Rita Rocha está de mãos dadas com o futuro. Do 'The Voice Kids', em 2021, saiu sem o título de vencedora, embora tudo aquilo que tenha recebido depois desse programa seja, segundo a própria, muito mais do que esperava.
Cresceu na Maia, no Porto, e com apenas 14 anos deixou Carolina Deslandes rendida ao seu talento. As duas traçaram um bonito caminho no concurso de talentos da RTP e a relação profissional tornou-se numa amizade que se estendeu para lá do programa.
Em pouco tempo, o país foi capaz de ver em Rita Rocha o que Deslandes foi das primeiras a ver. Para o lançamento da 'menina mulher' que hoje já tem 16 anos muito contribuiu 'Mais ou Menos Isto', um tema que em menos de nada conquistou as rádios e levou a jovem artista para um patamar onde muitos (com mais idade) ainda não ousaram chegar.
Em exclusivo ao Fama ao Minuto, Rita Rocha faz um balanço de um ano agitado em que precisou de aprender a ser artista à pressa. A verdade é que o país necessita deste seu talento e não há tempo a perder.
2021 foi bom mas 2022 foi o teu ano, concordas?
Em 2021 foi quando tudo começou. Foi quando lancei o ‘Mais ou Menos Isto’, mesmo no finalzinho, em dezembro. Correu da melhor forma que podia ter corrido, não esperava que fosse assim, de todo. Em 2022 foi o depois do ‘Mais ou Menos Isto’. Eu lancei esta música e tive vários concertos, principalmente porque as pessoas conheciam este primeiro tema que lancei. Está a ser incrível, já fechámos um EP que vai sair em 2023, lançámos mais dois singles, fiz imensos festivais... Está tudo a correr super bem.
E como surgiu este 'Mais ou Menos Isto', o tema que catapultou a tua carreira?
Eu já tinha escrito várias canções ao longo dos meus 14 anos. A Carolina Deslandes, que foi a minha mentora no 'The Voice Kids', falou comigo e disse-me: "Vais passar uma semana em minha casa e vamos escrever canções para formares o teu primeiro EP". Estivemos lá uma semana e a primeira música a ser escrita foi a 'Planos', que foi lançada agora, e a seguir foi a 'Mais ou Menos Isto', que foi escrita pela Deslandes e pela Bárbara Tinoco, em conjunto com o Agir e o Feodor Bivol.
A Bárbara Tinoco virou-se para mim e disse-me 'Ritinha, fala-me da tua vida amorosa', e eu pensei 'não vou falar da minha vida amorosa com a Bárbara Tinoco, mas está tudo louco?'. Mas falei e saiu o 'Mais ou Menos Isto'.
Eu fui a última atuação de todas e quando a pessoa que atuou antes de mim saiu disseram-me 'desculpa, já não há vagas'
Tu não venceste o 'The Voice Kids' e és um dos vários casos em que o concorrente que não vence tem, ainda assim, um grande sucesso...
Não esperava que isto tudo acontecesse, nem se ganhasse, nem se não ganhasse. Nem esperava passar das 'Provas Cegas'. As pessoas dizem que isto sou eu a ser humilde mas não é verdade. Eu fui a última atuação de todas e quando a pessoa que atuou antes de mim saiu disseram-me 'desculpa, já não há vagas'. Eu fui na mesma, porque ia cantar e é o que eu gosto de fazer. Mais tarde a Carolina perguntou-me se eu escrevia alguma coisa, eu mandei-lhe o que tinha. Ela gostou muito e acho que foi a partir daí que ela pegou em mim. Tive mesmo muita sorte. Escolhi a pessoa que o meu coração mandou mas, acima de tudo, ela escolheu-me a mim.
O que achas que viram em ti?
