Movida pela curiosidade, fiz-me ao caminho para conhecer a famosa Quinta dos Loridos, propriedade situada no Bombarral, com uma grande tradição histórica e de vocação vinícola.
Mas não foi por isso que lá fui. Fui, sim, ver os famosos budas do comendador Joe Berardo, objecto do falatório nacional em várias frentes e que, ao adquirir a quinta, transformou para sempre aquela pacata região.
É que os cerca de 35 hectares de terreno, antes entregues a uma mataria tipicamente portuguesa, estão agora transformados naquilo que, sem modéstia, se assume como o maior Parque Oriental da Europa.
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Segundo o jornal regional Gazeta das Caldas, Joe Berardo quer fazer do local um espaço de meditação e de Paz que "seja um contributo para um mundo melhor".
A inspiração para o local foi aparentemente colhida na indignação do comendador pela destruição das famosas estátuas dos Budas de Bamyan, no Afeganistão, pelos Talibans.
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O autor deste originalíssimo projecto foi o arquitecto paisagista José Cornélio, que conseguiu a proeza de inserir na insuspeita paisagem portuguesa adjacente a uma casa vinícola, 6.000 toneladas de estátuas e construções representativas do mundo oriental.
Devo dizer que vim de lá tão impressionada, que nem sei bem por onde começar.
O parque ainda não está terminado mas já dá para perceber que não se olhou a despesas nos materiais utilizados dos pavimentos, revestimentos, construção e plantação.
A área é suficientemente grande para permitir um agradável passeio, com locais de descanso e vistas, no mínimo, surpreendentes. O que não sei é se a estatuária exposta permite a tal meditação e tranquilidade que o comendador pretende provocar.
Em mim, causou antes uma enorme inquietação. É que, espalhadas pelo parque estão budas às centenas, nas suas inúmeras declinações, a maior parte das quais consegui conhecer nas versões originais somente ao fim de cerca de 35 anos de viagens pelo mundo fora.
Mas é que não há só budas. Um exército de centenas de soldados, que julgo serem inspirados nos guerreiros de Xi'an, mas que, em vez de serem em terracota, parecem sair da fábrica de cerâmica da vizinha Caldas, pintadinhos de fresco, alinha-se ao longo de uma encosta.
Por detrás do dito exército, surgem uns cavalos gigantes de granito cujas origens a minha ignorância não permitiu apurar. Há pagodes chineses. Muitos.
Espalhados por todo o lado, alguns enormes, alguns pequenos. Os caminhos são pontuados por lanternas de pedra. Há portais de templos shintoistas e pontes definitivamente chinesas.
Todas as estátuas, anacrónicas porque novinhas em folha, foram importadas da China, mas não se percebe bem porquê, algumas foram feitas com granito português (este exportado). O centro deste espaço oriental é um enorme lago artificial, com um pavilhão central, onde convivem peixes Koi de diferentes variedades, com lindíssimos e exóticos gansos certamente também importados.
O parque está projectado de maneira a que se possa passear não só em volta do lago, mas também por zonas mais elevadas de onde se avistam diferentes perspectivas da abundante estatuária. Enfim, o mistério oriental está ali todo concentrado no Bombarral em versão digest.
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E não tenho dúvida que vai fazer história na região, atraindo milhares de visitantes quando estiver pronto.
Curiosamente, tenho visto na imprensa uns artigos pouco simpáticos para o parque, mas apenas porque na construção deste se arrancaram sobreiros, o que é proibido no nosso país e implica o pagamento de uma multa (de resto despicienda para os bolsos do proprietário) ou porque ainda não tem as habituais licenças camarárias.
Não importa. A mim, o que me chocou foi o exagero na quantidade e na diversidade dos elementos orientais utilizados, que redunda num efeito exactamente contrário ao de um ambiente budista.
A impressão final é a de um parque temático ao gosto americano, pouco sóbrio e excessivo. Muito pouco propício à meditação.
Texto: Vera Nobre da Costa
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