Antigas e modernas, raras ou em vias de extinção, trepadeiras ou arbustivas, as roseiras da Quinta do Arco, na Madeira, são uma autêntica homenagem à rainha das flores.

Esta casa senhorial do séc. XIX, situada em zona rural e cercada por espaços verdes e imensas montanhas, esconde uma colecção única, de fazer inveja.


Ao longo das últimas décadas, Miguel Albuquerque, coleccionador compulsivo de roseiras antigas e modernas, como ele próprio se assume, foi alimentando a paixão e conseguiu reunir na sua propriedade na zona Norte da Madeira mais de 1500 variedades diferentes de rosas.

Distribuídas por cerca de 17 mil roseiras, este conjunto faz da Quinta do Arco um espaço sem paralelo em Portugal e dos poucos com idêntica diversidade vegetal que existem no resto do Mundo.

O interesse pelas plantas em geral, esse, herdou-o do avô, um homem dotado de um gosto especial por botânica e os indícios da paixão pelas rosas desde muito cedo se começaram a revelar. Durante muitos anos, a colecção particular de Miguel
Albuquerque era apenas privilégio da família e amigos mas há quatro anos, decidiu partilhar o imenso património que constitui o roseiral e franqueou ao público as portas da quinta.

As rosas que aquele espaço abriga fazem as delícias de quem visita estes jardins cuidados por mãos experientes e a sabedoria de quem partilha conhecimentos com coleccionadores de todo o mundo. E esse privilégio tem-lhe valido a aquisição de espécies muito raras e exóticas, que podem ser apreciadas na Quinta do Arco.

Miguel Albuquerque tem noção de que para muitos a colecção «constitui um fenómeno surpreendente» ou um espectáculo «singular de beleza e cor» mas para ele significa «a partilha de uma paixão» com os concidadãos.

Em perfeita harmonia com o roseiral convivem pomares de abacateira, bananeira de prata, figueira, laranjeira e muitas outras espécies representativas da flora da Madeira e da floresta Laurissilva (Património da Humanidade), que fica paredes-meias com a quinta.

Cada rosa sua história

Numa autêntica sinfonia de perfumes e tonalidades, a Quinta do Arco acolhe algumas das mais antigas roseiras de jardim que são, segundo alguns especialistas, as criadas antes de 1867 e que encontram na Madeira as condições edafoclimáticas ideais para se desenvolverem.

O microclima característico do arquipélago permite ao roseiral albergar espécies oriundas dos quatro cantos do Mundo que marcam épocas, culturas histórias contadas através das cores, texturas e formas das rosas.


Veja na página seguinte: Os segredos das espécies que encontra neste jardim

Reza a história que grande parte dos híbridos foi concebida em jeito de homenagens ou como forma de perpetuar o amor. Talvez por isso, Miguel Albuquerque concebeu uma rosa a que deu o nome da mulher, Elisabete Albuquerque e que exibe como uma ponta de orgulho.

As roseiras de Damasco, por exemplo, conhecidas pelas suas 60 pétalas, foram rainhas em jardins persas e árabes. A sua essência era utilizada para fabricar produtos de cosmética utilizados na antiguidade.

Actualmente, existem numerosas variedades desta espécie, fruto de sucessivos cruzamentos e criação de novos
híbridos em todo o Mundo. Estas roseiras são famosas pelos aromas que oferecem, mesmo ao olfacto menos treinado. No Roseiral da Duquesa de Bragança é obrigatório contemplar a rosa de Quatro Estações que, além das características da rosa de Damasco, goza de um período de floração bastante prolongado.

As roseiras Gallicas, que se destacam por serem as primeiras rosas cultivadas em jardins, caracterizam-se pelas diversas formas que exibem e pela sua beleza cromática. São arbustos compactos, cujas cores das flores variam entre rosa, branco e vermelho escuro. No roseiral, pode encontrar bicolores e até tricolores,
de formas singelas, dobradas ou bidobradas.

Modas e raridades

As rosas da China (Rosa chinensis), que chegaram à Europa nos finais do séc. XVIII, podem ser apreciadas entre a Primavera e o Outono, pois a principal característica destas roseiras é a floração contínua. Algumas espécies têm flores isoladas, outras agrupam-se no mesmo cacho. Caíram no esquecimento por serem pouco rústicas, mas as roseiras de Chá ganharam destaque nos jardins do séc. XIX, sobretudo nos anos 30 e 40, e nascem do cruzamento entres duas rosas chinesas.

A grande vantagem desta espécie é as diversas fases de floração ao longo do ano. As roseiras Noisettes, por sua vez, constituem um dos ex-líbris da Quinta do Arco. Nasceram no início do séc. XIX nos EUA, pela mão do viveirista francês Philipe Noisette, através do cruzamento de uma roseira da China e uma roseira
Moschata.

A beleza ímpar e as sucessivas camadas de flores com que nos presenteiam desde a Primavera até ao Outono, são as principais características desta espécie.

Entre as plantas antigas que encontram abrigo na quinta, as roseiras de Musgo destacam-se pela singularidade e raridade. Esta designação deve-se à existência de glândulas nas pétalas, no cálice e nas hastes florestais, que fazem lembrar musgos. As rosas de Musgo estiveram na moda nos séc, VXIII e XIX mas hoje o seu
cultivo está apenas reservado a coleccionadores.


Veja na página seguinte: A história das rosas inglesas da quinta

A origem das modernas

Na segunda metade do séc. XIX, surgem as chamadas rosas modernas. A primeira nasce do cruzamento acidental de uma roseira de chá com uma perpétua híbrida, baptizada La France.

As flores são grandes e adoptam a forma de cone, em tons
rosa suave, com o reverso das pétalas mais escuro. A partir desta descoberta, foram criados numerosos híbridos, mais ou menos perfumados, de cores vivas ou mais suaves.

Da vasta colecção de roseiras modernas, merecem especial atenção as
Floribundas, pois constituem o segundo grupo mais popular, logo a seguir às híbridas de chá. As rosas são pequenas e rústicas e começam a florir na Primavera para terminar em Dezembro. Conhecidas mundialmente como roseiras inglesas, são um ponto de passagem obrigatório na Quinta do Arco. Elegantes e de grande robustez, criadas com o objectivo de reunir numa única espécie o perfume e a forma das rosas antigas com a robustez e a longa floração das modernas.

Da Suiça chegam, em 1922, as roseiras modernas em miniatura. Concebidas a partir de uma roseira anã oriental, são especialmente indicadas para espaços pequenos. Regra geral, têm flores e folhas de pequeno porte mas existem algumas de maiores dimensões, conhecidas como roseiras de pátio.

Na quinta, pode apreciar ainda dois grupos de trepadeiras modernas. As trepadeiras híbridas de chá têm flores grandes e isoladas e apresentam longos períodos de floração. O segundo grupo, que reveste as pérgolas, dá cor aos arcos e constitui um excelente revestimento dos muros que ladeiam a quinta.

Para descobrir todos os mistérios deste espaço único em pormenor, a Quinta do Arco está dotada de 20 casas independentes e separadas entre si o suficiente para garantir privacidade e momentos de lazer em ambiente tranquilo e tipicamente
rústico. As antigas instalações da quinta foram recuperadas e algumas das casas preservam antigos equipamentos rurais, como o lagar onde em tempos se produzia o vinho Jaquéz, entre outros néctares regionais.


FICHA TÉCNICA
9230-018 Arco de São Jorge
Ilha da Madeira
Telefones: 291 570 270 / 291 570 250
Fax: 291 570 276
Internet: www.quintadoarco.com


Texto: Rita Gonçalves (na Madeira)