Costuma dizer-se que os sonhos são um reflexo do nosso inconsciente e daquilo que está à nossa volta. Esta afirmação corresponde 100 % à realidade?
Sim, corresponde. Enquanto psicóloga trabalho muito com os sonhos, e isso é, sem dúvida, uma mistura daquilo que nós temos no nosso inconsciente, das coisas que vamos vivendo, vamos sentindo, que recalcamos e também daquilo que se passa à nossa volta. Tem tudo impacto, está tudo interligado.
Existe uma explicação para o fenómeno dos sonhos e qual a sua função na nossa vida?
O Freud foi muito importante na interpretação dos sonhos porque começou a estudar o inconsciente e percebeu que os sonhos tinham características e que eram um reflexo do inconsciente. A função dos sonhos é a realização de desejos recalcados ou reprimidos. Os sonhos auxiliam o terapeuta a perceber o paciente, os seus mecanismos de defesa, o seu funcionamento, os seus traumas, os seus desejos e tudo o que está ali reprimido e recalcado. Ou seja, os sonhos têm a função de desvendar a parte mais simbólica do inconsciente da pessoa. E para além disso também podem exercer influência sobre o nosso pensamento e as nossas atitudes. E quando falamos em sonhos também podemos falar no sonhar acordado...
O que é que significa ‘sonhar acordado’?
O sonhar acordado são os nossos projetos para o futuro, aquilo que nós gostaríamos de atingir, aquilo que gostaríamos de fazer e que perguntamos muitas vezes aos adolescentes e às crianças. Nós podemos sonhar mas com consciência, o que também é importante. O que acontece é que os sonhos conscientes podem estar adulterados pelas expectativas criadas pelo exterior e não pelo nosso sonho interior. Ou seja, termos uma parte que já está influenciada pelo meio onde estamos inseridos, as expectativas que têm para nós… E depois temos o sonhar do sono, de estar a dormir e sonharmos. E eu acho que, às vezes, até este segundo quase que comanda mais a vida do que aquele que temos quando estamos acordados. Isto porque eu acho que, no que vou observando e com base na minha vida e das pessoas que também sigo, é que realmente aquilo que por vezes nos aparece nos sonhos são questões nossas que estão todas baralhadas e aparecem nos sonhos quase como um enigma. E se nós conseguirmos decifrar isso, conhecendo bem a pessoa, conseguimos descobrir tantas coisas: emoções, coisas que ficaram presas, etc. E se conseguirmos libertá-las conseguimos também dirigir melhor a nossa vida. Ou seja, se ficarmos decifrados conjugamos o sonhar acordado com isto. Às vezes aqueles sonhos que ainda não foram sonhados quase que impedem o sonho acordado.
Há o sonhar acordado [...] e depois temos o sonhar do sono. E eu acho que, às vezes, até este segundo quase que comanda mais a vida do que aquele que temos quando estamos acordados
Todas as pessoas sonham? Por que motivo algumas se lembram dos sonhos e outras não?
Isso gostava eu muito de saber [risos]. Mas depende muito das fases da vida. Há alturas em que parece que sonhamos imenso e depois parece que há outras alturas em que não sonhamos. Nós não sonhamos durante o sono todo, é apenas numa fase mais superficial.
Acho que quando uma pessoa anda muito cansada ou não sonha mesmo ou não se lembra. Parece que quando há um sono mesmo muito profundo que nem sequer se sonha, e depois há o contrário: alturas em que a pessoa sonha tanto que acorda e parece que nem descansou. Ou seja, isso depende das alturas da vida.
Por exemplo, se uma pessoa está com uma vida muito agitada se calhar acorda, e é tudo tão rápido que nem se consegue lembrar dos sonhos. Eu tenho pacientes assim: sonham imenso, contam-me os sonhos, mas os mesmos pacientes que me trazem imensos sonhos às vezes estão no trabalho, com deadlines e imensas coisas para entregar, e dizem-me ‘Olhe nem tenho sonhado. Nem tenho tempo para sonhar’. E isto acontece mesmo. Eu acho que todos temos essa capacidade de sonhar.
E de que forma é que as fases do sono estão relacionadas com esta questão?
