Fui passar uns dias à Irlanda, país que já tinha visitado por duas vezes, a última das quais em 1993. As diferenças nestes catorze anos de intervalo são abissais, fruto do extraordinário desenvolvimento económico que uma estratégia inteligente conseguiu levar a cabo. As estradas estão melhores, as casas mais bem arranjadas. Dublin é agora uma cidade que, embora pequena, tem uma efervescência e uma dinâmica próprias de uma sociedade próspera.

Uma coisa, porem, não mudou na Irlanda: o tempo. Em pleno Verão, o meu guarda-roupa prudentemente organizado após consulta da Internet, consistiu na recuperação das peças que, por cá, só uso no Inverno. Caxemiras, botas, chapéus impermeáveis e gabardinas forradas, salvaram a estadia de um colapso imobilizante.

Fiquei uns dias perto de Kildare, a uma hora de Dublin, em pleno campo como convém, e resolvi explorar o que se me oferecia nas redondezas com interesse para visitar. Consultado o meu guia Michelin, verifiquei que havia uns jardins japoneses muito perto, avaliados com duas estrelas.

Segundo o meu guia, mereciam o desvio. Como, para mim, visitar um jardim é irresistível, lá parti, embora com grandes dúvidas sobre a qualidade dos mesmos.

Os jardins japoneses foram encomendados por Lord Wavertree a Eida e ao seu filho Minoru e a construção processou-se entre 1906 e 1910. Já escrevi sobre Kyoto e os seus jardins nas páginas da revista Jardins e a minha opinião é que são os jardins mais maravilhosos do mundo. Tentar replicá-los noutras paragens é um projecto muito ambicioso e arriscado.

No entanto, estes jardins japoneses, se não encantam, também não desapontam. Extremamente bem cuidados (não havia uma infestante nem um ramo seco à vista), conseguem captar a atmosfera de um jardim de passeio japonês com algumas adaptações e utilização de flora local.

O percurso do jardim conta uma história, em que o passeante vai do Túnel da Ignorância para o Monte do Conhecimento, que por sua vez desemboca, se não nos enganarmos no caminho, na Ilha da Alegria e do Encantamento. Não faltam umas pontes (a Ponte do Noivado e a Ponte do Casamento), nem uns bem desenhados canais de água que terminam na Casa de Chá e no Monte da Sabedoria.

Durante o meu passeio, que durou cerca de uma hora, a chuva caiu em bátegas generosas, coisa que não desencorajou nenhum dos inúmeros visitantes. Lá consegui tirar umas fotografias, mas quando cheguei ao ponto final da visita, que por sinal se chama o Monte das Lamentações, o meu estado de espírito estava muito identificado com o nome do dito.

Só quando me consegui secar na inevitável loja de souvenirs à saída e dei uma olhada nas fotografias que tinha tirado é que, mais uma vez, realizei o quão extraordinários são os anglo-saxónicos no seu amor pelos jardins, no perfeccionismo com que os mantêm e na determinação de replicar o que os encantou noutras paragens.

Eternos exploradores, admiram o exotismo sem nunca o verdadeiramente assimilar. Mas querem-no ali para seu próprio prazer e contemplação. Já sabe, se for para aqueles lados nas suas férias, não deixe de visitar os jardins japoneses de Kildare. É que eles merecem mesmo o tal desvio!