Cada pessoa mente, em média, uma a duas vezes por dia, de acordo com vários estudos internacionais. Se pensa que chamar mentiroso a alguém é um dos piores insultos, então é melhor continuar a ler. Ao contrário do que se julga, mentir é um talento inato ao ser humano, uma habilidade que o distingue dos restantes animais e que até pode ser encarada como sinal de inteligência. Mais do que um mero ato de esperteza, mentir é um imperativo de sobrevivência.
Num dos livros que publicou, "Born liars: Why we can't live without deceit", Ian Leslie, escritor e colaborador em jornais de referência como The Guardian e The Times, viajou ao universo da mentira, desde os tempos da era paleolítica às mais recentes descobertas científicas, apresentando a mecânica por detrás deste ato e sem fugir a algumas questões controversas, como a mentira na infância. Será correto aceitar uma mentira de uma criança?
A grande viragem na arte da dissimulação
Segundo os especialistas que Ian Leslie cita no livro, a grande viragem na arte da dissimulação dá-se por volta dos quatro anos. Antes disso, a mentira pode surgir na criança, mas é, geralmente, de tal forma instintiva e instantânea que, por vezes, se torna cómica de tão óbvia que é para os adultos. Aos quatro anos, a criança começa a perceber que os outros não pensam necessariamente como ela, abrindo assim caminho para outras realidades mais vantajosas.
"A questão de como as crianças aprendem a não mentir é tão interessante quanto a de saber como aprendem a mentir", refere o autor, que, naquela que é uma das suas obras literárias mais emblemáticas, sugere algumas estratégias para lidar com o problema, que deve ler. As diferenças físicas e orgânicas estão também presentes. Os mentirosos têm, em média, mais matéria branca no cérebro, asseguram os cientistas que estudaram a mentira.
As fibras responsáveis por estabelecer ligações
O ato de mentir é influenciado pelos neurónios que (não) possuímos. "Quanto mais redes neuronais existem, mais variado e original é o fluxo de pensamento de uma pessoa e mais elevadas são as suas capacidades verbais", refere o especialista. Os sinais que, à partida, podem denunciar um mentiroso, entre outros aspetos, são analisados à luz da ciência ou tomando como exemplo casos reais e até cenas extraídas de livros ou de filmes, muitos deles emblemáticos.
Por isso, não se espante se der de caras com Marlon Brando, Roman Polanski ou até Fernando Pessoa. Ficamos a conhecer a evolução das máquinas de detetar mentiras e por que razão muitas delas falham. Percebemos como o cérebro consegue constantemente enganar-nos e apresentar-nos um mundo que não é realmente aquele que vemos ou sentimos. E podemos identificar pessoas com quem nos tenhamos cruzado ou até, quem sabe, reconhecer-nos.
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