O sono é um conjunto de várias fases, pois não é igual desde o momento em que uma pessoa adormece até ao momento em que acorda. Durante esse ciclo existem várias fases: as não-REM – que vão da sonolência ao sono profundo – e depois a REM. O sono profundo é supostamente quando nós descansamos, os músculos relaxam completamente e o corpo fica menos sensível a estímulos externos. Há quem tenha dificuldade em atingir esta fase mas ela é muito importante para a reparação corporal. E para haver sono profundo é preciso dormirmos muito, por isso é que as pessoas que dormem pouco parecem que não conseguem atingir esta fase ou então não atingem. Quando estamos a dormir com alguém conseguimos perceber que a pessoa adormeceu porque a respiração vai-se tornando mais lenta e nós próprios, se estivermos com atenção, também sentimos isso. Às vezes até há aquela sensação em que uma pessoa está a cair.
A última fase do sono é a REM, que significa Rapid Eye Movement, e que é onde há a atividade cerebral, que é extremamente intensa, e onde nós sonhamos e nos lembramos dos sonhos. É uma fase mais superficial, que, por exemplo, pode acontecer de manhã - quando acordamos e voltamos a adormecer - e é nesta altura em que temos os sonhos mais ricos, mais fantasiados, mais longos e onde o batimento cardíaco aumenta e os olhos se movimentam. Há quem defenda que também se pode sonhar nas outras fases do sono mas são sonhos muito mais simples e por isso é que não nos lembramos. Quando alguém diz ‘Hoje não sonhei’ se calhar sonhou mas não se lembra.
Por norma os sonhos dissipam-se pouco tempo depois de acordarmos. O que é que motiva este esquecimento e dificulta a sua reconstituição?
Os sonhos são constituídos por memórias que nós vamos tendo ao longo do dia misturadas com os nossos conteúdos inconscientes. Podemos não nos lembrar dos sonhos por questões genéticas, que têm a ver com os neurotransmissores que estão ligados à memória dos sonhos, e há pessoas que se lembram e outras que não. Os sonhos são bons para ativar a memória. A memória dos sonhos é muito frágil e é por isso é que nos podemos esquecer mal acordamos.
Quando uma pessoa anda muito cansada ou não sonha mesmo ou não se lembra
Na busca do significado dos sonhos, este não pode ser aplicado de igual forma a todas as pessoas, pois não?
Não, porque o mundo interno conta. Cada um de nós tem a sua individualidade, as suas vivências, o seu contexto e a sua história de vida. Portanto se nós não soubermos nada da pessoa não conseguimos tirar grandes conclusões do sonho que nos foi contado. Isto falando da parte da interpretação dos sonhos da psicanalítica de Freud porque há até religiões que dizem que sonhar com isto quer dizer aquilo…
Há temas que são um bocado transversais: as pessoas quando andam com algum problema, com algo que as persegue ou pessoas com várias fobias que estão a viver alturas complicadas podem sonhar com cobras, o que normalmente é uma coisa um bocado persecutória. As pessoas sonharem que querem falar e não conseguem também podem estar a passar por algum tipo de problema comunicacional. Podemos dizer que sonhar com estes assuntos pode querer dizer alguma coisa, mas fica assim tudo no geral.
A primeira vez que tomei consciência de como era importante conhecermos os sonhos foi quando estava no fim da faculdade, naquela passagem para a idade adulta e em que tinha que começar a pensar em trabalhar. Nessa altura tive um sonho em que estava num parque infantil com uma criança que não era a minha filha e estava super angustiada porque tinha de deixar a criança ir e ela ia morrer. E lembro-me de haver um escorrega e que eu tinha de a largar. Depois quando levei este sonho para análise, com a minha psicanalista percebi que a criança era eu, que era a minha parte mais infantil que eu tinha de deixar ir. O facto de ter dado nome à angústia foi logo muito mais libertador.
Eu acho que o que é mais importante é nós conseguirmos interpretar uma coisa que nos faça sentido e que faça com que nós consigamos compreender aquilo que estamos a sentir. E os sonhos são riquíssimos nisso.
Apesar de a nossa individualidade e experiência contarem muito neste processo de interpretação dos sonhos, qual a sua opinião sobre os ditados populares em torno deste tema? Acredita que os livros que existem sobre os significados dos sonhos podem ajudar a compreender, ainda que de forma geral e menos particular, os sonhos?
