Certa vez alguém chegou junto de mim e confidenciou-me que uma pessoa amiga, de forma muito zelosa e genuinamente preocupada, lhe informara que tinha recebido uma mensagem de uma entidade espiritual que, ao fazer-se canalizar, alertava-a para os caminhos errados que estava a seguir. A mensagem era muito focada nas consequências das suas ações, daquilo que poderia acontecer se os caminhos não fossem corrigidos, servindo-se essa entidade do instrumento do medo como forma de condicionar o outro na sua própria liberdade. No fundo, os mesmos ventos do passado que mantiveram a Humanidade submissa e incapaz de cumprir o seu potencial.

Por instantes fiquei parado diante da pessoa, e depois perguntei-lhe: «Será que alguém que não busca mais os caminhos certos, pode estar a trilhar um caminho errado?». Um brilho fez-se presente nos seus olhos e um sorriso, que veio do fundo da alma, daqueles que nos preenchem por completo, iluminou todo o seu rosto. Ali, de forma absoluta, inquestionável e precisa, ela compreendeu que era totalmente impossível estar a seguir um caminho errado, porque nunca se tinha preocupado em seguir nenhum caminho certo.

E ali estava a chave para a verdadeira liberdade.

Os caminhos certos e errados são construções das mentes, perpetuados ao longo da história como forma de domínio sobre os povos e as pessoas. São formas-pensamento que nos escravizam em senzalas psíquicas de onde os nossos verdadeiros seres não têm como se expressar. São, na realidade, o único obstáculo que nos impede de sermos verdadeiramente livres. Não existe nenhum outro! E essa é a razão pelo qual o medo, que nasce da insegurança resultante do equilíbrio precário entre o certo e o errado, sempre foi usado como o instrumento principal para nos manter submissos, amordaçados, semi-adormecidos, incapazes de nos percebermos como seres espirituais que somos.

Que nos possamos libertar, de uma vez por todas, desta forma de escravidão que há séculos mantém a humanidade curvada sobre si mesma, incapaz de erguer a cabeça e olhar o horizonte com esse imenso sorriso no rosto, resultante de uma confiança inabalável e plena na própria vida. Que possamos restaurar a alegria que vem de dentro, que nos permite fazer a pazes com o mundo e com a humanidade, despertando para a nossa verdadeira essência.

Naquele momento, quando aquele sorriso se fez presente no rosto dessa pessoa, foi como se ela tivesse recebido uma carta de alforria que lhe mostrou que o único caminho que existe é o caminho verdadeiro, que não é certo nem errado, mas a própria vida manifestando-se através das suas múltiplas experiências.

Que, de forma simples, possamos viver essas experiências em entrega plena, na certeza de que o fruto que nasce da semente dessa liberdade, é o amor.

Pedro Elias
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