Este é o maior julgamento de uma celebridade americana nos últimos anos, e o ator de 79 anos, corre o risco de passar o resto da sua vida atrás das grades. A ex-estrela de televisão pode ser condenada a uma pena mínima de 10 anos de prisão e a pagar um multa no valor de 25 mil dólares (cerca de 22 mil euros).

Cerca de 60 mulheres acusaram Bill Cosby publicamente de abuso sexual durante quatro décadas. Algumas estavam na audiência, mas o destino do ator depende das acusações de uma única mulher, Andrea Constad, por um incidente ocorrido em janeiro de 2004. É o único caso criminal contra ele, porque a maior parte do suposto abuso ocorreu há demasiado tempo para que o ator possa ser processado.

Constand, uma canadiana de 44 anos, era na época diretora de operações da equipa de basquetebol da Universidade Temple, cujo conselho administrativo Bill Cosby integrava.

"Este homem usou o seu poder e fama. E o método previamente treinado de colocar uma mulher jovem, que confiava nele, num estado de incapacidade para obter prazer sexual", disse a procuradora-adjunta do distrito, Kristen Feden.

Constand afirma ter ido a casa de Cosby para lhe pedir conselhos sobre a decisão de trocar de trabalho e que a ex-estrela de televisão lhe deu comprimidos e vinho e a agrediu.

Cosby disse ter dado a Constand comprimidos de Benadryl para aliviar o stress, e insistiu que as relações sexuais eram consensuais, acusando-a de mentir.

"Traição"

"Confiança, traição e incapacidade de consentir", disse Feden. "Porque (Andrea Constad) se encontrava num estado de incapacidade, não podia consentir".

Feden disse ainda que o julgamento faria "explodir" as ilusões de que Cosby é a encarnação na vida real de seu famoso personagem do "The Cosby Show", Cliff Huxtable, um afável ginecologista, pai de família.

Keshia Knight Pulliam, que na série de televisão fez o papel da sua filha Rudy, assistiu aos depoimentos iniciais do processo, mas uma das ausências notadas foi a da esposa, Camille Cosby.

Uma ex-assistente do agente de Cosby em Hollywood foi a primeira testemunha, e disse que o ator a drogou e agrediu sexualmente no Hotel Bel Air, em 1996, tal como fez depois com Constand. Quando acordou, Kelly Johnson disse que estava deitada na cama.

"Lembro de ouvir sons, sons como grunhidos", disse. "Os meus seios estavam de fora, e sentia-me nua, mas ainda tinha o vestido".

"Ele pôs creme na minha mão e fez-me tocar no seu pénis", acrescentou Johnson, que não conteve as lágrimas.

"Destruir um homem"

Cosby, que afirma estar quase cego, sentou-se de costas para Johnston enquanto seu advogado a submetia a um contrainterrogatório raivoso e tenso.

A equipa de defesa lembrou que "a falsa acusação de agressão sexual é um ataque à dignidade humana, é um ataque à inocência humana. Não é uma distração, pode destruir um homem", alegou um dos seus advogados, Brian McMonagle.

McMonagle pediu ao júri para ver Cosby "não só como um cidadão" e afirmou que a sua infidelidade conjugal tornou-o "vulnerável a acusações". Também atacou Johnson, forçando-a a admitir que havia trechos do seu testemunho original que não poderia recordar, 20 anos depois.

Constand, que é homossexual, mas que admitiu ter tido relações com homens no passado, também teve depor no processo.

Inicialmente, a alegada vítima chegou a acordo com Cosby, em 2006, após uma ação civil, mas o caso foi reaberto em 2015 quando nova evidência veio ao de cima. O caso resume-se à palavra dela contra a dele.

A acusação apoiar-se-á num depoimento de 2015 de Cosby em tribunal, no qual admitiu ter  na sua posse sedativos com o objetivo de de usá-los para fazer sexo com mulheres.

A defesa atacou duramente a credibilidade de Constand, alegando que mentia e apresentou a relação entre ambos como consensual, com muitos encontros e supostamente 53 telefonemas para o ator depois do incidente.

O júri, integrado por cinco mulheres e sete homens - e apenas dois afro-americanos no total de 12 membros - ficará isolado até o fim do julgamento, com duração de duas semanas.