Afinal, o que se colhe na horta? Tal como num livro que lemos ou num espetáculo a que assistimos, cada pessoa retira da sua experiência na horta que, à partida, seria semelhante, um proveito diferente. Para mim, é pedagógica. Para outros, será divertida, útil, terapêutica, relaxante e por aí fora... Pode ser tudo isso para a mesma pessoa ou nada disso para alguém que simplesmente não tem interesse em participar neste tipo de atividade.

É claro que nem tudo o que acontece no talhão da horta é positivo e estaria a iludir-me se assim pensasse. Por vezes é frustrante perceber que não temos força para mobilizar a terra como seria desejável, ou que não há tempo para regar, mondar, sachar e cuidar de todas as culturas em simultâneo. Necessariamente, algumas estão lindas e viçosas enquanto outras vão terminando o seu ciclo, mostrando os caules secos e largando a semente.

Por outro lado, as danadas ervas espontâneas proliferam sem ajuda e justificam perfeitamente todos os epítetos negativos que as pessoas lhes dão, apesar de a minha formação botânica não me permitir odiá-las... A corriola, o escalracho, a chicória, as papoilas e a serralha brotam sem parar de cada canto, aproveitando principalmente as áreas que regamos mas também os cantos onde não costumamos trabalhar.

Onde as nossas ervilhas e espinafres não vingaram, temos agora um belo leirão verdejante de todo o tipo de infestantes. Mas, voltando ao ponto de partida, eu diria que o mais importante nesta experiência vai muito para além da jardinagem ou da ecologia. Nem tudo o que se colhe na horta é comestível. Para quem vive na cidade e trabalha em frente ao computador como eu, há outros bens raros e preciosos.

Há o sol, a brisa, o canto das cigarras e dos grilos, as conversas, as tarefas partilhadas, os músculos doridos... E também a possibilidade de oferecer às pessoas de quem gostamos o fruto do nosso cuidado. Deixo-vos a imagem de um mini-cabaz que enchi com 12 vegetais variados para oferecer a uma amiga pelo seu aniversário.

O arranjo maravilhoso foi feito pela minha avó Adília. Lembrei-me do seu talento para compor flores de forma única e pedi-lhe ajuda, enquanto ia dizendo «umas coisas não devem tirar a beleza às outras», referindo-se à madressilva e ao grão-de-bico. O que lhe parece? Veja também a galeria de imagens que ensina a fazer uma pequena horta na varanda.

Os benefícios de ter uma horta vão para além do que se colhe
Os benefícios de ter uma horta vão para além do que se colhe

Texto: Vera Ramos