'Para Sempre Marco' é um espetáculo que promete emocionar os fãs de Marco Paulo. Estivemos à conversa com Tiago Pais Dias, responsável pelo projeto. A ideia, conta-nos, surgiu depois de ouvir os filhos a cantarem sucessos do músico romântico.

Ao perceber que os êxitos perpassavam gerações, Tiago decidiu construir este espetáculo para homenagear o legado musical do intérprete de êxitos como 'Maravilhoso Coração', cuja reinterpretação é esta sexta-feira lançada, ou 'Taras e Manias'.

Jessica Cipriano e Andrea Verdugo vão dar voz às canções revisitadas num espetáculo marcado para o dia 1 de maio, no teatro Tivoli BBVA, em Lisboa, que contará com o próprio Marco Paulo na primeira fila.

Como é que surgiu a ideia para este projeto?

Há uns largos meses fui buscar o meu filho à escola e ele vinha a cantarolar uma canção. Só quando ele chegou ao pé de mim é que percebi que era o 'Tenho Dois Amores' do Marco Paulo. Achei super curioso como é que um miúdo de nove anos tinha tido acesso àquela música. Perguntei-lhe e ele respondeu-me que tinha a ver com o TikTok e os amigos.

Passado uma semana, por coincidência, a minha filha mais velha, que tem 16 anos, também vinha a cantar uma canção do Marco Paulo. Perguntei-lhe e ela respondeu-me a mesma coisa: tinha a ver com o TikTok.

Pensei: 'deixa-me lá ir ouvir as canções do Marco Paulo', porque já não as ouvia há muitos anos. Aí apercebi-me de que conhecia grande parte das canções. Por esta razão e outras a coisa ganhou tamanho. Uma das primeiras pessoas com quem falei foi com o próprio Marco Paulo.

Como correu essa conversa?

Fui a casa dele e falei-lhe desta ideia. 'Gostava de revisitar o teu reportório, homenagear as tuas canções e deixá-las um bocado mais atualizadas'. Ele adorou a ideia e deu-me carta verde para o fazer.

O Marco foi incrível e acho que percebeu desde o início qual era a proposta. Felizmente, também já conhecia o meu trabalho, tem confiança e deixou o terreno para explorar. Isto representa uma abertura muito grande da parte dele. Foi uma conversa mais sobre a vida do que propriamente sobre música.

Cresci a ouvir Marco Paulo sem ter discos dele em casa. Acho que às antigas gerações aconteceu isto. Onde a malta ia, ouvia-se Marco Paulo

O Tiago já era um admirador de Marco Paulo?

Por norma, não sou admirador dos cantores ou artistas, sou admirador dos seus trabalhos. Não tenho esse culto da celebridade.

Mas sim, cresci a ouvir Marco Paulo sem ter discos dele em casa. Acho que às antigas gerações aconteceu isto. Onde a malta ia, ouvia-se Marco Paulo. É algo que cresceu comigo. Sempre me divertiu muito. É um cantor romântico, com canções icónicas transversais a todas as gerações.

Todos nós temos os nossos 'guilty pleasures' e as pessoas podem-se sentir melindradas por dizerem que gostam disto ou daquilo. Na verdade eu gosto da música no seu todo. Desde que sirva o seu propósito, desde que sejam feitas com amor e dedicação, há lugar para todas e o Marco Paulo, sem dúvida, que tem o lugar dele.

Como disse, o Marco Paulo é uma referência musical, mas existe um preconceito em relação a ele e a outros músicos...

Certo.

Quim Barreiros, para mim, é boa música, dentro daquele estilo ele é o maior. Como o Mozart é boa música, como o Marco Paulo é boa música, tantas coisas...

Como é que vê isso? Na sua perspetiva existe má música?

Eventualmente, deve haver e representa uma coisa diferente para todos. É como o vinho: é aquele que se gosta.

Como disse há bocado, para mim a boa música é aquela que serve o seu propósito, seja ele o entretenimento, seja uma coisa mais artística, desde que seja feita com verdade é boa música.

Quim Barreiros, para mim, é boa música, dentro daquele estilo ele é o maior. Como o Mozart é boa música, como o Marco Paulo é boa música, tantas coisas...

Sim, o preconceito existe e ainda bem. Na minha teoria uma música que seja agradável a toda a gente não é bom sinal, a música tem de ser de alguma forma controversa, a arte tem de ser de alguma forma controversa, não podemos agradar a todos.

Aquilo que eu acho é que as canções do Marco Paulo são incríveis [ri-se]. O próprio Marco já ouviu e sentiu-se orgulhoso do que estamos a fazer.

Hoje as canções consomem-se em playlists - gosto desta, gosto daquela, gosto da outra... Já ninguém ouve discos ou artistas do início ao fim. As novas gerações consomem música como pastilha elástica: é mastiga e deita fora. Está tudo bem, é só uma nova forma

No início desta conversa disse que os seus filhos chegaram às canções de Marco Paulo. Acredita que estas novas gerações trouxeram uma nova forma de ouvir música?

