Em dia de reis, Manuel Luís Goucha relembrou algumas memórias de infância, nomeadamente, a chegada do mítico cabaz de Natal, da revista Eva.

"Com o dia de hoje fina-se a quadra das festas, que vai do Natal aos Reis, e foi ao olhar para o meu pinheiro que ainda tremeluz, pelo menos por mais meia dúzia de horas, que me recordei do cabaz de Natal da revista Eva, que chegava sempre em Dezembro com tudo o que seria necessário para a mesa da consoada e mais uns quantos brindes, e para isso a minha mãe havia contribuído antecipadamente com dez mensalidades", começa por escrever.

Entretanto, o apresentador explica porque este cabaz era tão importante para a sua família:

"Era uma festa, antes de todas as demais, até porque não sabíamos ao certo o que o cabaz traria. Sabia-se sim, oxalá a memória não me traia, que havia três categorias de cabazes e o preço, a pagar em prestações, tinha a ver com o recheio de cada um deles. Um era mais acessível, com os produtos básicos exigidos pela mesa da festa, onde não poderia faltar o bacalhau, o azeite, o vinho do Porto e algumas gulodices... Já na opção do meio encontraríamos tudo isto e mais ainda, sem esquecer os brinquedos para o menino e para a menina. O melhor dos cabazes era, necessariamente, o de “luxo”, por isso “pró carote”, e é desse que me recordo mais de quarenta anos passados. Não pelo bacalhau, pelos frutos secos, pelos beberes, tampouco pelos presentes, que os havia para todos os elementos da família, mas sim por um peru vivo que dele fazia parte".

Entretanto recorda o fatídico momento em que se tinha de pôr termo à vida de peru:

"Naquela casa não mais se teve sossego até à desdita do dito. Não por causa do seu insistente gorgolejar, mas porque alguém teria, três dias depois, de cumprir a tarefa de o embebedar e sacrificar. Ainda por cima tanto eu como o meu irmão ter-lhe-emos ganhado alguma afeição, talvez o tenhamos encarado como o nosso primeiro bicho de estimação, que o foi de facto. Teve de ir alguém de fora para o fazer, que os da casa não tiveram tal coragem. Certo é que, no dia de Natal, foi grande a choradeira ao perceber que na mesa do almoço do meu aniversário (pronto, está bem... e do Menino Jesus) ali estava ele a dominar a cena, mas inerte e tostado.

Foi coisa que não mais se repetiu nos Natais seguintes e ainda da minha infância, e das duas uma: ou a revista Eva arrependeu-se de incluir perus vivos nos seus cabazes de luxo, que, por certo, dramas idênticos terão ocorrido noutros lares, ou a minha mãe, pelo sim pelo não, terá decidido baixar de escalão e ficar-se pelo cabaz da nossa condição: o dos remediados", termina no seu blogue.