Apesar do desejo de vingar na medicina, os pais de Fátima Baptista Fernandes queriam que esta continuasse à frente do negócio familiar na
área dos têxteis. E tudo fizeram para a demover!

«Pediram a um primo nosso, que estava em
Medicina, para me mostrar os horrores do Hospital de São João, no Porto», recorda hoje.

«Quando regressei
(feliz) da visita guiada disse para mim mesma que era isto que eu queria. Disse-o com uma convicção
inabalável que os assustou. Hoje não me imagino a ter outra profissão», relembra ainda.
Na altura, tinha apenas 15 anos mas a certeza do caminho que queria seguir.

A paixão pela
Cirurgia Plástica, contudo, só se manifestou muitos anos mais tarde, depois conhecer o
sogro, o Professor Baptista Fernandes, um dos primeiros cirurgiões plásticos do País. «Fui
contagiada pela magia da sua postura perante esta profissão. Penso que toda a sua equipa
teve o privilégio de ser profundamente tocada por ele, pois foi uma pessoa realmente única
como pioneiro, como professor, como chefe e como líder» recorda. Muito provavelmente,
a empatia e proximidade que, hoje, cria com os seus pacientes sejam fruto dessa aprendizagem.

Além disso, durante os 25 anos de prática em Cirurgia Plástica, Fátima Baptista
Fernandes teve a oportunidade de fazer oito anos de Psicanálise, o que lhe deu o know how
para lidar com o lado mais delicado e vulnerável daqueles que a procuram. «Além de me ter
proporcionado grandes conhecimentos sobre a mente humana, transformou-me numa
pessoa mais habilitada para reconhecer o sofrimento humano, a ser mais psicóloga durante
as minhas consultas e também a ser mais assertiva quando é preciso dizer não», explica.

Dizer não é também um papel muito importante do seu trabalho, porque quem a procura
busca também a materialização de um sonho. «Há sempre limites para o sonho e é muito
importante que, nas conversas durante as consultas, haja uma grande empatia para que
fique tudo bem esclarecido e para que se entenda perfeitamente até onde é que se pode
ir», reforça. Por isso, na relação com os seus pacientes, a verdade está sempre presente e há
algo que não deixa de lhes dizer: «Nunca desistam de procurar os diferentes caminhos da
felicidade. Vejam os cirurgiões plásticos apenas como um catalisador da reacção química
que está totalmente nas vossas mãos».

Quanto à crescente preocupação com a imagem, sobretudo do sexo feminino, não lhe dá
demasiada importância, avançando uma explicação muito pragmática. «Actualmente, a
mulher está inserida num mercado de trabalho muito competitivo e, aos 50 anos, está em
plena actividade como se tivesse 30, razão pela qual precisa esteticamente de estar muito
bem, pois também o está intelectualmente e em termos de saúde», defende. «Um exemplo
que também é o seu, ou não fosse mulher de cirurgião plástico [João Baptista Fernandes],
mãe e profissional», sublinha.

O que mais gosta no seu trabalho?

Adoro operar mas penso que a relação médico/doente
ainda é mais importante para mim.

Já se submeteu a alguma cirurgia plástica?

Já me submeti a várias cirurgias e tenho outras tantas em
stand-by, unicamente por falta de tempo, o que é uma vergonha.


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O que mais a atrai no corpo humano?

Toda a cirurgia da face é muito gratificante, até porque estamos
a falar do nosso cartão-de-visita.

Como concilia profissão e família?

Sou casada e tenho dois filhos que sempre coloquei à
frente de tudo na minha vida. Mas, com muita ajuda familiar,
em especial da minha mãe, consegui sempre conciliar
profissão e família. Não houve aqui qualquer impedimento. E o facto de o meu marido também ser
cirurgião plástico ajudou muito, pois sempre o sobrecarreguei
com as altas e pós-operatórios das minhas doentes.

Já algum paciente o comoveu de forma especial?

Foram tantos os doentes que me comoveram durante a
minha carreira, que as suas histórias me acompanham quase
diariamente como se fizessem parte da minha família ou
mesmo de mim.

Qual foi o momento mais marcante da sua carreira?

Sempre que os pacientes voltam só para nos abraçar.

Quais os hábitos de vida que considera mais saudáveis?

Actividade física. Tento correr diariamente em qualquer
um dos diversos paredões que tenho perto de casa.

O que faz nos tempos livres?

Sou uma leitora compulsiva, principalmente do que considero
ser a santíssima trindade da literatura portuguesa, Camilo
Castelo Branco, Eça de Queiroz e Agustina Bessa Luís.
Sou muito repetitiva quando gosto de um autor. No entanto,
não há nada que me dê maior prazer que uma boa conversa
à volta de uma mesa com os meus filhos, marido e mãe.

O que seria se não fosse cirurgiã?

Adorava ser obstetra mas sem Ginecologia associada.

Qual o avanço científico por que mais anseia?

A fusão das Neurociências, ou seja, quando os neurocirurgiões,
neurologistas e psiquiatras, juntos, conseguirem
tratar e curar doenças do foro psiquiátrico que ainda são
tão mal conhecidas nos nossos dias, como a doença de Alzheimer.

Percurso profissional

Licenciada em medicina pelo Instituto de Ciências Médicas Abel Salazar da Universidade do Porto, Fátima Baptista especializou-se em cirurgia plástica reconstrutiva e estética no Serviço de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

Texto: Joana Martinho