É actriz, escreve textos humorísticos e ainda faz dobragens. Sente-se uma mulher completamente realizada a nível profissional?
Posso dizer que sim, não tenho nada por fazer. Gostaria de continuar muito calmamente, com as coisas a fluírem como até aqui. Digamos que também tenho tido sorte. Não vale a pena, hoje em dia, fazermos grandes projectos.
Ao longo dos anos tem partilhado muitos projectos profissionais com a Maria Rueff. Como é trabalharem juntas?
É muito bom. Temos uma cumplicidade ímpar. Tivemos a sorte de nos termos encontrado e realmente somos muito amigas e cúmplices. A nossa amizade, ao contrário do que se posso pensar, não serviu para nos desleixar. Responsabilizamo-nos muito uma pela outra.
Sempre quis ser actriz?
Eu sabia que gostava de fazer alguma coisa relacionada com o espectáculo, mas nunca foi uma coisa tão forte que eu tivesse decidido desde cedo. Quando comecei a trabalhar, esta profissão era ainda mal encarada. Portanto, fiz outras coisas até ao dia em que decidi que era mesmo isto o que queria fazer.
Mas sobreviver no mundo artístico, em Portugal, não parece tarefa fácil...
É muito difícil, principalmente pela insegurança. Não é normal que uma pessoa com a minha idade, há tantos anos nesta profissão, continue a trabalhar a recibos verdes. Tenho tido imensa sorte em ter trabalho, mas não posso dizer que tenha segurança. Neste momento posso dizer que tenho alguma, porque pela primeira vez na minha vida tenho um contrato de trabalho com uma estação de televisão. Posso dizer que no próximo ano e meio a minha vida tem alguma segurança. Daí para a frente não sei.
A crise económica e social que o País atravessa assusta-a?
Assusta-me imenso. Nem tanto por mim, que felizmente tenho trabalho nesta fase, mas pelo País em geral e por algumas pessoas que me são mais próximas e têm algumas dificuldades.
A sua carreira evoluiu de mãos dadas com o humor. Como é que vê neste momento o humor em Portugal?
Parece-me muito bem. Até há dois anos as coisas estiveram um bocado mornas em relação ao humor na televisão. Neste momento há humor muito bem feito e com muita escolha. Há humor feito pelos Contemporâneos, pelo Gato Fedorento, há o Vip Manicure, sei que o Camilo vai começar a gravar agora uma série... Agora há também o Bruno Aleixo, que eu acho uma coisa execrável. Só funciona pelo insólito.
Considera que há muito talento em Portugal?
Acho que há bastante. E só não há mais porque cada vez mais se recorre a miúdos com carinhas larocas para fazerem castings, em vez de se procurarem miúdos saídos do Conservatório. No dia em que isso acontecer, tenho quase a certeza absoluta de que haverá grandes mudanças.
Que balanço faz do Vip Manicure?
Está a correr muito bem. Estamos muito contentes com o resultado, estamos a cumprir o que nos tinham encomendado, as pessoas abordam-nos na rua e esse é o principal sintoma de que as coisas estão a correr bem.
Consegue eleger um convidado que lhe tenha dado especial gozo levar ao programa?
Sou muito suspeita, mas eu sou completamente fã do Zé Pedro dos Xutos. Somos muito amigos e diverti-me imenso com ele, mas já houve outros excelentes convidados.
Há algum convidado que fizesse muita questão de levar ao programa?
Gostava de levar alguns políticos.
E acha que haveria abertura para isso?
Não. Os políticos não têm uma ponta de sentido de humor, caso contrário não seriam políticos. Levam-se muito a sério. Mas eu também percebo que eles não se queiram expor num programa de humor, porque acho que isso para o público seria contraproducente. O próprio público não está preparado para ver um homem sério metido com duas galdérias [risos].
Como é que se inspira para escrever os textos humorísticos?
Não consigo responder a isso. Eu acho que tenho umas alucinações. O que eu faço é não ter barreiras. Acho que a idade também nos dá isso. Portanto, escrevo tudo o que penso. Ter boa imaginação e uma boa contracena facilita muito.
Participou duas vezes no Festival da Canção. A música já não faz parte dos seus planos de vida?
Uma vez fui integrada num grupo e noutra fui fazer voz. Mas nunca encarei a música a não ser como um passeio ao estrangeiro, até ao Festival da Eurovisão, para ganhar uns trocos. Eu gosto tanto de música e respeito tanto os músicos que seria incapaz de alguma vez me pôr a gravar um disco. Já há aí gente demais a cantar mal. Só gostaria de ser cantora se fosse a melhor, e como isso nunca foi possível...