma dessas modalidades...

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E, em relação a novos projetos, o que é que está a fazer?

Estou, neste momento, a mil à hora. As pessoas têm sempre muito a ideia que o grande foco de trabalho são os desfiles. Eu, este ano, fiz Nova Iorque, fiz Milão, fiz o Portugal Fashion e as pessoas acham sempre que, agora, depois disso, já posso descansar. Mas este momento é o pior, porque estamos em abril e eu, em junho, tenho de ter a minha nova coleção para a primavera/verão de 2018 pronta para, depois, a apresentar nas fashion weeks todas.

O que é que pode adiantar já em relação a essa coleção?

Não posso adiantar nada... [risos] Posso só adiantar que vai ser muito gira. Vão gostar muito...

A aposta que tem feito nas semanas de moda internacionais tem dado frutos?

Há um feedback gigante...

E está a materializar-se em termos de negócios?

Sim, está, obviamente. Muitas vezes, esse negócio não é visível no imediato. É, muitas vezes, algo que tem de se construir a longo prazo. É o que eu tenho feito durante estes anos todos. Nunca quis que as coisas acontecessem de forma muito rápida. Passo a passo, as coisas têm acontecido.

Em Milão, por exemplo, muitas vezes passa um cliente do Uruguai, da Sérvia ou dos EUA que viu notícias sobre mim nos seus países, nos blogues e nas revistas, e que tem logo uma adesão muito maior às coleções.

Como é que vê a moda em Portugal neste momento? Se tivesse que fazer uma análise, o que diria?

Há imensas ideias novas atualmente mas acho, sobretudo, que tem que haver uma aposta maior na parte comercial. Os designers têm de pensar todos na moda como um negócio. Ponto! Basicamente, é isso.

Texto: Luis Batista Gonçalves