Cá em casa temos quatro cães. Já foram cinco, mas o Andrade, que era o mais velho, morreu no ano passado. "O Andrade está no céu", diz o Luisinho neto. Ficaram os outros quatro: a Gama , o Verdell, o Figo e a Fofa, por ordem de chegada.

Todos eles abandonados, de proveniência incerta e de raça confusa, dois francamente bonitos e dois muito feios, devem ser resultado de encontros ocasionais de um progenitor de raça com outro menos nobre.

Chamo-lhes cães de fusão, palavra que está agora na moda para designar a combinação de duas culturas.

A verdade é que os cães rafeiros são, regra geral, animais mais inteligentes, mais saudáveis (provavelmente por não terem problemas de consanguinidade) e de grande reconhecimento e fidelidade aos donos.

Para quem tem um jardim, ter cães - e digo-o no plural porque eles são mais felizes em matilha - é uma enorme fonte de prazer.

Os cães dão vida a um jardim e a uma casa e dá imenso gozo vê-los a correr, a saltar e a brincar ou, pura e simplesmente, ao final do dia, deitados de cabeça levantada, em posição de vigilância daquilo que entendem ser o seu território.

O nosso jardim tem mais vida e brilho com eles. Além de fazerem muita companhia, dão uma sensação de conforto e de segurança. Acompanham os nossos humores, fielmente e sem um queixume.

Deitam-se silenciosamente ao nosso lado se estamos tristes ou cansados. Excitam-se se nos vêem bem dispostos. Se lhes fazemos uma festa, ganham o dia.

Os cães dão algum trabalho, claro, sobretudo os cachorros, que têm que ser pacientemente treinados para não entrarem em comportamentos de destruição de relvados e canteiros.

Mas, se um cão está bem educado, pouco mais temos que fazer para além de lhe dar de comer e de beber, escová-lo, e fazer uma vistoria diária ao jardim para limpeza de vestígios menos apetitosos. E dar-lhe tempo de qualidade e afecto.

Mas isso não é trabalho. É um prazer e muito terapêutico para a nossa eventual má disposição. Eu sou daquelas pessoas que pode estar horas a falar e a ouvir falar de cães.

Para mim, uma ida ao veterinário não é uma maçada, porque há sempre um caso interessante para partilhar com outro dono que tem em comum o facto de ter e gostar de cães.

E, na verdade, como é possível não gostar destes animais tão afectuosos e tão dependentes de nós? Fico sempre desconfiada quando algumas das visitas cá de casa têm um gesto de recuo, por medo ou repugnância, quando vê os nossos cães. Por consideração, faço-os retirar para a cerca deles, mas registo a reacção.

Entretanto, deixo aqui um apelo. Se gosta de cães, se tem uma actividade profissional mais reduzida e se tem um jardim, adopte um cão. Vá à União Zoófila e escolha um amigo para a vida, um companheiro para os bons e maus momentos.

Verá que cuidar de um animal nos torna melhores como pessoas e que o afecto que nos dão nos faz muito bem à cabeça. No fundo, eles ficam felizes por encontrarem uma casa e um dono, mas quem fica a ganhar somos nós.