Nunca tinha usado perfume mas, de repente, foi convidado ser um dos três embaixadores de Y, o novo perfume masculino de Yves Saint Laurent, juntamente com o rapper Loyle Carner e o investigador Alexandre Robicquet. Adepto de um estilo de vida saudável, pratica desporto praticamente todos os dias, recusa-se a tomar medicamentos e não come alimentos que destruam o planeta.
Apesar de ainda não conhecer Portugal, David Alexander Flinn elogia a indústria, o vinho, as paisagens e as cores da bandeira. "Costumava escolher Portugal quando jogava FIFA", confidenciou ao Modern Life/SAPO Lifestyle, em Paris, aquando do lançamento europeu da fragrância. Uma entrevista exclusiva para Portugal onde fala das origens italianas, da paixão pelos cavalos e do cheiro das caves.
O que representa para si ser um dos três rostos deste perfume?
Acho que é uma escolha muito inovadora, uma forma original de procurar criar uma ligação com as pessoas, que é uma das coisas em que a nossa geração difere das anteriores. Através das redes sociais, da internet e dos media digitais, conseguimos ter hoje uma ligação de maior proximidade com as marcas e com as empresas.
No passado, estavam mais distantes e eram mais aspiracionais. Lembro-me de ver um cartaz enorme com um anúncio do Johnny Depp para a Chanel e de pensar que ele era uma celebridade tão grande que quase parecia que vinha de outro planeta.
Agora, com esta proximidade maior, é interessante ver as pontes comunicacionais entre as marcas de luxo e as pessoas que efetivamente as seguem a cair. Isto está a acontecer com as pessoas que as adquirem e também com as pessoas que as marcas chamam para colaborar com elas. Vivemos numa era de criatividade e, desta forma, ficamos todos a ganhar.
No seu discurso, aquando da apresentação pública europeia do perfume, que teve lugar em França, em Paris, disse que tem a vida que tem porque foi essa a vida que escolheu. Quando foi convidado para promover este perfume, ficou surpreendido com o contacto da marca ou, pelas opções que tem feito e pelas muitas atividades em que se envolve, acha que seria uma escolha óbvia?
Não fiquei propriamente surpreendido com a escolha que foi feita. Senti-me totalmente à vontade com a abordagem. Acho que o trio que escolheram é uma boa representação do que está a acontecer neste momento no mundo, uma vez que há muitas pessoas com atividades multidisciplinares.
O Loyle [Carner] é rapper mas também escreve e desenvolve programas de educação especial para crianças. Eu sou escultor, escritor, realizador, fotógrafo, modelo… O Alexander [Robicquet] é investigador na área da ciência artificial, trabalha com robótica e também ensina. Acho que o casting foi muito bem feito.
Nas suas intervenções públicas, tem também defendido a necessidade de adoção de estilos de vida saudáveis. Acha que as pessoas não devem tomar medicamentos em excesso nem ingerir alimentos, como a carne, por exemplo, que para serem produzidos implicam a destruição de florestas. São preocupações que estão muito presentes na sua vida, não estão?
Sim. Eu nunca vou a médicos. Nunca! Só frequento um acupuntor, um profissional que também me ajuda a definir a minha alimentação. Tento alimentar-me de forma equilibrada, como ele me sugere, em 80% das vezes. Só em 20% das minhas refeições é que me permito cometer uma loucura.
Mas, se me apetece comer um bolo, como-o, sem qualquer culpa. Acho que, nos Estados Unidos da América, especialmente agora, à semelhança do que também acontece noutras partes do mundo, deixámos que os diferentes governos permitissem que as empresas farmacêuticas ganhassem demasiado poder.
Essas indústrias procuram influenciar-nos demasiado. Chegámos a uma altura em que temos de reavaliar a nossa vida, o modo como vivemos. Eu era capaz de ficar aqui agora a falar nisto durante horas…
Acredito que sim…
Era mesmo! Mas, resumindo, acho que é importante que as pessoas percebam que devem valorizar mais as coisas importantes da vida. Devem procurar serem felizes, respeitar os outros, praticar desporto, manterem-se saudáveis. Eu treino seis dias por semana, na maioria das vezes. Luto cinco dias por semana. Alimento-me bem. Procuro manter o equilíbrio…
E como é que faz a gestão desse estilo de vida mais saudável e são com o mundo da moda, que é mais plástico, mais artificial, mais volátil e até mais fútil?
Acho que construí a minha identidade e, consequentemente, a minha marca de uma forma mais centrada em mim e, quando as empresas me contratam, estão a contratar-me a mim com todos os valores que tenho e com tudo aquilo que represento. Eu não utilizo qualquer produto de cosmética na minha pele. Só uso água… e fria!
Eu só tomo duches de água fria e duram cinco minutos. Treino o que quero, só como o que me apetece, só visto o que gosto… Visto muita roupa maluca! E ninguém me diz posso ou não posso fazê-lo. Quando só fazes o que queres e o fazes de uma forma sincera e honesta, as coisas acabam por correr bem…
E perfume? Usa ou não?
Sim, desde que me deram o Y, comecei a usar. Mas é uma experiência nova!
Até aqui, não tinha esse hábito?
