Embora sujeitos às leis do tempo - como tudo o que é matéria -, há em nós um espírito capaz de as ultrapassar. Somos limitados, esta vida é passageira, mas para lá dela existe outra, eterna.

Crescer implica um confronto cada vez mais profundo com esta dualidade. Mas só com o tempo é que vamos aprendendo que nada do que materialmente temos nos pode satisfazer por completo, no entanto podemos e devemos usufruir do que em cada momento nos é dado. E só este nosso grande mestre nos revela que é precisamente através dessa tomada de consciência que nos vamos apercebendo das nossas potencialidades e, portanto, de qual o sentido da nossa vida. O porquê de estarmos neste mundo aqui e agora e tal como somos.

Daí que por vezes sintamos a falta de qualquer coisa, uma insatisfação, um vazio, perguntas sem resposta, como que a sensação de não estarmos completos… Então, para nos completarmos, tendemos a procurar fora um relacionamento absoluto, uma atividade intensa, algo que nos dê uma ilusão de segurança e controle seja sobre o que for. Como se aquilo a que chamamos felicidade pudesse ser encontrado fora de nós ou no que possuimos…

Ao nível do essencial, nada nos falta. Só porém com o passar do tempo e as experiências de vida a que nos convida – ou tantas vezes - obriga, vamos aprendendo esta verdade.

E é uma aprendizagem feita por entre fases de nascimento e morte – porque num debate entre a luz e a sombra que em nós existem.

Neste processo de crescimento, temos de começar por olhar para fora, uns para os outros, apenas porque é através da convivência e partilha, do dar e do receber que, ao serem saciadas, as necessidades do nosso corpo nos permitem apercebermos de um Amor sem fim que, existindo em nós, nos revela que, no fundo, não precisamos de nada nem de ninguém para nos sentirmos amados. Só à superfície do que somos é que essa dependência, comandando-nos, nos leva a procurar quem nos ame.

Aprender a viver é ir fazendo toda uma caminhada que, a partir de um sonho inicial que preside ao nosso nascimento, nele inscreve um determinado projeto de vida de que, desde logo, somos convidados a tomar consciência mas que, só a pouco e pouco, podemos ir estruturando.

Como a fonte do verdadeiro Amor sem fim está escondida no mais fundo do que realmente somos - e não no que aparentamos ou, vindo de fora, nos afaga o ego -, não é procurando-o afanosamente que o encontramos, mas sim ousando acreditar que, no momento adequado, Ele virá ter conosco – seja de que forma for e demore o tempo que demorar.

E aquilo que, ao longo de toda a nossa vida, nos compete fazer é ir alimentando as raizes que, ao acolherem o referido projeto, permitem que ele se estruture e cada um de nós vá podendo escrever a sua própria história.

Aprender a viver é acreditar que a verdadeira Vida é Amor e todos temos acesso a ela, desde que aceitemos esse tempo de espera - feito ora de ganhos ora de perdas - encarando-o como uma aprendizagem em que nunca nos faltarão as ferramentas indispensáveis para que vá podendo haver o vislumbre de uma luz não material e que só termina quando o espírito, já sem precisar da matéria que provisoriamente lhe deu forma, dela enfim se liberta.

Encarada sob esta perspetiva, a passagem do tempo pode sempre representar para nós não uma perda de vitalidade, mas a conquista de uma tranquilidade que não depende de nada exterior a nós.

Se aproveitarmos as várias crises por que, ao longo da nossa vida passamos, para um reajustamento progressivo, poderemos estar cada vez melhor connosco mesmos.

E é esse o assunto da minha conferência no 1º simpósio de astrologia luso-brasileiro: A verdadeira função da astrologia é ajudar-nos a tomar consciência de que só através de perdas e mortes podemos vislumbrar o que está para lá de todas elas. A plenitude. O bem-estar interior. A felicidade. O facto de que ninguém aprende a viver se não for crescendo é apresentado sobretudo pelas conhecidas crises de sete em sete anos como períodos de especial aferição em que Saturno, no seu percurso, leva cada um de nós a confrontar-se com a sua essência.

Encostados à parede, a vida como que nos interroga: Afinal, queres ser tu próprio ou apenas alguém que anda por aí? E já pesaste bem tudo o que és para lá de tudo o que aparentas?

Como por experiência própria já conheço a tranquilidade possível quando o nosso Eu superior vai deixando de estar sujeito a tudo o que, ligado a ele, o aprisiona e limita, uma vez ou outra poderei dar exemplos do meu percurso de vida ao longo das suas várias etapas.  Fá-lo-ei no referido simpósio mas, desde já, em textos que, na sequência deste, aqui for escrevendo,.

Na primeira parte da nossa vida, são os outros que nos dizem quem somos. Começamos por desenvolver um sentido de território e posse em relação aos pais e àquilo que nos pertence. Segue-se uma socialização para lá da esfera familiar, a criação de uma estrutura psíquica autónoma e a tomada de consciência de toda uma dinâmica familiar.

É através do outro que podemos conhecer-nos a nós mesmos como alguem que tem uma identidade própria. E é aos 14 anos surge esse primeiro confronto connosco. Por volta dos 21, um impulso interior empurra-nos para fora da casa dos pais mas, antes dos 28, ainda não temos consciência plena do que nos motiva. Só nessa altura, com o final do ciclo de Saturno, percebemos que só fazendo os reajustamentos necessários estruturamos a nossa vida, começamos a tomar verdadeiramente consciência de nós próprios, de quem somos, de qual é o nosso caminho. Até que, aos 42 anos, com a oposição de Saturno a este planeta natal, vivemos o maior frente a frente da nossa história e mostramos ao mundo qual é afinal o nosso verdadeiro nome.

Por volta dos 49, vêm ao de cima divergências profundas. Aos 56, a fidelidade a nós mesmos torna-se implacável, havendo uma liberdade e uma tranquilidade crescentes. Ganhando então importancia questões de caráter existencial e espiritual, passamos a fazer toda uma reavaliação da vida. E por aí adiante…

Maria José Costa Félix, astróloga e autora de livros de desenvolvimento pessoal

Mail: mjcostafelix@sapo.pt 

Tel. 21 390 69 22   Tlm 93 390 69 22

- Com cinco filhos e treze netos, MJCF é licenciada em Filologia Germânica, frequentou o Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) em Lisboa e esteve integrada num trabalho de grupo de investigação num hospital psiquiátrico no Rio de Janeiro.

- Tendo-se iniciado no Brasil, é astróloga há mais de 30 anos.

- Depois do 25 de Abril em Portugal, participou em dois governos, num como secretária e noutro como adjunta de Primeiro Ministro.

- Jornalista durante cerca de 30 anos como redatora nas revistas Marie Claire, Máxima e Viver com Saúde, colaborou em vários outros orgãos de comunicação, dirigiu um suplemento de astrologia do jornal Sete e fez vários programas de televisão nesse âmbito.

- É autora de livros de desenvolvimento pessoal desde 2002         editados pela Leya (Oficina do Livro) com os títulos Bem-estar interior (editado também no Brasil), Mais e Melhor, Sol e Lua de Mãos Dadas, Vamos falar de Amor?, Ajude o seu Filho a Crescer em Paz, Conheça bem as Asas que tem, Morrer e Renascer, Atalhos do Amor, Envelhecer Sem Ficar Velho.

- Atualmente dá consultas e aulas de astrologia numa perspetiva humanista/psicológica e cármica. E escreve textos não de entretenimento mas de interrogação sobre o sentido da vida, em que convida o leitor a acreditar numa força superior que nos ilumina mesmo nos momentos de maior escuridão.