A menos de duas semanas da coroação do novo rei de Inglaterra, o duque de Sussex alegou que o rei Carlos impediu a mãe, a falecida rainha Isabel II, de entrar com uma ação legal contra a empresa de jornais News Group Newspapers (NGN) sobre o caso de telemóveis pirateados no seio da família real britânica para que o 'tabloide' ficasse do seu lado e o apoiasse. Terá sido uma "estratégia a longo prazo" de Carlos para tornar Camila rainha.

Segundo o The Guardian, o príncipe Harry fez as alegações em documentos judiciais divulgados na terça-feira como parte de sua ação legal contra a News Group Newspapers (NGN), a empresa de propriedade de Rupert Murdoch que publica o London Times e o tabloide britânico The Sun.

Durante a sua declaração como testemunha, divulgada no dia de abertura de uma audiência de três dias no tribunal superior de Londres, Harry alegou que a rainha interveio pessoalmente no assunto, em 2017, ameaçando altos executivos da empresa de Rupert Murdoch com procedimentos legais sobre a pirataria, mas foi persuadida a recuar pelo filho.

Na altura, Carlos ordenou pessoalmente que o filho desistisse dos processos legais que tinha aberto contra os meios de comunicação britânicos para manter a imprensa "do seu lado", alegou Harry.

"Fui convocado ao Palácio de Buckingham e especificamente instruído a desistir das ações legais porque elas tinham um 'efeito em toda a família'... [este foi] um pedido direto (ou melhor, demanda) do meu pai", referiu.

Segundo Harry, "William foi muito compreensivo e solidário e concordou". "Ele então sugeriu que eu pedisse permissão à 'vovó'", acrescentou.

Foi perto da data do casamento com Megan Markle, em maio de 2018, que foi informado de que nada havia a fazer e que "o NGN não estava nessa altura em posição para pedir desculpas à Rainha e aos restantes membros da família real porque, se o fizessem, teriam de admitir não só que o News of the World estava envolvido nos atos de pirataria, mas também o The Sun", revelou.

"Agora compreendo o porquê dos funcionários da Clarence House [representam Carlos e Camila] não ajudarem e bloquearem todas as nossas jogadas, uma vez que tinham uma estratégia de longo prazo para manter os média do seu lado, a fim de facilitar o caminho para a minha madrasta ser aceite pelo povo britânico como Rainha consorte quando o momento chegasse", referiu, acrescentando que "tudo o que pudesse perturbar esse resultado deveria ser evitado a todo o custo".

Harry alegou ainda que William recebeu uma "enorme quantia de dinheiro" do dono do The Sun e do agora fechado News of the World em 2020, com o objetivo de resolver discretamente as acusações de que telemóveis da família real tinham sido pirateados.

Recorde-se que, em 2007, o editor do News of the World e um investigador particular foram condenados por conspiração por terem pirateado as mensagens de voz da realeza britânica. O escândalo voltou aos holofotes em 2010 e 2011 depois de alegações de que piratear telemóveis era uma prática comum no 'tabloide' e que a polícia britânica tinha sido cúmplice.

Na longa controvérsia, vários jornalistas britânicos foram acusados ​​de piratear ilegalmente as mensagens de voz de milhares de pessoas, desde políticos importantes e celebridades até vítimas de assassinato e famílias de soldados mortos em combate.

O escândalo de invasão telefónica custou ao império de Murdoch mais de um bilhão de dólares, de acordo com uma investigação de 2021 da Press Gazette.