Não, tinha mais o hábito de usar óleos perfumados e coisas desse género. Ainda os uso. Faço uma mistura. É fixe! Acho que, comparativamente a muitas outras fragrâncias masculinas, Y é um perfume leve, com um aroma floral. Não tem um cheiro tão fumado, profundo ou doce, como a maioria. É mesmo muito leve, o que o torna numa experiência muito agradável.
É um homem muito metrossexual ou lá qualquer que seja o conceito que esteja atualmente em voga? Demora muito tempo a arranjar-se antes de sair de casa?
Eu saio da cama, faço 50 flexões, tomo o meu duche gelado de cinco minutos, visto umas calças de ganga e estou pronto. Mais nada…
Cresceu entre o SoHo em Nova Iorque nos EUA e Turim em Itália. Em que medida é que estes dois sítios tão diferentes e com formas de estar, de pensar e de viver tão distintas moldaram a sua personalidade e se refletem na pessoa que é hoje em dia?
A Itália ajudou-me a perceber a importância da história e da cultura e a valorizar a minha ancestralidade e as minhas raízes e a perceber de onde é que venho. Incutiu-me os valores da família… Nova Iorque prepara-te para o mundo. É uma cidade muito antagónica. É uma cidade que pode ser muito dura…
É um sítio muito movimentado onde, muitas vezes, é difícil conseguir sobressair... Nova Iorque incutiu-me o lado lutador. Fez-me perceber que tinha que lutar para conseguir alcançar os meus objetivos, que tinha que gritar se fosse preciso para me fazer ouvir... Fez-me perceber que a vida nem sempre é justa e que temos que fazer por ela…
Ainda vive lá…
Sim! Vivo umas vezes lá, outras vezes em Los Angeles, outras vezes em Itália…
É que eu li uma entrevista sua em que falava na vontade de se mudar para uma propriedade rural no Connecticut…
Na Pennsylvania, sim. Em breve, espero. É o sonho da minha vida! Gostava de ter uma quinta na Pennsylvania para poder criar cavalos, fazer motocrosse e cultivar a minha própria comida. Mas quero ser eu a construí-la! Por isso, ainda é capaz de demorar algum tempo…
Indo muitas vezes a Itália, alguma vez passou por Portugal?
Não, nunca fui a Portugal.
Mas tem essa intenção? O que é que sabe sobre o país?
Eu costumava escolher Portugal quando jogava FIFA [Soccer ou FIFA Football, um jogo eletrónico lançado anualmente pela empresa Electronic Arts através da marca EA Sports], porque gosto muito das cores.
Sei que vocês têm algumas das melhores fábricas do mundo. Há muitas empresas italianas que se mudaram para Portugal ou que vão a Portugal fazer encomendas… Sei que é um país muito bonito e que tem muito bom vinho! Gostava muito de ir aí. Já estive em muitos sítios mas há muitos outros onde ainda quero ir.
Voltando aos perfumes, mas sem nunca deixar de ter em conta todas as suas vivências, há assim algum cheiro que lhe agrade particularmente?
Adoro o cheiro das caves! Os das cantinas italianas são geralmente muito vibrantes. Gosto da escuridão desses espaços. Acabo por compará-los quase a uma incubadora pela forma como nos envolvem… Também gosto do cheiro da madeira de cedro e do cheiro da madeira de sândalo.
E, se tivesse que se definir através de um aroma, a que é que cheiraria?
Acho que cheiraria a uma dessas caves… [risos] Acho que vou pensar nisso a sério. Da próxima vez que nos encontrarmos, muito provavelmente, vou cheirar a cave! [risos]
Apesar de ainda não ter vindo a Portugal, pelo que sabe do país, também nos associa a um determinado odor?
Sim, associo-vos à brisa fresca e fria do oceano Atlântico. Vocês são um país muito exíguo mas com uma quantidade de costa litoral enorme. É essa a associação que faço.
Temos, em Portugal, várias raças de cavalos portuguesas, como é o caso do puro-sangue lusitano, o cavalo de sela mais antigo do mundo. Temos também o sorraia, não sei se conhece, uma raça única no mundo. Digo-lhe isto porque sei que os cavalos são outra das suas grandes paixões. Porquê? Há alguma razão especial para esse interesse e para essa paixão?
São lindos e elegantes e têm um temperamento que os torna tão honestos e verdadeiros. Também são confiáveis. O facto de um animal te deixar subir para o seu dorso e transportar-te para um sítio… Eu sinto-me muito agradecido a estes animais quando vou montar e admiro a própria forma como eles interagem contigo.
Se não gostam de ti, não gostam e não há nada a fazer! Eles relincham, viram a cara… Se gostam de ti, aproximam-se e procuram interagir. Não há ali qualquer jogo, não há falsidade… Por isso, é que gosto tanto da natureza e gosto tanto de animais.
Ainda monta muito?
Sempre que posso! Uma das minhas melhores amigas tem uma quinta perto do local onde quero construir a minha. Ela tem uns 20 cavalos e, sempre que tenho oportunidade, vou montar.
E os seus gatos e o seu furão? Ainda os tem?
Sim, ainda tenho o meu furão. São os meus animais selvagens! [risos] Na realidade, até tenho dois, um macho e uma fêmea. Ela tem um bigode! [risos]
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