Caros leitores, todos vivemos relações tóxicas em determinadas fases da nossa vida, é inegável. De que forma contribuímos para as mesmas? Maioritariamente de forma proativa, ainda que inconscientemente. Para quê? Para sermos aceites, 'valorizados', vistos, 'amados'.

Devemos olhar para todas as nossas relações com sentido crítico, particularmente para as relações com os nossos pais, e para as relações dos nossos pais com os nossos avós. A origem destas relações está intimamente relacionada com a nossa atitude nas atuais relações que mantemos.

Se em bebés e crianças pequenas, o vínculo de amor, de nutrição, não é estabelecido honrando a natureza do mesmo, a probabilidade de encontrarmos relações tóxicas é gritante.

Um bebé que não vive um vínculo de amor nos seus primeiros anos de vida, irá viver muitas relações estritamente funcionais, pois não saberá reconhecer a dimensão do amor próprio quando alcançar a idade adulta. Alimentar, mudar as fraldas e deitar para dormir é um comportamento funcional, mas não estabelece a verdadeira conexão. Concordará que é distinto de dar colo, amar, estar presente no momento.

Como é que isto influencia as relações, e porque é que essas relações são tóxicas? Vejamos: a necessidade de se ser aceite, amado e nutrido é tão urgente, que é fácil ‘cegar’ e ignorar assim todos os sinais. Acontece nas relações amorosas, de amizade, profissionais. Queremos agradar para ser vistos e aceites, e por tal confundimos migalhas de reconhecimento ‘ilusório’ com valorização da essência do Ser. O outro irá sempre ver uma oportunidade na nossa disponibilidade total. A responsabilidade é do outro? Não. É nossa, que até determinada altura não reconhecemos que estamos neste lugar, mas sentimos um vazio inexplicável.

Por outro lado, quando amados em crianças, quando crescemos num lar seguro, onde fomos vistos e a nossa natureza foi respeitada e empoderada, a probabilidade de sermos jovens/adultos confiantes, capazes e amorosos (sabendo impor limites e barreiras, aceitando e sabendo dizer não, confiando nas competências e na sabedoria do coração, escolhendo relações felizes, de partilha, de encorajamento e respeito pela individuação do outro) é muito superior.

Como reconhecer relações tóxicas:

  • Identifique cinco pessoas com que tem atualmente uma relação mais estreita (com que fale frequentemente, procure trocar ideias, queira saber do estado emocional);
  • Dessas cinco pessoas, o interesse supramencionado é recíproco ou é unilateral?;
  • Quando existe um compromisso com alguma dessas cinco pessoas, existe vontade genuína em estar, ou sente que está contrariado porque só cedeu a ir ao compromisso sob pena de julgamento, cobrança, humilhação?;
  • Sente que existe espaço para ser si mesmo ou na maioria das vezes dá por si a representar uma personagem para ir ao encontro dos desejos alheios?

As relações tóxicas são alimentadas por nós próprios, e esta é uma boa notícia. Como assim? Pois bem, temos a oportunidade de deixar de nutrir essas relações, olhando para dentro para avaliar quais são de facto as nossas verdadeiras necessidades, começando a ter em consideração o valor pessoal, o amor próprio.