Sim, eles ouvem música de uma forma diferente da que eu ouvia quando tinha a idade deles. Eu tinha interesse em descobrir a história e o artista por trás das canções. As novas gerações estão conectadas muito mais ao momento, à canção em si e não ao próprio artista.

Os meus filhos não faziam ideia de quem era o músico por trás destas canções. Isto tem a ver com a forma como lhes é dada a música, principalmente com as plataformas, como o TikTok. É uma coisa fugaz, que aparece e desaparece.

Hoje as canções consomem-se em playlists - gosto desta, gosto daquela, gosto da outra... Já ninguém ouve discos ou artistas do início ao fim. As novas gerações consomem música como pastilha elástica: é mastiga e deita fora. Está tudo bem, é só uma nova forma.

Acho que são projetos como este do Marco Paulo que podem de alguma forma contribuir para a história destas canções.

Como é que preparou este projeto? O Marco Paulo é marcante enquanto músico, mas também pelas lutas que enfrentou e continua a enfrentar contra o cancro, por exemplo.

Há uma coisa que é preciso deixar claro: este projeto não surgiu porque o Marco Paulo está doente, nem foi esse o intuito.

A história pessoal dele é a de um guerreiro. Os últimos 20 anos da vida dele têm sido de uma enorme força de vontade. Mas não vamos abordar isso. É a história pessoal dele, se ele a quiser contar, contará.

Foquei-me no trabalho dele e em homenageá-lo. O dia 1 de maio vai ser de celebração e de energias positivas.

Foi fácil escolher as músicas?

Há um primeiro leque de canções que são muito fáceis de escolher que são os grandes êxitos dele.

Também fui à procura de algumas canções não tão conhecidas, para revisitá-las e dar-lhes uma vida nova. Também vão haver algumas surpresas no alinhamento e vamos ter convidados especiais.

Hoje [sexta-feira, dia 5 de abril] sai o 'Maravilhoso Coração'.

Sim. Tem uma participação especial do Saint Dominic’s Gospel Choir e ficou incrível. Falando nisso, aproveito para partilhar uma história inacreditável que aconteceu e que acho que é maravilhosa.

Um senhor da Argentina, de 74 anos, o compositor original [do' Maravilhoso Coração'], confirmou a sua presença no dia 1 de maio. Ele vai fazer parte da celebração. É incrível. Estará três dias connosco

© Duarte Grilo

Força...

Como se sabe, estas músicas carecem sempre de autorizações e os autores originais são estrangeiros. No caso do 'Maravilhoso Coração' os autores são dois argentinos. Um deles já faleceu, era o Roberto Livi, e o outro é Alejandro Vezzani.

Há umas semanas fui à procura dele e encontrei-o. Adicionei-o no Facebook, no Instagram e mandei-lhe umas mensagens. Ele não me respondeu. Fui investigar mais um bocado e enviei-lhe um e-mail a falar do projeto, daquilo que eu estava a fazer.

Ele respondeu e começámos a trocar mensagens no WhatsApp. Um senhor da Argentina, de 74 anos, o compositor original, confirmou a sua presença no dia 1 de maio. Ele vai fazer parte da celebração. É incrível. Estará três dias connosco.

Mandei-lhe a nossa versão da música também.

Como é que reagiu?

A resposta foi incrível, de ir às lágrimas. Disse que estava muito feliz e que achou genial a versão. Deste lado ficámos emocionados e acabámos o dia agarrados uns aos outros a chorar.

Há outra coisa importante: ele não tinha noção do sucesso que a música dele tinha em Portugal.

Pela forma como fala, percebe-se que se sente muito realizado com o projeto.

É inesperado e acima de tudo isto é um projeto que dá imenso trabalho. É preciso um respeito enorme para não defraudar as canções e ao mesmo tempo dar-lhes uma abordagem completamente distinta. Não é a mesma coisa do que construíres um original. Fazer uma versão de uma canção icónica dá trabalho, de facto, mas é muito prazeroso porque sentimos que estamos a chegar ao sítio certo.

Tem alguma preferida?

Isto de semana a semana vai havendo uma preferida. Apesar de tudo, acho que o 'Maravilhoso Coração' é o grande cartão de visita do projeto.

Porque é que as pessoas têm de ir ao espetáculo no dia 1 de maio?

O espetáculo, além de celebrizar as canções que são icónicas, visa ser uma noite completamente diferente de qualquer espetáculo. Não é somente um conceito de música, é um revisitar inusitado das canções.

É um concerto para a família, pode ir a avó, a mãe e o filho, porque é transversal. Vai ser imersivo, as pessoas vão fazer parte do espetáculo. O Marco Paulo vai estar presente na primeira fila.

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