Na minha opinião há certas interpretações, como essas mais populares do ‘sonhar com dente que morre o parente’, que acho horríveis. Lembro-me perfeitamente de receber uma criança em pânico porque tinha sonhado que lhe tinham caído quase todos os dentes. E ela estava em pânico porque a avó lhe dizia isso em casa.
Confesso que não conheço assim muitas expressões dessas, mas hoje em dia uma pessoa vai ao Google, põe ‘Interpretação dos Sonhos’ e aparece imensa coisa. A questão é que pode acertar mais ou menos ou pode falhar redondamente. Alguém que não saiba, se sonha com qualquer coisa, vai ler e aquilo dá uma coisa trágica qualquer, a pessoa pode ficar em pânico, super preocupada e não havia necessidade disso. Mais vale interpretar na individualidade. Às vezes até se podem ler coisas que fazem sentido, mas são abordagens muito diferentes.
Há sempre uma necessidade de tentar interpretar os sonhos, mesmo que seja de uma forma mágica ou aquelas pessoas que acham que são premonições. Já tive exemplos disso na minha clínica: pessoas que achavam que sonhavam com coisas que ainda iam acontecer. Como é uma coisa muito simbólica há sempre aquela necessidade de tentar perceber o que é que está para lá.
Qual a sua opinião sobre os sonhos premonitórios? Acredita que têm um fundo de veracidade?
Durante 10 anos dei aulas numa escola profissional onde dava psicopatologia e os meus alunos perguntavam: ‘É verdade isto? É verdade aquilo?’. E eu dizia: ‘Eu acredito em tudo até que exista prova em contrário’. Eu não ponho nada em questão. Principalmente na clínica as pessoas chegam-me com as suas crenças e há pessoas que acreditam mesmo…
Já me aconteceu ter pessoas que sonhavam com coisas que iam acontecer e às vezes até aconteciam mesmo. Falando como psicóloga, tento perceber porque é que elas acreditam nisso e se é uma coisa que até lhes dá tranquilidade. Se for uma coisa que as organize, não vou dizer que não existe ou que isso não faz sentido. Não consigo fazer isso com nenhuma criança, com nenhuma religião… Não é a forma como eu leio os sonhos, pois eu leio mais pelo contrário - tem mais a ver com o passado e com aquilo que estamos a viver e de coisas que ficaram presas - mas se houver quem o faça não sou cética.
Eu adoro os sonhos porque são uma ferramenta excecional para percebemos os conflitos internos das pessoas
É bastante recorrente as pessoas terem vários sonhos por noite. Existe uma média de quantos sonhos diferentes é possível ter?
Não faço ideia, mas já assisti a tudo. Por exemplo, uma pessoa que tem três sonhos que não têm nada a ver, mas quando estamos a conversar e a fazer a interpretação percebemos que todos eles têm uma ligação. Ou seja, apesar de serem diferentes era quase como se fossem os capítulos ou episódios desses sonhos. Imagine ter um pesadelo, acordar e a seguir ter um sonho que quase é tentar resolvê-lo de outra forma, mas com outro cenário. Depois interpretando-o, percebe-se que aquilo foi qualquer coisa para equilibrar.
Normalmente, e com base na experiência que tenho tido, acho que as pessoas que sonham muito têm os sonhos interligados, a temática subjacente é muitas vezes a mesma. Mas só numa psicoterapia é que se consegue perceber isto. Como dizia anteriormente: podemos ir ao Google e ler coisas que até podem ser verdade, mas depois não ligadas aos nossos conteúdos inconscientes não há um aprofundar do significado. Ficamos um bocadinho na mesma.
Por exemplo, sonhar com cobras é persecutório, mas porque é que eu me sinto assim? Numa psicoterapia consegue-se perceber e conseguimos ligar aquilo que trazemos, coisas que estão para trás ou não, e que são do nosso dia a dia. Sozinho é difícil de conseguir compreender. Eu adoro os sonhos porque são uma ferramenta excecional para percebemos os conflitos internos das pessoas. Mesmo aquelas que têm dificuldade em falar, os sonhos às vezes abrem portas, desbloqueiam completamente. É fantástico.
