A grande entrevistada do programa ‘Alta Definição’ deste sábado, dia 9, foi a atriz Lia Gama, cuja história de vida deixou Daniel Oliveira impressionado.

A artista falou da sua difícil infância passada com o pai e a madrasta, que a agrediam com frequência.

Definindo-se como o “bombo da festa”, Lia refere que “viveu sem afetos”, algo muito mau para uma criança.

Questionada se alguma vez sentiu o amor do seu pai, a artista foi direta na resposta: “Não, nada. Era sim paizinho, não paizinho. Admirava-lhe algumas coisas. A forma como ele se comportava, saía para a rua, de chapéu. Tinha um ar digníssimo. A minha madrasta tentava sempre manter muito as aparências daquela pequena burguesia de comerciantes muito aprumados”.

Entretanto, a atriz descreveu várias situações que a marcaram: “Lembro-me de uma vez estar no topo da mesa e ele a olhar para mim com um ar indignado: ‘Estás cada vez mais parecida com a tua mãe’. E eu nem sou parecida com a minha mãe fisicamente”, lamenta.

“Era um empecilho. Era rebelde, era profundamente rebelde. Não aceitava aquilo. Nunca me acomodei. Eles sabiam isso. Quanto mais me batiam, menos eu chorava, agrediam-me e eu não chorava”, recorda.

“A violência exercida sobre as crianças sempre existiu. Era tão agredida fisicamente que as vizinhas fizeram uma carta anónima para o Tribunal de Menores a queixarem-se de uma criança. Eles foram julgados e absolvidos. Fui interrogada várias vezes, fizeram-me vários exames no Instituto de Medicina Legal e eu nunca os denunciei”, continua.

“Era com cinto, era com verdasca de marmeleiro, era de toda a maneira e feitio. Era verdadeiramente agredida. É horrível que ninguém está dentro das casas das pessoas e não sabe o que se passa”, descreve, sublinhando que mesmo com a violência “nunca teve vocação para vítima”.

“Preparei a minha saída aos 13 anos. Arranjei um trabalho e respondi a um anúncio para um cabeleireiro”, relata, dizendo que na época o pai mostrou-se contra esta decisão, batendo-lhe pela última vez antes de sair de casa.

Apesar da complicada infância, Lia afirmou que o pai, antes de morrer, ainda lhe chegou a pedir desculpas. “Antes de morrer disse-me que não tinha sido um bom pai. (...) [Mas] Se tivesse sido um bom pai, eu não era aquilo que sou hoje”, completa.