A autorização para a reconversão veio diretamente de Roma. Foi dada pelo papa Paulo III em 1535. Fundado por um casal de nobres que não tinham descendência, D. Pedro da Cunha Coutinho e D. Beatriz de Vilhena, no paço onde residiam no antigo lugar de Monchique, na zona ribeirinha do Porto, o convento da Madre Deus de Monchique foi, entre 1538 e 1834, um espaço de reclusão e de oração feminino pertencente à Ordem dos Frades Menores e à Província de Portugal da Observância.
Com a extinção das ordens religiosas, teve outras vidas. Foi depósito de arsenal militar, fábrica de moedas, armazém de ferramentas, depósito de reservas de pólvora e repartição das obras da Alfândega do Porto, hoje um dos melhores centros de congressos europeus, localizado a uma centena de metros. Em 2012, parte do convento e dos edifícios anexos foram adquiridos pelo grupo hoteleiro NEYA, ganhando uma nova vida com a abertura do novo NEYA Porto Hotel, no passado dia 3.
Localizado nos números 35 a 41 da rua de Monchique, representa um investimento de 18 milhões de euros, cerca de 6,5 comparticipados. Conta com 124 habitações, incluindo 65 quartos e suites com vista de rio, 22 com vista para o antigo claustro do convento e 34 com vista para o espaço ajardinado que foi recuperado. Ainda a funcionar em regime de soft opening, integra o restaurante Viva Porto, o sky bar e lounge Último, um business center, um kids club e três salas de eventos, como pode ver de seguida.
Nos próximos meses, está também prevista a abertura de um spa, que ocupará três andares e que funcionará num antigo espaço do convento, onde Teresa de Albuquerque, a heroína do romance "Amor de perdição", publicado por Camilo Castelo Branco em 1862, se despediu do seu amado, Simão Botelho, obrigado a embarcar num navio a caminho do degredo. Apesar da obra já ter entrado na reta final, ainda está por definir se o espaço será concessionado ou gerido pela unidade hoteleira.
"Não é o nosso core [negócio central] e não queremos defraudar as expetativas dos clientes", revelou Yasmin Bhudarally, administradora do grupo NEYA, a um grupo de jornalistas durante uma visita ao hotel, enquanto apontava para o arco que se crê ser manuelino que decora uma das portas do antigo convento. Alguns dos materiais usados na recuperação do edifício datam dessa altura. "Nós quisemos preservar a estética dos materiais, sobretudo da pedra, da madeira e do betão", assume.
"Não quisemos ser muito certinhos. A ferrugem dos materiais foi um dos elementos que quisemos preservar", acrescenta ainda. A escolha das matérias-primas utilizadas é apenas uma das vertentes de um projeto que, tal como sucede com o NEYA Lisboa Hotel, que o grupo abriu na capital em 2011, procura reduzir ao máximo o seu impacto ambiental. Além de painéis solares para aquecimento de água, há redutores de caudal em todas as torneiras e janelas que reduzem as emissões de carbono.
"A nossa pretensão é sermos um conceito hoteleiro sustentável", admite mesmo Yasmin Bhudarally. "Tal como o de Lisboa, também este vai ser um hotel neutro em carbono, com a compensação de emissões através da reflorestação de áreas florestais", esclarece a executiva. Adiada por causa da COVID-19 está, para já, a pretensão de acolher os familiares de crianças hospitalizadas no âmbito do projeto Quarto Solidário, que o grupo hoteleiro 100% português dinamiza no NEYA Lisboa Hotel.
"Não podemos desenvolver esses contactos aqui no Porto por causa da pandemia mas a nossa ideia é alargá-lo agora a esta cidade", confirma a administradora das duas unidades hoteleiras, enquanto mostra algumas das 12 suites do NEYA Porto Hotel que homenageiam as principais indústrias da região, patrocinadas por algumas das empresas mais prestigiadas desses setores, como é o caso da Viúva Lamego, da Corticeira Amorim, da Delta Cafés, da Arcádia, da Castelbel e da Bordallo Pinheiro.
Além de uma decoração exclusiva da responsabilidade dessas companhias, os hóspedes que as reservarem serão, futuramente, recebidos com um pequeno filme que conta a história da marca. "Os que ficarem na suite Arcádia terão chocolate quente, a abertura das camas será com chocolates da empresa e vamos ter a possibilidade de fazer visitas à fábrica ou de realizar atividades com chocolates aqui no hotel", exemplifica Yasmin Bhudarally. "São gestos que adicionam valor ao produto", refere.
É também o caso das almofadas de massagens de shiatsu, uma das comodidades que o NEYA Porto Hotel disponibilizará no futuro aos que lá pernoitarem. "É mais um miminho para o hóspede", regozija-se a responsável. Nos próximos meses, por causa das restrições e das normas de segurança impostas pela COVID-19, estes aparelhos não estarão, no entanto, disponíveis nas habitações. Esta unidade hoteleira dispõe ainda de 25 lugares de estacionamento subterrâneo e empresta bicicletas.
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