Carlos III está hoje no País de Gales, onde termina a primeira ronda de visitas, enquanto monarca, às nações do Reino Unido (Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales).
Centenas de pessoas aguardavam Carlos III e a rainha consorte, Camila, à chegada a Cardiff, capital do País de Gales, apinhando-se nas laterais da High street, uma rua de cerca de 500 metros que sobe até à entrada da catedral de Llandaff, local onde houve uma cerimónia religiosa esta manhã em memória de Isabel II de Inglaterra, que morreu em 08 de setembro, aos 96 anos, após 70 de reinado.
Carlos III e Camila aterraram de helicóptero no parque das imediações da catedral e subiram de carro a High Street, ao som de gritos de saudação e aplausos.
Entre a multidão, havia dezenas de alunos de escolas locais, com bandeiras e desenhos a dar as boas-vindas ao Rei, além de centenas de pessoas de todas as idades, que queriam ver e saudar Carlos III, que foi príncipe de Gales durante quase 70 anos, até à morte da mãe, Isabel II.
Entre os fãs de Carlos III, da rainha consorte, dos novos príncipes de Gales, William e Catherine, e da família real inglesa em geral, destoava Laura Walters, de 29 anos, que disse à Lusa ser galesa e cientista, e que levantava um cartaz onde se lia “Abolição da monarquia”.
A presença de Laura causava indignação entre os seus vizinhos de fila, que iam murmurando palavras como “repugnante” e “falta de respeito”.
“Isto é um funeral, é uma falta de respeito, como é que se atreve a fazer isto? Trata-se de uma minoria, devia ir trabalhar”, ia atirando uma mulher, a quem uma polícia pediu para “desfrutar do momento” e “tentar ignorar” a manifestante, “para não haver agitação”.
Ao contrário do que aconteceu com uma manifestante anti-monarquia em Edimburgo no início da semana, Laura não foi detida nem admoestada pela polícia.
Em declarações à Lusa, disse que em pleno século XXI, o Reino Unido acaba de escolher um novo chefe de Estado de forma “não democrática”, por sucessão familiar, num “sintoma de repressão e desigualdade”.
Laura sublinhou que Carlos III acaba de herdar uma fortuna da mãe e não vai pagar milhões de libras em imposto sucessório, ao contrário de todos os outros britânicos, e num momento em que o país deverá alcançar nos próximos tempos “o maior número de pobres das últimas décadas”.
Às críticas de que estes debates se deveriam fazer depois das cerimónias fúnebres de Isabel II, que terminam na segunda-feira, com o funeral de Estado, em Londres, Laura responde que “é também agora que o novo rei é proclamado, que nomeia novos príncipes e distribui uma série de títulos novos” e por isso “é agora que se deve falar sobre este assunto”.
Ainda há que somar, para Laura, “o insulto extra” que é a monarquia Britânia dar a “não galeses” o título de “príncipes de Gales”, normalmente atribuído aos herdeiros da coroa.
Laura decidiu gritar “paga impostos” à passagem do carro com Carlos III e Camila no local onde se encontrava, mas os gritos de saudação da multidão aos monarcas silenciaram o seu protesto solitário, numa nação do Reino Unido, o País de Gales, onde a monarquia tem o claro apoio da maioria da população.
Segundo uma sondagem de um centro de estudos da Universidade de Cardiff publicada em junho passado, 55% dos galeses apoia a monarquia, 28% querem um chefe de Estado eleito e 17% não tem opinião.
Ainda assim, quase 60% defendem que a monarquia gasta muito dinheiro, segundo o mesmo estudo.
Hoje, com exceção de Laura, todas aa pessoas que falaram à Lusa nas imediações da catedral de LLandoff manifestaram orgulho e apoio à monarquia e ao novo Rei e um entusiasmo especial com os novos príncipes de Gales, William e Catherine.
“Todos adoramos a Kate”, sublinhou Annalisa, que disse ter “mais de quarente anos”, verbalizando aquilo que as sondagens dizem sobre a popularidade da primeira princesa de Gales depois de Diana Spencer.
Após a cerimónia na catedral, Carlos III e Camila aproximaram-se da multidão para cumprimentar algumas pessoas, no meio de mais aplausos e gritos de saudação.
O programa de hoje em Cardiff segue no parlamento de Gales (Senedd), com uma sessão de condolências pela morte da rainha Isabel II e uma intervenção de Carlos III.
A visita termina no Castelo de Cardiff, com Carlos III a receber o primeiro-ministro de Gales, Mark Drakeford, em audiência, a que se seguirá uma receção a entidades locais.
A tradição e regras da monarquia britânica ditam que depois da aclamação, o novo monarca deve visitar as quatro nações do Reino Unido.
Carlos III já passou, desde sábado passado, pelo parlamento britânico, em Londres, e pelos parlamentos locais da Escócia e da Irlanda do Norte, além de se ter encontrado com autoridades das diferentes nações do Reino Unido e ter contactado com as populações, sempre acompanhado pela rainha consorte.
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