Conguito, nome pelo qual é conhecido Fábio Lopes, é uma das caras conhecidas que faz parte do universo Star - o recém-lançado separador da Disney+ que compila vários conteúdos dedicados aos mais velhos - e, numa altura em que as horas em casa se multiplicam, o locutor contou ao Notícias Ao Minuto como se tem entretido durante o segundo confinamento. Mas não só.

A polémica com o filme 'Soul', as expectativas sobre a igualdade racial em Portugal e a nova paixão pela televisão foram outros dos temas que marcaram a conversa.

Que conteúdos o têm agarrado à Disney+?

Sem dúvida a ‘High Fidelity’, há muito tempo que não via algo que me prendesse tanto. É a série com a Zoe Kravitz, em que ela vive em Nova Iorque e é apaixonada por música, tem uma loja de discos, tem aventuras amorosas com músicos. Vi a série toda em dois dias.

Qual a série que está a ver de momento?

Ainda não voltei a prender-me a nenhuma série.

Mas de certeza que há discos a tocar…

Existem dois discos que me deixaram completamente viciado em 2021: o do Slowthai e o da Arlo Parks. São dois discos de jovens na casa dos 20 anos e que revelam uma enorme maturidade. Dois jovens que estão a encontrar-se no mundo, que estão a lidar com a vida adulta, a questionar relações anteriores, a questionar o que vão ser e até a questionar coisas que a pandemia nos obrigou a questionar. Tenho estado a ouvir em alta rotação.

A pandemia foi importante para perceber que se não houvesse aquilo ao início, nunca conseguiria ser o que sou hoje

Ficou mais introspetivo com a quarentena?

Fiquei. Não sei se é o espírito de estar em casa - agora moro sozinho -, mas foi mesmo importante para mim ter esta pequena pausa do mundo. Do género: ‘Agora para e pensa no que queres ser, fazer, o que queres comunicar nas tuas plataformas’. Sem dúvida que a pandemia permitiu perceber o que tenho feito ao longo dos últimos dez anos enquanto pessoa mediática.

E encontrou respostas para essas perguntas?

Sim. Acima de tudo, fiz as pazes com o meu passado. Lá está, começamos a expor a nossa vida na internet muito cedo, principalmente a minha geração de criadores de conteúdo, desde os 15, 16 anos que tem uma pegada digital. Às vezes, quando via esses conteúdos pensava que não me identificava.

A pandemia foi importante para perceber que se não houvesse aquilo ao início, nunca conseguiria ser o que sou hoje. Até foi bom refletir e ver esses conteúdos outra vez, ver como é que eu pensava há cinco, seis anos. Em termos de futuro, estou cá para ter o maior número de experiências para daqui a 50 anos pensar: ‘Wow’.

O universo da Disney marcou a sua infância? Qual era o seu filme preferido?

Marcou, sem dúvida. O meu filme preferido ainda o é hoje, é o ‘Toy Story’. Acho que foi com o ‘Toy Story’ que percebi a importância da amizade. Sempre fui infantil aos olhos de algumas pessoas, mas essa infantilidade deu-me imensa pureza. Sempre fui muito maravilhado com o mundo por causa do universo Disney. Não só o ‘Toy Story’, mas também o ‘Rei Leão’ ainda hoje é um filme que eu adoro.

Este Natal foi diferente, como é óbvio, mas normalmente costumo juntar os meus primos no Natal para fazer maratonas [de filmes].

Igualdade racial? Ainda existe um longo percurso e é importante que as pessoas percebam que não é um problema de agora

Recentemente, uma das produções que mais deu que falar foi o filme ‘Soul’, pela escolha do ator que deu voz a uma personagem negra. Houve inclusive uma petição que contou com o apoio de várias caras conhecidas. É a favor de uma nova versão do filme?

Acho que o que está feito, está feito. Infelizmente, o que aconteceu podia ter sido evitado se fôssemos mais empáticos, mas a verdade é que está feito. O melhor que podemos fazer é olhar para o amanhã e começar a prepará-lo hoje. Acima de tudo, temos de repensar todos os conteúdos, não só na Disney+ mas na sociedade em geral. Olharmos para o nosso prédio, para os nossos vizinhos, para o nosso trabalho e, aí sim, pensar na questão da representatividade.

Foi um caso necessário para acordar as pessoas para a questão da representatividade e da igualdade racial.

