O contrato negociado entre sindicato dos atores SAG-Aftra e a aliança dos estúdios de Hollywood AMPTP foi hoje aprovado com 78,33% dos votos, uma margem esmagadora apesar da insatisfação com cláusulas relativas a Inteligência Artificial.
A direção do SAG-Aftra anunciou os resultados algumas horas após o fim das votações, que duraram três semanas depois de uma greve de 118 dias que paralisou Hollywood.
"Hoje fechamos um dos capítulos mais importantes na história recente da indústria do entretenimento ", disse a presidente do sindicato, Fran Drescher, que deu a cara pela luta por um contrato com melhores condições de trabalho para os atores, numa declaração conjunta com o negociador principal, Duncan Crabtree-Ireland.
"Este contrato é uma enorme vitória para os atores trabalhadores e marca o início de uma nova era para a indústria", consideraram, salientando os aumentos salariais, melhor compensação com o streaming e proteções relativas à Inteligência Artificial.
Mas a forma como o acordo aborda esta utilização de IA na indústria, nomeadamente réplicas digitais dos atores, levou 21,67% dos milhares membros do sindicato que participaram a votar "não."
A atriz portuguesa Kika Magalhães, que vive em Los Angeles desde 2016, fez isso mesmo, explicando à Lusa que as provisões do contrato não defendem os interesses dos atores, sobretudo daqueles que não têm poder de negociação.
"Um ator vai fazer um casting [audição] e os produtores perguntam se aceita que façam a sua réplica digital. Se o ator disser que não, podem não lhe dar o papel", exemplificou, antes de a votação finalizar.
Ao contrário do que acontece no contrato alcançado pelo sindicato dos atores (WGA) e a aliança dos estúdios, aqui não há uma especificação de que os artistas têm de ser humanos. Isso abre a possibilidade de que a representação, seja visual ou apenas com voz, seja feita por atores sintéticos -- isto é, réplicas digitais, possibilitadas pelo avanço recente da IA.
No caso dos argumentistas, está especificado que os escritores têm de ser humanos.
O contrato ratificado hoje estará em vigor durante os próximos três anos, o que para o artista de iluminação português Afonso Salcedo, que trabalhou no mais recente filme da Disney "Wish - O Poder dos Desejos", é uma boa duração para perceber como a tecnologia vai evoluir.
O comunicado do sindicato indicou que votaram 38,15% dos cerca de 150 mil membros.
Com o fim da greve e luz verde para novas produções, não se espera um regresso em força do trabalho até ao ano novo, o que significa que em 2024 deverá haver menos filmes e séries que nos anos anteriores.
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