Sabemos que a luz dos dispositivos eletrónicos têm um impacto negativo na qualidade do nosso sono. Mas existe algum tipo de ligação com os sonhos? Ou isso deve-se apenas ao tipo de conteúdos que consumimos antes de ir dormir? Isso pode deixar-nos suscetíveis a ter pesadelos?
Sim, mesmo que a pessoa esteja estupidificada a olhar para um ecrã, é sempre uma estimulação, principalmente para as crianças. Assistimos cada vez mais a crianças com dificuldade em dormir porque elas têm cada vez mais acesso a estas coisas. Por si só, está provado que com a luz o descanso não é o mesmo.
Em relação aos conteúdos, às vezes vamos buscar temáticas nossas, mas vamos buscar os atores de qualquer coisa que estivemos a ver. Se forem filmes pesados e se tocarem em temáticas nossas mais complicadas é mesmo ali o convite para um sonho que tenha a ver com aquilo que acabamos de ver, portanto eu acho que pode ter ligação. E com as crianças nem se fala: se virem coisas antes de dormir que lhes cause algum tipo de terror, é logo.
E os tempos modernos também são tão complicados porque as crianças têm acesso a tanta coisa que, mesmo que uma pessoa lhes tire uma coisa, têm outra. Isso não é aconselhável nem para nós. Todos temos telemóveis, todos vamos às redes sociais, e está mais do que provado por cientistas e especialistas do sono que isso não faz bem. E nós fazemos na mesma.
Acho que as pessoas que sonham muito têm os sonhos interligados, a temática subjacente é muitas vezes a mesma
Falando agora em pesadelos, é possível morrer durante um pesadelo? Existem situações em que os sonhos se podem tornar potencialmente perigosos para o ser humano?
Existem perturbações do sono, como o sonambulismo, que nos podem pôr em perigo. Mas nunca conheci nenhuma nenhuma história que tenha acabo mal. Agora se falarmos nos pesadelos em pessoas com psicoses – que não distinguem bem o que é real do que não é – podem ser perigosos se elas não estiverem a ser tratadas. Se as pessoas estiverem a ser medicadas e acompanhadas não há esse perigo. Se não estiverem podem ter alucinações auditivas, ouvem vozes que os perturbam, que tanto pode ser a dormir como acordado porque eles não distinguem a fantasia da realidade, o estar a dormir do estar acordado. É tudo misturado e não há aquela distinção que uma pessoa neurótica, normal como nós, que está agarrada à realidade consegue fazer.
Há sonhos e pesadelos que nos deixam o dia todo angustiados porque são demasiado fortes, mas se tirarmos um bocadinho de tempo para pensarmos naquilo que sonhamos se calhar isso depois alivia a nossa angústia. O pior é quando não nos lembramos do que sonhamos mas temos a sensação de que experienciamos algumas angústias durante a noite, por isso é que eu acho que as pessoas sonham mesmo e não se lembram.
Às vezes parece que já acordámos em baixo e não somos assim normalmente, provavelmente isso foi porque sonhamos com qualquer coisa que nos tocou ali noutras partes e não temos consciência. Mas não há o risco de uma pessoa saudável ter uma descompensação durante um pesadelo.
Ter pesadelos frequentes deve ser visto como um sinal de alerta e preocupação?
Uma pessoa que tem pesadelos frequentes é uma pessoa que pode não estar bem, que está angustiada com qualquer coisa. Pode estar a viver qualquer coisa que ela tem consciência de que é má e sabe perfeitamente porque é que está a ter pesadelos. Mas também acontece termos pesadelos e não sabermos porquê.
Eu acho que acontece cada vez mais isto: hoje em dia fala-se muito na ditadura da felicidade, em que uma pessoa tem de estar bem, mostrar que está bem e parece que nem para para pensar naquilo que não está bem. E o que é que acontece? Às vezes nem temos noção de que não estamos bem e depois temos outros sintomas, físicos ou pesadelos, que podem ser um sinal de alerta, principalmente se for durante imenso tempo seguido e sempre com o mesmo conteúdo.
Uma pessoa que tem pesadelos frequentes é uma pessoa que pode não estar bem, que está angustiada com qualquer coisa
A fase da vida e o avançar da idade tem algum impacto na frequência dos sonhos e na nossa capacidade de sonhar?