Sim, foi um caso que nos obrigou a conversar e acho que é isso que falta. Vivemos numa era em que todas as pessoas são donas da razão, todos gostamos de meter na internet a nossa bandeira. É importante que estas coisas aconteçam porque nos obrigam a conversar e com essa conversa conseguimos evitar que no futuro as pessoas se sintam ofendidas. Precisamos de estar abertos à conversa e à fragilidade. Eu próprio quando errar quero ter consciência disso e também espero que as pessoas tenham compreensão, e que percebam: ‘Ele errou, mas pode melhorar e não fez de propósito, vamos dar-lhe essa oportunidade’.

O ‘The Voice’ foi dos maiores desafios da minha vida. Sentia que crescia semanalmente. As pessoas trataram-me super bem, amei a forma como fui recebido

Considera que há um longo caminho para alcançar a igualdade racial no meio artístico português?

Acho que sim. Ainda existe um longo percurso e é importante que as pessoas percebam que não é um problema de agora. E não é por agora um Conguito estar a apresentar o ‘The Voice’ que o assunto está resolvido. Temos mesmo de mostrar que o racismo sistematizado está completamente inexistente na nossa sociedade, mas talvez isso aconteça daqui a duas gerações.

Antes deste segundo confinamento, terminou o desafio enquanto apresentador digital do ‘The Voice’. Gostava de abraçar uma nova experiência em televisão?

O ‘The Voice’ foi dos maiores desafios da minha vida. Sentia que crescia semanalmente. As pessoas trataram-me super bem, amei a forma como fui recebido. Tinha uma expectativa sobre o programa e essas expectativas foram completamente ultrapassadas. Foi bom, gostei muito. Às vezes, as gerações mais novas dizem que a televisão já não é assim tão fixe, mas é fantástica! É fantástico estares num domingo à noite a falar sobre música, conversar com os maiores talentos nacionais, ter oportunidade de entrevistar alguns dos maiores artistas nacionais. Para mim, um dos momentos mais marcantes da última edição do ‘The Voice’ foi estar à conversa com o Jorge Palma. Ouço-o desde pequeno, um dos meus primeiros CD’s foi o ‘Bairro do Amor’, e 20 anos depois ele estava ao meu lado.

Acho que a televisão tem um longo caminho a percorrer a nível de conteúdos, mas a nossa televisão está boa de saúde. Temos muito talento nacional e muitos jovens na televisão. É importante vermos isso a acontecer. Temos de afastar esta ideia de que está tudo na internet. Também existem coisas boas na televisão.

Há algum formato que gostasse de estrear em televisão?

Não, mas existem dois formatos que eu amo: um deles é ser repórter em festivais de verão e o outro é o ‘Top Mais’. Adorava que houvesse uma nova versão e eu pudesse fazer esse formato.

Preciso muito de um concerto, de estar agarrado às pessoas. Quero muito voltar a viver a energia de um festival de verão

Atualmente, continua nas manhãs da MegaHits. O que é que mudou no seu dia a dia nesta quarentena?

Continuo a ir para a rádio todas as manhãs - cumprimos todas as medidas de segurança, estamos em estúdios separados -, ou seja, a dinâmica é diferente, mas a rotina mantém-se. Depois vou diretamente para casa ou para o meu escritório e estou lá sozinho a consumir música. Comprei uma guitarra, estou a aprender a tocar. Também tenho escrito imenso porque quando isto acabar quero voltar com o nosso projeto da revista, a JAMM. Tenho feito uma coisa nova que se chama ‘365 dias, 365 álbuns’: todos os dias tento ouvir um álbum novo.

O que nos pode desvendar sobre projetos futuros?

Se calhar, em breve, vou fazer coisas novas para o YouTube. Não faço vídeos para o canal há cerca de três ou quatro anos, mas uma coisa que surgiu com a pandemia foi pensar que podia fazer algo de novo.

Qual é a primeira coisa que vai fazer quando ‘recuperar’ a liberdade?

Preciso muito de um concerto, de estar agarrado às pessoas. Quero muito voltar a viver a energia de um festival de verão como o MEO Sudoeste, o Super Bock Super Rock ou o Primavera Sound. Preciso de chegar e conhecer música nova, estar em contacto com novos artistas. Acho que isso faz parte do que é ser o Fábio. Nos últimos dez anos, não me lembro de quando é que não estive ligado à música.

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