A história, digna do enredo de uma grande produção de Hollywood, começa com um português e com um veleiro em alto mar. Em 1888, com 16 anos, Francisco Correia Sarmento partiu da ilha de Santa Cruz da Graciosa, nos Açores, rumo aos Estados Unidos da América. De Boston dirigiu-se para o oeste selvagem, na Califórnia, casou com uma emigrante inglesa e, três gerações mais tarde, nasceu Carrie. Cem anos e outro veleiro depois, a vida prega-lhe uma partida, fruto de um (in)feliz acaso.
Hans Jorgensen, um dinamarquês que trabalhou durante 20 anos na Malásia como engenheiro numa fábrica de processamento de óleo de palma, conhece Carrie e ambos decidem trocar a vida numa plantação tropical por uma embarcação deste tipo e velejar ao largo da Europa em busca de um lugar para se instalarem, formarem uma família e plantar uma vinha. Uma avaria no barco obriga-os, contudo, a desviar para o Algarve, em 1998.
Enquanto aguardam pela chegada das peças para a reparação, alugam um carro e partem à descoberta do país. O que aconteceu de seguida foi relatado ao pormenor numa das sessões da iniciativa Wine Talks, promovida, ao jeito de tertúlia, pelo Epic Sana Algarve Hotel, em novembro de 2014. Durante a estadia na Vidigueira, as colinas cobertas de carvalhos recordaram a Carrie a sua Califórnia nativa e a proximidade da Serra do Mendro, com os seus 400 metros de altura, convenceram Hans de que era uma localização perfeita para produzir vinho.
Vinhos portugueses inspiram grandes chefs
Em tempos idos, já os romanos haviam achado que aquele era um local excelente para plantar vinhas e oliveiras. O passar dos anos mostrou aos fundadores da Cortes de Cima, uma propriedade familiar com vinha e olival que produz vinhos que têm ganho distinções internacionais, que a escolha de vida que fizeram não poderia ter sido mais feliz. A história fez as delícias dos presentes no jantar temático de degustação de vinhos do produtor e de especialidades do chef Luís Mourão, um dos quatro organizados pelo hotel.
Esta iniciativa está, no entanto, longe de ser exclusiva, associando quase sempre a prova de vinhos a sabores requintados de grandes chefs, com histórias e explicações dos produtores pelo meio. Em junho deste ano, foi também o que sucedeu com o jantar vínico da Bacalhôa Vinhos de Portugal no Altis Grand Hotel, em Lisboa. Depois de um cocktail com espumante Loridos Vintage 2011, foi servida uma ementa composta por seis pratos dos chefs das unidades hoteleiras do grupo, regados com outros tantos néctares.
A partir de amanhã, dia 29, além da degustação de vinhos, as tertúlias vínicas Rua das Pretas misturam-se boa música, bom vinho e boa conversa, iniciando um tour por algumas das maiores adegas nacionais. «Juntar o charme das vinhas com a delícia dos bons vinhos e o prazer de ouvir boa música tocada e cantada ao vivo é o mote para fazer a primeira tournée vínica da Rua das Pretas e percorrer adegas do Alentejo, Lisboa, Bairrada, Douro e Dão», informam os promotores em comunicado.
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Momentos de partilha que ficam na memória
Pierre Aderne, cantor e compositor do mundo, nascido em França, criado no Brasil, filho de um português e de uma brasileira, inicia o «tour vínico», como lhe chama, no dia 29 de agosto, entre as 19 horas às 22 horas na Herdade do Esporão. «A primeira tertúlia vínica conta com a presença de Nadine Brás, João Barradas e Tiago Pereira», pode ler-se no documento. Kátia Guerreiro, Cristiana Águas, Cuca Roseta e Sara Tavares são presença habitual nas tertúlias que inspiram esta digressão.
«O vinho e a música têm a capacidade de juntar pessoas de forma orgânica e criar momentos especiais de partilha. O facto de ser em adegas potência ainda mais essa aproximação entre público e artista. Será tempo, nas adegas, de receber pessoas e celebrar o seu maravilhoso vinho», refere Pierre Aderne. «Quando iniciei estas tertúlias vínicas, há quase 10 anos, ainda no Rio de Janeiro, sonhava em poder fazê-las em adegas portuguesas, pois o vinho sempre foi o fio condutor dessas noites», confessa.
Texto: Luis Batista Gonçalves
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