Hoje em dia, muitas pessoas à volta do mundo andam em busca da Paz Interior e procuram-na em diferentes locais e técnicas ou em vários cursos e livros. Entendo esta procura, porque para mim, a vontade de alcançar essa Paz Interior foi o que me fez decidir partir para um mosteiro Budista Zen aos 17 anos. Apercebi-me que nenhuma das pessoas à minha volta podia afirmar com 100% de verdade: “Eu estou mesmo no meu centro e tenho um sentimento de Paz Interior completa”. Isto despertou a pergunta: “O que é afinal essa Paz Interior? Onde a poderemos encontrar?”.

A partir do momento em que alguém coloca esta questão, a busca inicia-se. O primeiro lugar onde procurei foi nas outras pessoas e ao longo do meu percurso pude conhecer algumas pessoas sábias que se diziam iluminadas. Fiz-lhes a pergunta: “O que é a Paz Interior e onde a podemos encontrar?”. Invariavelmente, elas responderam que a Paz Interior não é uma experiência exterior a nós mas uma experiência interior. É uma experiência que ultrapassa a pergunta, por não ser algo que se possa encontrar – é uma experiência que se tem que viver neste momento.

Foi muito difícil entender essa ideia, porque eu não parava de me perguntar: “Onde está esse momento? Onde posso ir buscá-lo?”. Algumas pessoas fazem essa busca na internet, outras procuram em livros ou noutras pessoas até perceberem que a resposta näo está aí. E no entanto, talvez esteja bem mais perto do que imaginam.

Acabei por compreender que a Paz Interior é simplesmente entender quem nós somos, ou entender essa realidade. É importante não confundir isto com outras ideias de quem somos, como por exemplo: “Sou uma pessoa nervosa ou stressada. Sou uma pessoa ciumenta ou sou uma pessoa carente ou frustrada”. O verdadeiro sentido está em encontrar a pessoa real que nós somos.

Acredito que esta pessoa real é muito mais fácil de encontrar quando estamos totalmente relaxados ou totalmente centrados. Por esta razão, considero que a meditação transportou-me para um espaço onde posso dizer aos meus filhos, às pessoas que me rodeiam e a mim próprio: “Eu sei o que significa Paz Interior”.

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É importante explicar a palavra meditação porque não a utilizo no sentido de ser uma técnica oriental onde se fica sentado de pernas cruzadas a recitar “Aum” ou a fazer algo muito específico. Meditação para mim é simplesmente voltarmos a nós próprios. Foi este trabalho interno que me fez chegar perto da resposta para a Paz Interior, mas de facto, foram anos e anos de prática de meditação.

Muitas pessoas pensam que a Paz Interior se encontra distante ou que se trata de partir para o Tibete e meditar num mosteiro bem longe da realidade quotidiana. No entanto, na minha opinião, já deixou de ser possível encontrar a Paz Interior nesses lugares. Esse caminho tornou-se mais difícil, e sei que posso ferir susceptibilidades por ir contra o que é normal dizer, mas considero que esses países perderam muita da sua sabedoria. Eu nunca estive no Tibete ou na Mongólia, mas estive na Índia e posso afirmar que muitas pessoas na Índia, assim como no Ocidente, estäo à procura da Paz Interior. Elas estäo a enfrentar os mesmos desafios que a sociedade moderna nos traz, por exemplo: “Como podemos trazer Paz Interior para a nossa vida quando temos dois filhos que vão à escola? O que podemos fazer quando os nossos pais nos dizem que temos de fazer o que eles querem? Como podemos viver alegres quando temos o nosso empréstimo para pagar?”.

Trabalhei com pessoas muito conceituadas no mundo dos negócios, que necessitam de ser práticas para gerir grandes organizações e eles disseram-me que ao encontrarem a Paz Interior, tornaram-se capazes de utilizar energia de uma forma mais construtiva e saudável. Em vez de gastarem essa energia em preocupação com os empréstimos ou com o sucesso da empresa durante a recessão, elas sentiram-se confiantes e seguras com o facto de saberem que é possível fazer qualquer coisa, independentemente do que o mundo exterior disser ou do que as notícias anunciam que o mundo vai ser. Antes pelo contrário, elas alcançaram um sucesso ainda maior nestas circunstâncias.

Isto não acontece apenas com pessoas famosas, mas também com mães que me perguntam: “Tenho três filhos, como posso gerir todas as exigências?”. Antes de pensar como gerir todas essas exigências, é necessário que se concentre em gerir-se a si própria primeiro. Quando temos a capacidade de nos gerirmos de uma forma mais saudável, o mundo exterior transforma-se num lugar bem mais fácil de se viver. Isto pode soar simplista, mas esta é a minha experiência. O mundo fica perfeito para nós. Claro que isto implica criar uma accäo real para que tal aconteça, mas a maior parte das pessoas tenta encontrar um espaço confortável antes de o fazer, como quando as crianças vão dormir ou quando se reformam aos 65 por exemplo, e dizem: “Nessa altura terei tempo para fazer todas as outras coisas muito importantes que eu queria ter feito para mim”. Mas não funciona dessa forma, é necessário dar o passo Agora.

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Qual passo?

Deixar ir. Soltar.

