“A Quinta dos Animais”, a primeira criação de Tonan Quito para a infância, parte da obra homónima de George Orwell, publicada originalmente em 1945 e também conhecida como “O Triunfo dos Porcos”.
Tonan Quito admitiu, em declarações à agência Lusa, tratar-se um texto “complexo, com questões profundas”, mas que sempre pensou nele “para ser feito para crianças, para esta pré-adolescência”.
A peça é aconselhada para espectadores a partir dos 10 anos, que, para o ator e encenador, “é uma boa idade para começar a pensar nas questões que o texto levanta: como é que nos organizamos, quais são as nossas liberdades”.
“Achamos que uma coisa está mal, juntamo-nos todos para derrubar essa coisa que está mal, queremos sentir-nos livres, e de repente há meia dúzia de pessoas que acha que tem mais poder que os outros, resolvem fazer as coisas à maneira delas e acabam por acabar com a liberdade dos outros. Isto é uma história muito simples, como eu estou agora a narrar”, disse.
Tonan Quito considera que “a Política deve ser abordada com as crianças de uma forma muito natural”, contada, por exemplo, através da “grande fábula” que é “A Quinta dos Animais. “Achei que era um bom tema para continuar a questionar-me e para que as crianças comecem a questionar-se”, partilhou.
O maior desafio na criação da peça foi perceber “como contar esta história” a um público infantojuvenil. A adaptação para teatro ficou a cargo de Inês Fonseca Santos, que “não simplificou o texto, não tornou a linguagem mais acessível”.
“Está basicamente o que é, mas afunilou um bocado mais a questão política das liberdades”, explicou Tonan Quito.
Para o ator e encenador, “depois do resultado das últimas eleições [legislativas em Portugal], em que há um partido de extrema-direita que é a terceira força política, obviamente faz ainda mais sentido este texto, porque conta mesmo esta história, de alguém que acha que está um bocadinho mais iluminado que os outros e quer pregar o bem, e acaba por manipular os outros, toda a gente vai atrás, e no final o que acontece é uma castração das liberdades”.
Além de ser a primeira criação de Tonan Quito para a infância, “A Quinta dos Animais” é também o primeiro monólogo que dirige.
“Quando começámos a pensar na adaptação havia várias deixas para várias personagens, mas pensámos que o melhor seria ser sempre a mesma pessoa [Cláudia Gaiolas], que faz o narrador e todas as vozes da peça”, contou.
Em parte da peça, Cláudia Gaiolas assume o papel do narrador “e, por vezes, fala com as vozes de outras personagens”, mas quando começa a ascensão do porco Napoleão, “ela assume-se como Napoleão até ao final da história”.
“A ascensão da personagem faz com esta tome conta da história. Até meio da peça, falamos na terceira pessoa, à medida que ele ganha força e se torna chefe da quinta, começa a falar-se na primeira pessoa”, explicou.
“A Quinta dos Animais” deveria ter-se estreado em novembro de 2020 no Lu.Ca, mas a covid-19 levou a um adiamento, acabando a peça por ter sido levada a cena pela primeira vez em setembro do ano passado no Teatro Virgínia, em Torres Novas, onde teve quatro apresentações.
No Lu.Ca, a peça estará em cartaz até 13 de fevereiro.
Informações sobre horários das sessões e preços de bilhetes podem ser encontradas no 'site' do teatro, em https://lucateatroluisdecamoes.pt/.
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