Depois de dedicar parte da sua carreia a desenhar mobília e a fazer projetos de interiores, Noé Duchaufour-Lawrance sentiu que precisava de uma mudança radical na sua vida. Como forma de sair da sua zona de conforto, decidiu pôr em prática um sonho antigo: abrir uma galeria com coleções da sua autoria que primassem pela sua forte ligação e respeito pela natureza. Lisboa foi o local escolhido para instalar a Made in Situ, que abriu portas em 2020 e cujo conceito alia o território, a gastronomia e o design.

O que têm em comum o bronze e a cera de abelha? Uma sinergia que dá lugar a uma peça de design única
Noé Duchaufour-Lawranc mudou-se para Portugal para retomar o seu contacto com a natureza e lançar o seu projeto de sonho. créditos: CLEMÉNT CHEVELT

No espaço de dois anos e meio, o designer francês desenvolveu três coleções da sua autoria que são um reflexo das suas aventuras pelos recantos de Portugal onde teve a oportunidade de descobrir técnicas artesanais, diferentes materiais e novos processos de produção ao contactar com artesãos. “Apesar de existir muita evolução, uma das razões pelas quais me quis mudar para Portugal foi porque senti que este ainda era um país com tradições e onde havia a oportunidade para fazer estas conexões facilmente”, explicou em entrevista ao SAPO Lifestyle sobre os motivos que o fizeram mudar-se para a capital portuguesa.

Em cada um dos projetos que foi desenvolvendo ao longo dos anos, o designer francês teve a preocupação de explorar e reinterpretar diferentes materiais tipicamente portugueses, como é o caso do barro negro, da cortiça e do azulejo. Na Bronze & Beeswax, que é a quarta e última coleção da Made in Situ, as suas matérias-primas de eleição foram o bronze e a cera de abelha.

Made in Situ Bronze&Beeswax
créditos: CLEMÉNT CHEVELT

“Ao olhar para o bronze e a sua luz, e o facto de ter passado de um estado líquido para sólido, pensei diretamente na vela que está a derreter e depois volta a ficar sólida. Pensei que a relação com o quente era super interessante e decidi fazer uma coleção em torno disso”, referiu sobre a fase inicial deste projeto composto por um conjunto de castiçais e velas de diferentes formatos. Em relação ao processo criativo, Noé Duchaufour-Lawrance explica que este não é linear e que a inspiração pode surgir da forma mais imprevisível e em qualquer lugar. “Muita da inspiração surge do conceito e o conceito está relacionado com a natureza.”

Mas este projeto - que demorou cerca de dois anos e meio a estar concluído – também contou com muitos desafios, algo que obrigou o designer a adaptar-se aos imprevistos que foram surgindo pelo caminho. “Aquilo que adaptei mais foi o formato do objeto porque não sabia bem como o fazer”, referiu sobre a Bronze & Beeswax que está em exposição na sua galeria localizada no Príncipe Real.

Made in Situ Bronze&Beeswax
créditos: CLEMÉNT CHEVELT

Outro prendeu-se com os materiais utilizados nesta coleção e com o seu impacto no meio ambiente. De forma a excluir a parafina, tradicionalmente usada no fabrico de velas mas conhecida pelo seu carácter poluente, Noé Duchaufour-Lawrance teve a preocupação de optar por uma solução mais natural. Assim, decidiu apostar na cera de abelha que “é extremamente difícil de encontrar em Portugal”, o que obrigou a que as abelhas tivessem de ser importadas do Senegal específicamente para esse fim.

Foi através da troca de ideias e do boca em boca que o designer conseguiu dar a volta às dificuldades que apareceram no seu caminho e encontrar as oficinas, artesãos e produtores locais certos e que o ajudassem a concretizar esta coleção: em Portalegre foi feita a extração da cera de abelha, em Peniche foi feita a fundição dos candelabros em bronze e em Fátima a produção das velas. “O que foi interessante é que partimos do bronze e de repente estávamos a falar de abelhas, que eram tão importantes como os próprios candelabros, e é assim que as coisas se interligam. Assim que trabalhamos com a natureza, temos de nos preocupar com aquilo que está à nossa volta e a fragilidade do ecossistema que nos rodeia”, realça.

Ao todo foram criados 15 candelabros de estética minimalista que se dividem em duas famílias: a Lux (composta por peças verticais com diferentes alturas e larguras, sendo que cada vela deve ser colocada no seu interior) e a Flux (composta por peças verticais e horizontais, sendo que cada vela deve ser colocada no topo). Cada uma das peças, que podem ser combinadas livremente entre si, são feitas de contrastes: o exterior rugoso é revestido com uma patina escura enquanto o interior dourado é luminoso e polido.

As velas de cera de abelha estão disponíveis em diferentes tonalidades, que vão desde o amarelo ao castanho, e tem um aroma a mel.

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