O vinho sempre aparece, seja para saciar a sede, seja como tema central. Este mês falamos com dois homens do Norte: um faz vinho, o outro joga ténis. E não é que um falou de ténis e o outro de vinho? O jornalista Luís Francisco da revista Grandes Escolhas esteve à conversa com Francisco Ferreira e João Sousa.
Francisco Ferreira
Juntamente com os seus primos João Ferreira Álvares Ribeiro e Francisco Olazabal (tal como ele, tetranetos da lendária Ferreirinha), Francisco Ferreira é um dos rostos da Quinta do Vallado. E é também um dos membros do coletivo Douro Boys. Passado, presente e futuro. Sempre com os pés no Douro.
Como é carregar no nome a “herança” de Dona Antónia Adelaide Ferreira?
É antes de mais nada um enorme orgulho, sendo que também é uma grande responsabilidade e um desafio constante, pelo que ela representou para o Douro! É um grande privilégio para nós (somos a sexta geração) continuar a desenvolver uma atividade numa região que nos corre no sangue, que nos dá tanto e de que gostamos tanto! Temos a responsabilidade e o desafio de fazer bem, de melhorar, de tentar deixar uma marca de valor na região, de seguir os valores que a D. Antónia defendia, de respeito pelas pessoas e pela terra!
Qual é o seu vinho preferido da Quinta do Vallado?
O Vallado Reserva Tinto Field Blend, porque representa muito do melhor que o Douro tem – vinhas velhas com castas maioritariamente autóctones que produzem vinhos “singulares” de uma enorme complexidade, mas também de uma enorme elegância e com um equilíbrio notável!
Onde vê os vinhos portugueses daqui a dez anos?
Somos uns privilegiados por ter vinhos como Porto, Madeira, Moscatel de Setúbal (que estão para mim entre os melhores vinhos do mundo) e agora os DOC, tudo concentrado numa área tão pequena como o nosso país! Espero que continue a haver uma evolução qualitativa como nos últimos 10/20 anos, e que como tal sejam cada vez mais reconhecidos lá fora.
Vê-se a fazer vinho fora do Douro?
Há várias outras regiões de que gosto muito, mas sinceramente acho que o Douro ainda tem tanto a descobrir que faz com que neste momento não sinta essa necessidade!
Alguma vez falou com José Mourinho? Conte-nos lá a história do Chelsea.
Nunca falei... Basicamente o que aconteceu foi que o Vallado B e T foram selecionados num lote de mais alguns vinhos (poucos) para serem os vinhos a servir nas receções do Chelsea, na altura do Mourinho; quando se soube, saíram várias notícias nos nossos tablóides, umas a dizer que o Vallado era o vinho oficial do Chelsea, outras a dizer “Mourinho bebe Vallado”... e por aí!! Como o Mourinho estava na berra, houve uma grande notoriedade com estas notícias!
Escolha um local para ver o pôr do sol e um vinho para acompanhar o momento. E, já agora, a companhia.
Na Casa do Rio (Quinta do Orgal), que é um sítio mágico, com a minha família!
Nas vossas duas unidades hoteleiras já tiveram alguma vez um cliente verdadeiramente excêntrico?
Houve uns clientes brasileiros que reclamaram por não avisarmos que não havia pisa a pé durante a estadia em fevereiro… A solução foi ir para dentro do lagar fazer uma simulação de pisa.
Onde é que não consegue passar sem se sentar à mesa?
Seria injusto referir um só restaurante, porque felizmente a gastronomia, tal como o vinho, teve uma evolução brutal nos últimos anos. Mais do que o restaurante, procuro o "prato", seja ele cabrito, cozido, arroz de cabidela, um bom peixe assado, sushi... etc! Felizmente há muito por onde escolher!
E se o pusessem a si na cozinha, o que é que saía?
Podia sair muita coisa, porque cozinhar é sem dúvida nenhuma dos meus hobbies favoritos, e das coisas que mais me relaxa e dá prazer. No verão faria uma massada de peixe e no Inverno umas perdizes com Vinho do Porto.
Qual é o seu desportista favorito? Porquê?
Apesar de adorar futebol, vou escolher um tenista – Roger Federer, que joga com um nível superior há muitos anos, e com uma elegância e classe incríveis. Atributos que também acho fundamentais para um vinho topo de gama: qualidade, consistência, elegância e classe!
JOÃO SOUSA
Aos 30 anos, feitos a 30 de março, João Sousa é o melhor tenista português de sempre. Adepto do Vitória de Guimarães, o clube da terra onde nasceu, chegou a jogar futebol, mas aos 14 anos optou definitivamente pelo ténis. Foi para Barcelona com 15 anos e em 2005 tornou-se profissional. Com presença regular entre os melhores 50 do ranking ATP, já venceu três torneios, incluindo o Estoril Open.
A vitória no Estoril Open de 2018 foi o ponto alto da sua carreira? Fale-nos de outros momentos especiais.
Sim, ganhar um torneio ATP em Portugal, perante a minha família, amigos e fãs, tem um sabor muito especial e inesquecível. Toda a energia sentida durante a semana com o apoio de todos foi muito importante para a vitória e criou sensações incríveis que nunca vou esquecer.
Em que superfície se sente mais à vontade?
Sinto-me bem em qualquer superfície – relva, terra batida, sintético. Não tenho preferência por nenhuma.
Nestes anos de circuito profissional, qual foi o adversário mais difícil que enfrentou?
Novak Djokovic. É quase intransponível, muito difícil colocá-lo em dificuldades, defende e ataca muito bem.
A sua solidez mental e combatividade são muito elogiadas. Durante os jogos, como é que se motiva e mantém a concentração?
Penso ponto a ponto e sempre focado na estratégia definida para o jogo.
Faz ideia de quantos quilómetros viaja por ano?
Muitos!!!!! Penso que perto de 200.000km.
Onde é que se sente em casa?
Em Guimarães, junto da minha família.
Nasceu na região dos Vinhos Verdes, em Guimarães. Lembra-se do primeiro vinho que bebeu?
Não bebo vinho normalmente, não sou grande apreciador.
Costuma provar vinhos dos países onde vai competir?
Não, normalmente bebo água. Essa, sim, já experimentei de todos os países onde jogo!
Qual é o seu prato favorito? E quem o faz melhor?
Arroz de cabidela, feito pela minha mãe; ou bacalhau, feito pelo meu padrinho.
Se pudesse escolher umas férias de sonho, onde seriam? E com quem?
Um destino de mar, tranquilo, Seychelles, Maldivas… Com a minha namorada.
Entrevistas publicadas na revista Grandes Escolhas Edição nº25, maio de 2019
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