É uma pergunta complicada. Não sou muito boa a dizer coisas boas sobre mim [risos]. Sempre fui com o espírito de me divertir, não fui a querer ganhar nem para passar por cima dos outros. Eu só gosto de cantar. Tenho sempre os pés muito bem assentes na terra, sei bem o que quero e quais são os meus objetivos, não sou de me deslumbrar. Para mim, cantar não é só dar notas bem dadas. Para mim, cantar é a base de todas as emoções. Eu canto se estou triste, se estou feliz...
Qual a importância que a Carolina Deslandes tem atualmente e que teve lá atrás, em 2021?
Nem tenho palavras para descrever o que a Carolina foi - e é - para mim. A Carolina foi tudo. Pegou num sonho de uma miúda de 14 anos e disse 'os sonhos podem realizar-se se trabalhares'. Sem ela não estava aqui, devo-lhe tudo. Não só no 'The Voice' mas também depois. Convidou-me para cantar nos concertos dela e era tudo uma novidade para mim. A primeira vez que pisei palcos foi com a Carolina, a primeira vez que cantei no Coliseu foi com a Carolina... Digo muitas vezes que ela é a minha guru e, acima de tudo, tornou-se minha amiga, é como se fosse da minha família, é como meter mais um prato na mesa. Sou extremamente grata.
Que mudanças sentiste na tua vida a partir do momento em que começaste a ser conhecida pelo púbico?
Em relação ao dia à dia não mudei nada. Continuo a ter a mesma relação com os meus amigos, está tudo igual. Obviamente que, em relação à música, houve mudanças. Quando me ouvi pela primeira vez na rádio comecei a chorar, para mim foi estratosférico. Nunca pensei que as minhas músicas passassem lá, as músicas que eu escrevia no quarto...
E a tua família, como encarou este início de carreira?
Acho que nenhum de nós conseguiu processar ainda o que aconteceu, foi tudo tão rápido que penso que nunca vou cair em mim. O meu pai sempre gostou de música, mas ele nasceu para o desporto e não para a música [risos]. O facto de estar a cumprir o segundo sonho dele deixa-o orgulhoso. Ele não é muito de expressar os sentimentos mas eu noto que, quando escrevo uma canção e lha mostro, ele fica feliz. E eu fico feliz também. Sou muito mais feliz desde que entrei para o mundo da música, desde que conheci estas pessoas... a minha vida só tem vindo a melhorar e antes não era má, era ótima.
Quero dar o meu melhor na escola e na música, e às vezes é preciso mentalizar-me de que vou acabar por falhar
Como tens conciliado a música com os estudos?
Não tem sido nada fácil porque tudo acontece em Lisboa e eu vivo no Porto. A minha agência tenta marcar tudo nas minhas férias para nada se intrometer na escola mas não é fácil, ainda por cima estou em Ciências.
Eu gostava muito de tirar medicina e é um bocado complicado, fazer música não é só cantar nem dar dar concertos. Também passa pelo processo criativo, por ter tempo para fazer canções... Eu faço canções a meio das aulas, não devia estar a dizer isto [risos]. Depois também há a gestão das minhas redes sociais, que hoje em dia são muito importantes. É através delas que as pessoas interagem contigo e que começam a seguir o teu trabalho.
Tenho um grande problema: tento constantemente superar-me. Quero dar o meu melhor na escola e na música, e às vezes é preciso mentalizar-me de que vou acabar por falhar num deles em algumas alturas.
Sentes que és mais acarinhada no Porto, onde vives, ou em Lisboa?
Talvez no Porto haja uma manifestação maior, mas o Porto é mais pequenino. Também é lá que ando na escola.
Muitas pessoas ouviram a música 'Mais ou Menos Isto' pela primeira vez no TikTok? Consideras que esta rede social foi determinante para o sucesso do tema?
Arrisco-me a dizer que o TikTok é, neste momento, a plataforma mais influente para todos os artistas que se querem lançar. Eu não sabia que a minha música estava a ter sucesso por lá até um amigo meu me ter dito. Essa versão da música fez com que chegasse a outro tipo de público, talvez a mais rapazes adolescentes. O TikTok foi crucial para o sucesso do 'Mais ou Menos Isto'.
