Ela acompanhou-o muitas vezes. Foram companheiros de palco e ele nunca se recompôs verdadeiramente da perda da amiga. Tammi Terrell e Marvin Gaye foram dos cantores mais populares da sua geração mas, ao contrário do que sucedeu com ele, foi ignorada durante décadas e só mais recentemente é que voltou a ser lembrada. Nascida em Filadélfia, nos EUA, em 1949, filha de um barbeiro e de uma atriz com tendências depressivas, a intérprete de "Ain't no mountain high enough" teve uma infância feliz.
Tudo mudaria, no entanto, quando três homens irromperam pela casa onde vivia e a violaram. Tinha apenas 11 anos. A agressão social transformou-a numa adolescente rebelde com vontade de desafiar todas as convenções para ser artista. Aos 15 anos, ainda como Tammi Montgomery, lançou o seu primeiro single, "If you see Bill". Não desistiu de estudar e só atuava aos fins de semana. Em 1962, torna-se vocalista do grupo The Red Caps. É nessa altura que conhece o cantor James Brown, por quem se vem a apaixonar.
Vítima de violência doméstica durante um ano, separa-se do músico e faz uma paragem na carreira para ir estudar matemática, psicologia e francês na Universidade da Pensilvânia, em 1963. Regressa dois anos depois. O fundador da prestigiada editora Motown, Berry Gordy, vê-a a cantar e acena-lhe de imediato com um contrato discográfico. Assina-o no dia em que faz 20 anos. Adota o nome artístico de Tammi Terrell. Apaixona-se pelo colega de editora David Ruffin, um dos elementos dos The Temptations. Ele pede-a em casamento mas, pouco depois, ela descobre que ele tem mulher e filhos em Detroit e amantes espalhadas pelos quatro cantos dos EUA. Não o larga mas as discussões são constantes.
É nessa altura que os seus caminhos se cruzam com Marvin Gaye e com o grande êxito "Ain't no mountain high enough". Apesar de inicialmente destinada a Dusty Springfield, acaba por ser ela a gravá-la com o novo amigo. A química entre os dois era indesmentível mas a amizade nunca evoluiu para um romance. Em 1967, no auge da carreira, começa a queixar-se das muitas dores de cabeça. Dois meses depois de lançarem o disco "United", desmaia, em palco, nos braços do colega, na Virgínia.
A digressão é cancelada quando lhe é diagnosticado um tumor cerebral. É operada e, apesar das previsões dos médicos, recupera. Volta aos estúdios de gravação e grava o álbum "You are all I need" com Marvin Gaye. Pouco depois, sofre uma recaída e é internada. No hospital, conhece o médico Ernest Garret, de quem chega a ficar noiva. Em 1969, grava dois discos, um a solo e outro com o amigo, mas o seu estado de saúde agrava-se rapidamente. É operada mais de uma dezena de vezes, sem sucesso.
Na última intervenção cirúrgica, entra em coma e acaba por morrer, no dia 16 de março de 1970. Tinha apenas 24 anos. Marvin Gaye, devastado e deprimido, entra numa espiral destrutiva de drogas que o acompanha até ao fim da vida. Nos anos que se seguem, além de um divórcio traumático, tem problemas com o fisco e vê os conflitos familiares e a dependência de estupefacientes agravarem-se. Em 1984, numa discussão, defende a mãe. É morto a tiro pelo próprio pai, com a arma que lhe tinha dado. Tinha 44 anos.
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