Foi em Vila Nova de Gaia, quando andava no liceu, que se apaixonou por Rosa Maria de Sousa. Uns anos mais tarde, admitiria publicamente que foi amor à primeira vista. A paixão pela joalharia daria, pouco depois, origem a uma marca que acaba de celebrar três décadas. Em entrevista exclusiva, o joalheiro recorda as dificuldades do passado, aborda os desafios do presente e levanta o véu em relação ao futuro.
Como é que se sente ao ver a marca que criou e que tem o seu nome ultrapassar a barreira dos 30 anos?
Sinto-me ainda muito jovem, com vontade de criar muito mais, de fazer muito mais colecções e de voltar a comemorar outros 30 anos como estes. Deixe-me a vida usufruir desses prazeres que vontade não me falta.
Que balanço é que faz destes 30 anos de carreira?
Olhando para estes 30 anos, diria que foram anos de muito trabalho e de muito empenho, mas sempre com uma motivação grande, porque o entusiasmo por aquilo que eu faço é muito e, felizmente, sempre foi coroado com reconhecimento.
Quando nós somos reconhecidos pelo que fazemos, chegamos ao fim de 30 anos e temos que dizer que valeu a pena. É o que eu digo! São 30 anos da marca que é a menina dos meus olhos. É o meu maior património. Esforço-me, todos os dias, para sejamos cada vez melhores.
Sente que estes 30 anos passaram a correr ou, antes pelo contrário, as coisas demoraram muito tempo a acontecer?
Estes 30 anos passaram realmente muito rápido mas permitiram-me fazer coisas muito giras. Permitiram-me ajudar muito este sector. Durante muitos anos, consegui fazer com que este setor mexesse um bocadinho.
Diria até que, durante alguns anos, a minha marca é que carregou com este setor. Dinamizou-o, revolucionou-o e trouxe-lhe muito daquilo que é a inovação e a criatividade. Tenho muito orgulho em ter feito o que fiz pela minha marca e pelo meu setor.
Ainda se lembra da primeira coleção que desenhou?
Lembro-me das primeiras coleções que esbocei, lembro-me das primeiras coleções que criei e lembro-me das primeiras peças que fabriquei e que não tiveram grande sucesso, porque foram feitas numa época em que a inovação e a criatividade não eram valorizadas. As primeiras coleções próprias que lancei foram para o mercado numa época, há vinte e muitos anos, em que não havia o reconhecimento da criatividade que há hoje.
Não se valorizava a criatividade e o público não tinha o grau de exigência que tem hoje. Não tinha a informação que tem nos dias de hoje e, realmente, tive alguma dificuldade em ter sucesso com as minhas primeiras coleções porque o que se vendia era mais do mesmo e era mais do mesmo que o público comprava. Felizmente que as coisas evoluíram.
Felizmente que o público passou a beber informação de uma forma constante. Passámos todos nós, joalheiros, a ter um grau de exigência muito maior e foi, a partir do momento em que o público passou a ter mais informação e um grau de exigência maior, que a marca se fez marca, que cresceu como alternativa e que se diferenciou no mercado.
Quando olha para as peças que criou nessa primeira fase, há 30 anos, ainda se revê nelas ou o Eugénio criador de hoje já não tem nada a ver com o Eugénio desses tempos?
Não, não me revejo. O Eugénio de hoje já não tem nada a ver com o desses tempos. O Eugénio criador e o próprio Eugénio joalheiro. Quando olho para trás e me lembro daquilo que criei no início e mesmo as peças que criei ainda há 10 ou 15 anos, já não me revejo minimamente nelas.
Compreendo-as face à época em que as criei mas já não me revejo nelas porque, efetivamente, nós evoluímos e temos que nos atualizar. Nós, hoje, temos que desenvolver a nossa criatividade a uma velocidade incrível. Eu lembro-me que, ainda há 10 e há 15 anos, uma coleção durava, no mínimo, um ano. Algumas até duravam mais. Hoje não!
Hoje, as minhas criações não duram mais do que quatro a seis meses, no máximo. A rapidez com que nós temos de responder ao mercado é completamente diferente. A exigência é completamente distinta. Os brilhos e os acabamentos que usamos hoje são efetivamente diferentes daquilo que se fazia num passado muito recente. Foi na última década, digamos, que a moda em Portugal mais evoluiu.