@deborategomes som original - speed songs
Tens sido apelidada de 'menina mulher', tanto pela maturidade que a tua voz apresenta como pelas coisas que dizes e a postura que adotas publicamente. Identificas-te com esta alcunha?
Já sinto há algum tempo que as coisas que são normais para as pessoas da minha idade, não são as coisas que considero normais para mim. As pessoas da minha idade dizem 'bora sair' e eu digo 'prefiro ficar em casa, prefiro ver um filme'. Hoje em dia, as pessoas querem festas e eu não sou nada assim. Talvez vá viver essa fase mais tarde ou até nem precise de vivê-la. Sinto que sempre estive um bocado deslocada. Os meus amigos gozam um bocado comigo porque uso palavras caras.
Tens sido também considerada uma das artistas mais promissoras do país. Como isso te faz sentir?
Fico muito emocionada. Isto é maior do que qualquer coisa com que sonhei na minha vida. Cantar para a minha família fazia-me o mês, o ano... Ler esse tipo de coisas faz-me querer trabalhar ainda mais. Vou trabalhar e tentar corresponder às expetativas, às dos outros e às minhas.
Há uma imagem muito forte, que possivelmente, marca o teu ano. Falo do momento em que atuaste no MEO Marés Vivas, com uma multidão a cantar contigo à tua frente. O que sentiste nesse momento?
Foi extraordinário. Quando me disseram que estava confirmado pensei logo que nunca tinha estado no MEO Marés Vivas. Quando disseram que seria no palco principal eu disse 'boa', mas nem fazia ideia do que isso significava. Quando cheguei lá e vi aquela gente toda, parei no tempo e senti que não estava pronta. Fizemos o nosso grito e quando pisei o palco pensei 'sou mesmo feliz a fazer isto'.
Quando estava a cantar o 'Mais ou Menos Isto' com o público, foi incrível. Não tinha a noção de que tanta gente conhecia a música até aquele momento. Chorei duas vezes no Marés Vivas e eu nem choro à frente de ninguém.
E sentes o peso de ter esta grande música que te 'obriga' a que tudo o que faças a seguir esteja ao mesmo nível?
O 'Mais ou Menos Isto' foi feito por grandes artistas, músicos que são ótimos no que fazem. É uma boa canção, eu tenho essa noção, e agora tenho de fazer outras que estejam ao nível dessa. Obviamente não vão ser iguais, serão diferentes, mas sinto que é a altura de começar a criar o meu estilo, de começar a mostrar as músicas que eu escrevo. O mais importante é sentir-me realizada e sentir que fiz um bom trabalho.
E é isso que podemos esperar em 2023, um lado mais pessoal nas tuas canções?
No primeiro trimestre vai sair o meu primeiro EP. Tive ajuda da Bárbara Tinoco, da Carolina Deslandes, do Agir e do Feodor Bivol. Chama-se 'Miúda do 319', que sou eu, é o número da minha porta. Depois disso, já estamos a pensar no que vamos fazer. Eu tenho muitas canções, demasiadas até, e temos de fazer seleções. Tenho para aí 60 canções que não sei o que fazer com elas. Enquanto isso, continuo a fazer mais.
Que conselhos te dão estes vários artistas que tens mencionado?
Eles dão conselhos mesmo sem falar. Basta olhar para eles e observá-los e aprendo muita coisa. Tenho aprendido muito a ir ver os concertos da Carolina [Deslandes].
Qual era a melhor coisa que te poderia acontecer neste novo ano?
Cantar com os Quatro e Meia. Sou a maior fã deles e cantar com eles seria um grande momento na minha vida. Já foi verbalizado, mas não para eles. Tenho vergonha. Acho que cantar com eles me faria muito bem.
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