“Zé Pedro Rock n’Roll”, que se estreia no dia 30 de julho, já podia ter sido feito há mais tempo, a ideia chegou a ser falada há alguns anos entre o guitarrista dos Xutos & Pontapés e o realizador, mas acabaria por ser só concretizada, em jeito de homenagem, depois da morte do músico, ocorrida no final de 2017.
“Nunca pensámos que o Zé se fosse embora tão cedo. […] É das pessoas mais queridas da música portuguesa. Nunca encontrei ninguém que não gostasse do Zé Pedro”, disse.
Diogo Varela Silva, 48 anos, refere-se a Zé Pedro como “um tio por empréstimo”, com quem sempre conviveu desde criança, porque o músico viveu em casa de uma tia do realizador nos primeiros tempos dos Xutos & Pontapés.
“Tantas bandas que conheci com ele. A partir dos 8 anos eu estive em vários concertos dos Xutos. Lembro-me que a primeira vez que ouvi falar dos Morphine ou dos Nirvana foi com ele”, recordou Diogo Varela Silva, neto da fadista Celeste Rodrigues.
Por causa dessa relação de proximidade, Diogo Varela Silva já conhecia grande parte do material de arquivo sobre o músico, que aproveitou para o documentário, mas para muitos dos espectadores há gravações e fotografias inéditas, como as que registam a infância de Zé Pedro em Timor-Leste, onde viveu por causa do trabalho do pai, militar.
Para o filme foi ainda convocado o próprio arquivo que Zé Pedro foi organizando ao longo da vida, como, por exemplo, os bilhetes dos concertos a que assistiu.
“Zé Pedro Rock n’Roll” cruza vários depoimentos de amigos, dos irmãos, dos sobrinhos, de todos os elementos dos Xutos & Pontapés e de muitos dos músicos com quem o guitarrista se cruzou ao longo da vida.
São ainda recuperados excertos de entrevistas e depoimentos do músico, imagens de arquivo de concertos e ensaios dos Xutos & Pontapés, registos da vida do clube Johnny Guitar, palco e ponto de encontro em Lisboa para dezenas de músicos, e pedaços dos programas de rádio nos quais Zé Pedro participou.
Para Diogo Varela Silva, o documentário mostra “o porquê de o Zé Pedro ter sido o Zé Pedro, como chegou onde chegou, quais os impulsos que o levaram até onde ele foi”.
A empatia que o músico conquistou junto do público, dentro e fora dos Xutos & Pontapés, tem uma explicação para o realizador: “Tem a ver com essa coisa de [ele] nunca ter perdido esse contacto com as bandas de que gostava. Ou seja, ele percebia perfeitamente os fãs”.
José Pedro Amaro dos Santos Reis – Zé Pedro – morreu a 30 de novembro de 2017 aos 61 anos.
A relação com a música vinha desde novo, por influência do pai, e uma das memórias é uma ida ao festival Cascais Jazz, na adolescência, que é recordada no documentário.
No verão de 1977, numa viagem de comboio pela Europa, foi a um festival punk no sul de França, decisivo para a formação pessoal e para o que queria fazer de futuro, como contou no filme.
De regresso a Lisboa, mergulhado na estética punk rock, formou os Xutos & Pontapés, cujo primeiro concerto aconteceu a 13 de janeiro de 1979, nos Alunos de Apolo, em Lisboa.
No documentário são recordados os problemas de saúde, derivados dos excessos com a droga e o álcool, o transplante de fígado e a vida de palco.
Colecionador de música, a par da vida nos Xutos & Pontapés, Zé Pedro desdobrou-se noutros projetos, com programas de rádio, a gerência e curadoria do Johnny Guitar, e entrada nos grupos Cavacos, Palma’s Gang, Maduros e Ladrões do Tempo.
Diogo Varela Silva, que com “Zé Pedro Rock n’Roll” conquistou o prémio do público no DocLisboa 2019, é autor de outros documentários como “Celeste” (2015) e “Fado da Bia” (2012).
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