A atriz e encenadora Maria do Céu Guerra manifestou-se hoje "muito triste" com a morte do encenador Carlos Avilez, considerando-a uma "grande perda" para quem o conheceu e uma "enorme perda" para quem não o conheceu.

"Ele deu a tanta gente tanto da cultura teatral. Penso que devem ter sido muito poucas as pessoas que deram tanto ao teatro português, ele deu a sua vida ao teatro", frisou a atriz e encenadora sobre a morte de Carlos Avilez, hoje, aos 88 anos.

Por isso, o desaparecimento de Carlos Avilez representa uma "grande perda" para quem o conheceu e conhece a dimensão do seu trabalho; por isso, é também uma perda maior, uma "enorme perda" para quem não o conheceu e não conseguiu tomar contacto com a dimensão desse trabalho.

Maria do Céu Guerra começou a trabalhar com Carlos Avilez em 1965, no início do Teatro Experimental de Cascais (TEC), criado nesse ano, e desde aí manteve "uma amizade que nunca deixou de ser forte, bela, estimulante".

"Trabalhei seguido com ele não chegou a sete anos e foi pouco; tenho muita pena de não ter trabalhado mais", observou, salientando o que o encenador lhes dava "de inteligente, culto, generoso, de leal, de amigo, de rigoroso".

A atriz e encenadora lembrou o que Carlos Avilez deu ao teatro com a criação do TEC, ao "desenvolvimento daqueles jovens todos que se aproximavam dele, à transformação do teatro", porque, apesar de o teatro já estar "a ferver naquele tempo", Carlos Avilez foi sempre "muito avançado para o seu tempo".

Maria do Céu Guerra afirma que Carlos Avilez nem sempre "teve o reconhecimento que merecia", embora a partir de determinada altura passasse a tê-lo "felizmente", disse.

"Era único. Nunca o ouvi dizer 'eu' de uma forma enfática como tantas vezes acontece no teatro. Porque trabalhava o seu 'eu' em cima do palco, com os seus atores, que ele conhecia tão bem, que ele aprofundava tanto, com tanta atenção, que dava a cada ator uma atenção, um conhecimento, um carinho".

Maria do Céu Guerra sublinhou que quando eram jovens "todos se sentiram apoiados e protegidos" por Carlos Avilez, ainda que ele "só tivesse mais meia dúzia de anos" que eles.

"Mas era generoso porque sabia que sabia mais e tinha sempre ideias que faziam avançar o projeto em que ele se tinha empenhado com 29 anos", observou.

Fazia sempre avançar o projeto do TEC, ora trabalhando só com os jovens, ora juntando ao elenco nomes com experiência que também os ajudavam a crescer, como "a Sr.ª D. Amélia Rey Colaço, a Eunice, o João Guedes", entre outros.

"E ele deu a conhecer tão bom teatro ao nosso país. Ali, em Cascais, sem vaidades, sem exageros. Ele", concluiu a cofundadora da companhia A Barraca.

Carlos Avilez morre hoje, aos 88 anos, em Cascais, distrito de Lisboa.

Carlos Vitor Machado, conhecido por Carlos Avilez, nasceu em 1935 e estreou-se profissionalmente como ator em 1956, na Companhia Amélia Rey Colaço - Robles Monteiro, onde permaneceu até 1963.

Dois anos depois, em 1965, fundou o Teatro Experimental de Cascais.

Com uma vida dedicada ao teatro, estreou no sábado a sua última encenação: "Electra", a partir da trilogia "Electra e os fantasmas", de Eugene O'Neill, que ficará em cena na Academia Artes do Estoril, no Monte Estoril, Cascais, até 17 de dezembro.

Leia Também: Ruy de Carvalho despede-se de Carlos Avilez. "Dos maiores encenadores"