Milaneza
Éramos cinco dentro da carripana que o Manel tinha herdado do avô, e só queríamos que o calhambeque aguentasse até à Zambujeira do Mar. Depois logo víamos, se o motor pifasse ou assim, voltávamos à boleia.
Mas a verdade é que chegámos, no meio de um calor infernal – sabem o que é percorrer meio país sem ar condicionado?! – e com o tubo de escape a ameaçar ficar algures numa curva a seguir a Vila Nova de Milfontes.
Primeiro banho de mar tomado, o bronze a despontar, carripana estacionada, tendas montadas... Estava tudo a postos para a cena mais épica de sempre. Let’s get the party started!!!
Só que a festa teve logo uns percalços à entrada. À passagem pelos seguranças, as perguntas da praxe, abrir as mochilas, fazer vistoria aos bolsos das calças... Enfim, os procedimentos de segurança do costume. Até que chegou a vez do Manel e lhe pediram para abrir a mochila. O segurança fez cara de caso, olhou para nós, depois para o Manel.
- O que é que tem aí dentro?
Olhámos uns para os outros. Que raio se passava? O Manel, sempre na descontra, como se não fosse nada com ele, respondeu:
- Oh, isto? São só umas cenas para ficar mais consoladinho logo à noite...
Foi quando o segurança disse para nos afastarmos que sentimos que o ambiente não estava a ficar lá muito amigável.
- Faça favor de tirar essa caixa da mochila.
E o Manel, sem perder o sorriso tonto, lá obedeceu. Já nós, nem queríamos acreditar quando o Manel tirou de dentro da mochila uma caixa de plástico cheia de rissóis. Caseirinhos, feitos naquela manhã pela Dona Fernanda, a mãe do Manel.
Até hoje não sabemos se os rissóis ficaram retidos na entrada por causa de alguma regra do festival, ou se os seguranças estavam simplesmente com fome e viram ali um consolo para o estômago.
Quem ficou desconsolado foi o Manel, coitado, que esperava mordiscar rissóis pela noite dentro. Por isso, naquela primeira noite, fizemos questão de lhe pagar um belo jantar de noodles, com tudo a que tinha direito. Muito melhor que rissóis.
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