Em termos de ourivesaria e de joalharia também?
Sim. Nos últimos anos, evoluímos incrivelmente a todos os níveis e na ourivesaria em particular. Nos últimos 10 a 15 anos, a ourivesaria teve uma evolução fantástica e rápida. Por isso, hoje, mesmo nas feiras internacionais em que participo, conseguimos ombrear com as marcas joalheiras de maior prestígio.
A Eugénio Campos está nesse mercado e orgulha-se de estar. Conseguimos oferecer design, qualidade e acabamentos ao nível do que as melhores marcas internacionais oferecem, até mesmo daquelas com os nomes mais fortes.
Apresentou, nos últimos meses de 2017, uma nova coleção de joalharia. Em que é que se inspirou para a criar?
Esta coleção foi muito inspirada nas cores. Teve duas inspirações especiais. A coleção das coroas é inspirada nos meus 30 anos. O logotipo da marca é uma coroa e, portanto, há uma coleção de coroas que não deixa também de ser uma coleção comemorativa de aniversário.
Há também a coleção das estrelas porque eu considerei os meus 30 anos as minhas 30 estrelas e considero que estes 30 anos são a estrela da marca. Também há uma coleção de estrelas. E, depois, uso sempre pedras naturais, o que me permite jogar muito com as tendências de cores, com as tendências de moda, para permitir às pessoas fazer conjuntos e enquadramentos.
Enquadrar a joia com outros segmentos de moda, como a roupa, o calçado e as carteiras, é importante. Sendo também as joias um complemento de moda, integrar aquilo que são as tendências de moda em diversas circunstâncias é fundamental. Por isso, é que também apresentamos coleções em vários segmentos.
Apresentámos, o ano passado, a coleção, que é a maior coleção, num segmento moda que é o core business principal da marca, mas também apresentámos a nossa coleção de joalharia e de alta joalharia para um segmento mais premium.
Outra das novidades que lançou para assinalar os 30 anos da marca foram dois perfumes, um masculino e um feminino…
É verdade, o perfume como joia comemorativa dos 30 anos! Para que fique, tal como uma jóia, a perpetuar estes 30 anos, decidi apresentar algo de inovador em Portugal. Não há nenhuma marca de joias portuguesa que tenha lançado um perfume.
Procurei uma data especial para o fazer e escolhi esta para apresentar uma eau de parfum de muita qualidade. Estes perfumes são aquilo a que chamo uma joia em estado líquido. Também são para usarmos no corpo e na pele, tal como sucede com as minhas outras joias.
E que aromas é que quis associar ao seu nome?
O perfume de homem chama-se Gold Stone. O nome tem a ver com as pedras que nós usamos na joalharia e tem também muito da minha personalidade. Tanto o cheiro como o próprio nome. Tem notas cítricas, lavanda, alfazema, alecrim, madeiras, anis-estrelado e almíscar.
O de senhora chama-se Gold Rose e tem a ver com uma tendência que é o ouro e com as rosas que integram as coleções que desenvolvo. Esta fragrância personifica também muito a personalidade da minha mulher em termos dos ingredientes escolhidos, rosas da Turquia, pimenta-rosa e notas de madeira. Acima de tudo, procurámos que fosse mais uma joia.
Tenho uma última pergunta. Sente-se com forças para mais 30 anos?
Sim, claro! Nos próximos 30 anos, não terei seguramente a mesma força física que tive nos últimos 30 mas, neste momento, sinto que tenho vontade de ainda pôr em prática muitos outros projetos. Alguns deles já estão pensados…
Já pode levantar o véu em relação a alguns deles?
A marca é uma marca joalheira mas temos a nossa coleção de marroquinaria, que continua. Temos a nossa coleção de relógios, que cada vez tem mais sucesso. Agora, foram os perfumes e, a seu tempo, muito provavelmente, poderão ser outras linhas de outros produtos e de outros setores. Já desenhei também uma linha de sapatos. Outros projetos poderão surgir em circunstâncias que também façam sentido.
O perfume fez sentido nesta altura da comemoração dos 30 anos. Quanto aos outros, veremos. Este tipo de projetos paralelos fortalece a marca. Prestigiam-na, dão-lhe notoriedade e permitem que o cliente apaixonado que a acompanha e que aprecia o meu trabalho também possa ter outros produtos meus, para além das minhas joias.
Texto: Luis Batista Gonçalves
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