O ano passado, contei as páginas da revista Jardins a história da Pipoca, um periquito fêmea amarelo e verde que tinha encontrado em Junho no meu jardim, certamente fugido de uma gaiola da vizinhança. Para que a nova habitante da casa não ficasse sozinha, e porque não compramos animais, esperei por Julho e, quando fomos a Roriz, a nossa quinta no Douro, trouxe de uma das várias gaiolas que lá se encontram, um periquito macho, a que chamámos Piu-Piu.

O encontro da Pipoca e do Piu-Piu foi um caso de amor à primeira vista: davam beijinhos, provocavam-se um ao outro. À noite, era vê-los a dormir sempre muito encostadinhos.

A Pipoca, mais atrevida e afoita, liderava a alegria e o movimento na gaiola, seguida do olhar complacente e mais sereno do Piu-Piu. Uma delícia.

Nesta Primavera, o romance entre a Pipoca e o Piu-Piu começou a querer passar a vias de facto e eu, aconselhada por um amigo especialista no assunto, fui a correr comprar um ninho de madeira e uma gaiola gigante, condições necessárias à nidificação.

Ao princípio desconfiados pela mudança de casa, a Pipoca e o Piu-Piu depressa se habituaram à novidade de um espaço mais alargado e esvoaçavam contentes por entre os vários poleiros. Nós, de longe, seguíamos as manobras para ver se havia ocupação do ninho, mas o casal limitava-se a usar o seu telhado como poiso.

A semana passada fomos para fora quatro dias, e, quando chegámos num Domingo, o meu marido, o primeiro a ir ao terraço, gritou-me «Alvíssaras!».

A Pipoca não se avistava na gaiola e o Piu-Piu aparentava um ar comprometido. Olhava-nos de esguelha do alto do seu poleiro. Deduzimos que a periquita estava a chocar dentro do ninho. Não havia vestígios dela em parte nenhuma.

Como nos disseram que, em caso de nidificação, se devia mexer o menos possível na gaiola, não quisemos investigar mais. Excitadíssimos, ficámos, de longe, o resto da tarde a ver se a Pipoca emergia para beber água ou comer, mas nem sinal.

No dia seguinte, o mesmo cenário. A Pipoca não aparecia. Começámos a desconfiar e decidimos verificar se o ninho tinha a fêmea lá dentro. Estava vazio.

Ficámos desolados. O mistério esclareceu-se quando percebemos que uma das aberturas da gaiola não tinha o fecho trancado. A Pipoca, ansiosa por novas experiências, descobriu a saída e abriu as asas para outras aventuras. Afinal, já não era a primeira vez.

O Piu-Piu, mais prudente, ficou para trás. Bem sei que se tratam apenas de periquitos, mas o casalinho já fazia parte da casa e do jardim com o seu chilrear constante e as suas movimentações namoradeiras.

Pior que tudo, o destino da Pipoca foi, certamente trágico. A menos que tenha tido sorte uma segunda vez, a sua condição de pássaro criado em cativeiro não lhe permite uma longa sobrevivência num ambiente repleto de cães, gatos e outros pássaros concorrentes.

Ainda mais triste que nós ficou o Piu-Piu. Quieto, apático, deixou de comer e, de vez em quando, soltava uns piares lancinantes, sempre idênticos, certamente de chamamento à companheira. Estávamos perante um passarinho deprimido, coisa que nunca supus ser possível num animal com um cérebro tão pequeno.

Ao fim de uns dias percebi que ou arranjava companhia para o Piu-Piu ou ele se apagaria a pouco e pouco. Resolvi quebrar a regra da casa e fui comprar uma fêmea.

Não foi fácil porque parece que nesta altura do ano estão
em época de criação e não há muitos animais disponíveis.
Numa loja compreensiva, lá consegui que contactassem o criador para me arranjar uma fêmea novinha, amarela e verde. Enfim, uma Pipoca 2.

Agora o Piu-Piu já tem nova companheira (vai na terceira). Ainda se olham mutuamente com alguma desconfiança, sobretudo a Pipoca 2, meia aturdida depois ter passado
pelo período mais dramático da sua curta vida, com duas
viagens do criador para a gaiola da loja, e depois de lá
para a nossa casa.

Entretanto, o Piu-Piu recomeçou a comer e já tenta dar
umas bicadinhas na Pipoca 2, que ainda está na fase de exploração da gaiola. Parecem contentes. Afinal, a felicidade de um periquito custa apenas oito euros.