Quando temos um bébé no colo a chorar por exemplo, a primeira coisa que acontece ao nosso corpo é tornar-se tenso. Estou a falar sobre isto, porque tive um bébé recentemente. Quando o corpo se torna tenso, o pensamento é: “O que posso fazer pelo bébé?”. Isto é apenas o antigo padrão da sociedade a dizer que devemos fazer as coisas de uma certa maneira.

Seria muito interessante se simplesmente largássemos tudo nesse momento e estivessemos realmente presentes em relação ao que se passa dentro de nós. Para mim, qualquer que seja a situação exterior com que estamos a lidar nesse momento, seja o bébé, a criança com 5 anos ou o adolescente que tem 15 anos, o acto de soltar começa a fazer parte de nós de uma forma diferente e isto não pode ser explicado em palavras.

É difícil explicar isto de uma forma simples, mas creio que é possível sentir em profundidade quando se está realmente a largar este género de padrão antigo que nos diz que precisamos fazer alguma coisa. Se respirarem profundamente, o vosso corpo relaxa, os músculos relaxam e a vossa respiração conecta-se com algo diferente.

Num sentido prático, eu conecto-me com “O bébé está com fome” e vou imediatamente ao encontro do que precisa de ser feito para satisfazer essa necessidade em vez de ficar nervoso, deixar cair o biberão, ficar aborrecido e sentir-me culpado por estar a correr tudo mal: “O bébé está a chorar e a minha mulher/marido está chateada/o porque não estou a fazer as coisas correctamente. É só caos à minha volta”. Estar presente nesse momento não faz parar o caos, mas certamente muda toda a perspectiva da situação e de como a provocamos.

As pessoas esquecem-se do mais importante nestes momentos. Ficam tão presas na situação, que se esquecem de apreciar a sorte de estarem vivas!

Para se ser verdadeiramente espiritual, para nos abrirmos realmente à consciência, é necessário estarmos totalmente abertos a este momento. É preciso largar o apego à mente ou o apego ao próximo momento que poderá acontecer ou näo. Se tiver filhos, esteja presente para eles, porque este momento não volta. Se tiver um parceiro, esteja presente para ele. Porquê desperdiçar tempo a pensar: “Será que ele/a é perfeito/a para mim? Será que ele/a está a ter a atitude certa?“.

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Estar consciente quer dizer estar presente para tudo o que a vida nos traz. Assim que esta presença acontece, a vida começa a guiar-nos para a direcção mais favorável.

O que quer isto dizer? Está consciente da sua respiração neste momento? Está consciente da força da vida e da beleza que está à sua volta? Está consciente do divino presente na sua essência? Se está consciente de tudo isto, então está a sentir extâse e está cheio de alegria profunda.

Está em extâse? O que quer dizer estar em extâse? Será que é, como dizem alguns livros, viajar para a nuvem B ou para o planeta X, ou será uma experiência bem mais perto do coração? Como poderemos colocar em prática esta forma de viver mais consciente no momento presente?

Temos que ser honestos connosco próprios. Considero que isto é explorar a consciência. Sente-se e dê-se algum tempo para ver o que é que verdadeiramente é, o que é que está a fazer na vida e como o está a fazer. Assim que criar esta intenção de explorar a consciência, todos os actos que o afastarem desse estado consciente, desse ser espiritual ou desse ser de intensa luz, vão naturalmente sair da sua vida.

É neste ponto que tudo fica mais difícil, porque é necessário mudar hábitos que já não fazem sentido ou que já não servem um propósito. Se voçê for uma pessoa zangada no seu interior ou à superficie, ser espiritual significa mudar isso, mas torna-se difícil quando se começa a soltar em direcção ao desconhecido. Como mudar isso? Tornando-se consciente. Tornando-se real.

Aprecie os momentos enquanto pode, porque a vida é muito curta. Estamos constantemente a atropelar-nos, passando por cima uns dos outros, pensando que tudo dura para sempre. Uma pessoa que amo teve cancro recentemente e isto colocou tudo em perspectiva. Tenho a certeza de que não sou o único a quem isto aconteceu e felizmente, tudo mudou. O cancro foi tratado muito rapidamente e a pessoa está completamente curada. Mas este tipo de situações colocam tudo em perspectiva. Apreciar o momento é plena gratidão.

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Se tiver crianças pequenas, aprecie os momentos que tem com elas. Se pensa que a vida é difícil, aprecie o facto de a sua vida ser bem mais fácil do que a vida de muitas outras pessoas. Aprecie verdadeiramente o que tem em vez de procurar as coisas fora de si quando pensa: “Desejava que as coisas estivessem diferentes“.

Esta seria a forma como eu resumiria Gratidão. Quando estamos conscientes e quando nos expandimos em amor, estamos preparados para sentir as coisas de forma muito profunda. Cada momento, cada pessoa e cada situação à nossa volta tornam-se tão valiosos e preciosos que não há tempo a perder com as armadilhas do pensamento negativo e dos antigos padrões. Não existe mais tempo para os sentimentos negativos aos quais a mente adora prender-se. Nao há tempo a perder. Esteja consciente. Liberte-se e procure expandir-se em amor profundo e gratidão plena.

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Tony Samara é um mestre espiritual vivo, que partilha sabedoria, consciência e o sentido da Paz Interior e da Plena Gratidão através da meditação como um método de transformação e realização pessoal.

www.tonysamara.org