A fase da vida sim, mas não por ordem cronológica. O avançar da idade pode estar ligado ao ir deixando do sonhar acordado: quando somos crianças, sonhamos muito mais e depois vamos sonhando cada vez menos. Vamos tendo excesso de realidade que nos mostra que há muitas coisas com que não vale a pena sonhar e, infelizmente, vamos ficando sem essa capacidade.
No que toca a dormir, acho que as fases da vida interferem: as pessoas têm uma vida tão agitada que nem sequer sonham, não param para nada. Não tem a ver com a idade, mas sim com a fase em que estamos, com os nossos estados de espírito e também com a nossa disponibilidade para tal. Há situações dramáticas pelas quais estamos a passar em que só precisamos de estar a reagir e ainda não chegou a altura de começar a sentir. Uma pessoa que esteja numa situação de violência ou de sobrevivência, nessa altura está apenas a sobreviver, então parece que está tudo bloqueado. Normalmente passada essa fase é quando começa a ter os pesadelos, é quando já se dá a essa disponibilidade para poder sentir.
Eu acho que são mais as fases da vida, mas às vezes também estamos descontraídos e temos sonhos bons, o que é ótimo, ou levamos coisas boas que vivemos para os sonhos. Por exemplo durante o trabalho de luto de alguém próximo que morreu também temos sonhos até bonitos com essa pessoa, que até parece uma despedida. Também pode ser o concretizar de um desejo reprimido, mas um desejo bom e não só estas coisas que temos recalcadas e que depois nos assombram.
Sonhar faz bem?
Sim e com os dois tipos. O sonhar acordado também faz muito bem mas às vezes o sonhar a dormir pode boicotar o sonhar acordado. Por isso é que temos que nos conhecer muito bem e conseguir perceber os nossos sonhos, porque eles ajudam-nos. Mesmo os pesadelos, se forem interpretados, ajudam-nos. Portanto acho que sonhar é ótimo porque é mais uma forma que nós temos de nos conhecer. É uma ferramenta muito boa e, mesmo que não seja para grandes interpretações, sonhar é sempre bom, quer dizer que temos capacidade criativa, de imaginar e que estamos cá.
Mas de que forma é que o sonhar a dormir pode boicotar o sonhar acordado?
Não é bem o sonhar a dormir que boicota o sonhar acordado, são mais os nossos sonhos porque como estes transmitem as nossas coisas mais insconcientes - os nossos medos, as nossas fobias, as nossas inseguranças e os nossos traumas - boicotam o sonhar acordado. Por exemplo, eu queria ser médica mas tenho imensas inseguranças dentro de mim, das quais às vezes não tenho consciência e que não lido no meu dia a dia, e essas inseguranças podem aparecer nos sonhos. Não temos consciência disso quando estamos a sonhar acordados mas quando estamos a sonhar às vezes aparecem essas questões.
E para além disso o sonhar acordado também pode boicotar algum trabalho que já possa estar inconsciente porque o nosso sonhar acordado tem mais a ver com as expectativas dos outros do que as nossas próprias expectativas. Por exemplo, eu achar que aquilo que eu quero ser e aquilo que eu quero atingir é uma coisa, e se calhar isso não corresponde propriamente ao meu sonho mais íntimo, aquele com que vou sonhar quando estou com a parte inconsciente mais à tona.
Os sonhos acordados também podem estar a ser influenciados por outras realidades externas ou expectativas que os outros vão ter sobre mim. O que é interessante perceber é que sonhar acordado nem sempre corresponde aquilo com que vamos sonhar quando estamos a dormir e vice-versa, mas se conseguirmos trabalhar os dois, os dois podem ser aliados.
Agora, as nossas questões mal resolvidas podem atrapalhar os nossos sonhos acordados e se estes forem baseados nas expectativas que os outros têm para mim. Temos aquelas crianças que querem impressionar os pais e vão seguir uma profissão que acham que é o seu próprio sonho mas na verdade não é. E se calhar depois sonham com questões angustiantes relacionadas com isso porque na verdade não estao a fazer aquilo que realmente sonham mas sim aquilo que acham que têm de sonhar.
No fundo os dois sonhos podem trabalhar em conjunto se formos pessoas bem resolvidas e entrarmos em contacto com as nossas questões mais profundas, ou então podem-se boicotar um ao outro.
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