Já há alguns anos que tinha muita curiosidade em visitar o famoso Eden Project, situado no Sul de Inglaterra, em Cornwall, um cenário futurista imaginado por Tim Smit, que, na verdade, não passa da maior estufa do mundo.

Construído a partir de um enorme buraco numa pedreira de onde durante anos se extraiu Caulino, o Eden Project é o triunfo positivo do Homem sobre a Natureza,
no sentido em que, a partir de um cenário desolador, se erigiu um magnifico espaço científico e recreativo, totalmente auto-sustentado.

Para quem chega de Londres de carro, as cinco horas de viagem são imediatamente compensadas com a extraordinária visão dos biomas, umas enormes bolhas plásticas que se avistam da estrada e que constituem o elemento mais interessante e espectacular do projecto.

Considerado pelo jornal The Times como "educação feita por visionários", o Eden Project autodefine-se como a prova viva de que a sustentabilidade é possível. A partir do fosso esgotado de uma pedreira, e apenas com os recursos naturais do local, criaram-se dois verdadeiros jardins botânicos: uma floresta tropical e um parque mediterrânico.

O Bioma da Floresta Tropical é impressionante, quer pelas condições de humidade e temperatura, em tudo semelhantes a um verdadeiro ambiente tropical, quer pela vegetação exuberante, arranjada ao longo de um percurso em que nem faltam as quedas de água e o cantar de pássaros invisíveis.

Se não olharmos para cima, onde em vez de céu temos um tecto constituído por hexágonos feitos de uma matéria plástica e os tubos gigantes do ar condicionado, podemos imaginar-nos a passear no Brasil ou na Tailândia, mesmo que as temperaturas exteriores sejam negativas. De resto, a sensação é a mesma.

O Eden tem o estatuto de fundação e é uma obra de beneficência, recuperando assim todos os impostos (28 pences em cada libra) sobre eventuais donativos. Os lucros obtidos com as entradas, as refeições e as vendas de plantas e da inevitável loja de merchandising vão direitinhos para os seus objectivos educacionais e ambientais, de investigação e conservação.

Os cerca de nove milhões de visitantes até à data (o Eden foi inaugurado no ano 2000), não saem defraudados, porque o projecto, além de científico, assumiu inteligentemente as características de um parque temático, capaz de atrair e entreter as multidões.

Vários restaurantes com preços e menus diferentes ajudam a quebrar o cansaço da visita e, à saída, uma enorme área de compras permite-nos levar plantas ou sementes para casa, mas também uma infinidade de inutilidades muito apetitosas á vista.

E, se para a minha sensibilidade, há detalhes de franco mau gosto, como uma cabana de palha com umas t-shirts a secar na Floresta Tropical (para dar mais veracidade ao cenário) ou o pátio de uma suposta Villa Italiana (para melhor recriar um ambiente mediterrânico), a verdade é que, para as crianças, é um local de aprendizagem ideal.

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Uma visita ao Project Eden é uma chamada de atenção eficaz contra os atentados à Natureza e uma luz de esperança para a possibilidade de inverter o processo ou, pelo menos, demonstrar que é possível corrigi-lo.

Devo confessar que, embora tenha achado a visita muito interessante, nunca deixei de ter a sensação de que estava numa espécie de Disneylândia de plantas.

Saí de lá com um amargo de boca a pensar na perversão que é atentar contra a Natureza e depois usar todos os recursos científicos disponíveis para recriar aquilo que já tínhamos e fomos pacatamente destruindo. Afinal de contas, as bolhas biomas, embora grandes, em caso de catástrofe só vão servir para alguns...