Pegamos no telemóvel 344 vezes por dia. Gastamos menos de 15 segundos por página clicada. Não vemos um terço dos e-mails importantes. E do outro lado é igual: aquela mensagem urgentíssima que enviámos? Nunca terá resposta.
Para os autores do livro Smart Brevity – O poder de dizer mais com menos (edição Lua de Papel) a realidade é simples: não nos adaptámos ao excesso de informação. Jim VandeHei e Mike Allen criaram o jornal Politico, com textos muito sintéticos. De seguida, juntamente com Roy Schwartz, fundaram o jornal digital Axios, que serve notícias a um público exigente e impaciente.
Numa e noutra empresa usaram o mesmo mantra: Smart Brevity. Ou, se quisermos, informação breve, mas com profundidade. Smart Brevity é todo um sistema de pensar a comunicação: desde o assunto do e-mail (importantíssimo) às newsletters da empresa. E as mesmas regras aplicam-se também às reuniões, às apresentações ou ao modo como usamos as redes sociais.
“A nossa solução para o nevoeiro de palavras passa por aliciar as pessoas a produzir e consumir menos palavras – muito menos (...) palavras fortes, frases mais curtas, cativantes e surpreendentes, visuais simples e ideias bem organizadas transformam uma escrita discreta numa escrita vital – e memorável”, sublinham os autores no livro, para concluir: “com as antigas formas de comunizar, quase ninguém está a ouvir”.
Nunca na História da Humanidade vomitámos tantas palavras em tantos sítios tão depressa como agora
Porque é que isso interessa
Este novo e cansativo fenómeno entupiu a nossa inbox, paralisou locais de trabalho, toldou‑nos as mentes – e inspirou‑nos a criar Smart Brevity*… e a escrever este livro.
Sejamos honestos: estamos prisioneiros das palavras. De as escrever, de as ler, de as ouvir.
- Palavras no Slack. Palavras nos emails. Palavras nos tweets. Palavras em SMS. Palavras em memorandos. Palavras em stories. Palavras, palavras, palavras.
- Passamos os dias a ouvi‑las, a vê‑las e a lê‑las, especados em frente aos nossos pequenos ecrãs, numa infindável procura por mais e mais.
As nossas mentes ficam deslumbradas com tudo isto. Sentimo‑lo e vemo‑lo diariamente. Estamos mais dispersos, mais impacientes, mais inundados. Navegamos, deslizamos, clicamos, partilhamos.
- Estudos de eye‑tracking mostram que demoramos em média 26 segundos para ler um pedaço de conteúdo.
- Geralmente, gastamos menos de 15 segundos na maioria das páginas web em que clicamos. Outro número louco: um estudo demonstrou que o nosso cérebro leva 17 milissegundos a decidir se gostamos daquilo em que acabámos de clicar. Se não gostamos, seguimos logo em frente.
- Partilhamos a maioria das histórias sem nos darmos ao trabalho de as ler. Depois esperamos, inquietos, em busca de gratificação instantânea ou apenas mais – uma risada, uma provocação, uma notícia curta, uma ligação, um like, uma partilha, retweets, snaps… Esta perseguição dificulta a concentração, a vontade de resistir a olhar para o telemóvel, a leitura mais profunda, a capacidade de recordar coisas e de dar atenção ao que importa.
- Verificamos o telemóvel mais de 344 vezes por dia – pelo menos uma vez a cada quatro minutos. Pesquisas comportamentais – e o nosso próprio detetor de tretas – mostram que avaliamos por baixo a verdadeira dimensão da utilização.
- Varremos – não lemos – quase tudo o que aparece nos nossos ecrãs.
- Sobretudo, estamos a alimentar o vício da dopamina com mais e mais mensagens, tweets, googlar, buzz, Slacks, posts. Clicar. Clicar. Clicar.
O que a ciência e os dados nos dizem
Na verdade não há muitas evidências de que este comportamento esteja a alterar os nossos cérebros adultos. Pelo contrário, sempre tivemos tendência para a distração. A diferença é que agora somos constantemente bombardeados com uma profusão de distrações.
- Isto tira partido de duas falhas humanas de uma só vez: somos tendencialmente muito maus em multitasking, e temos muita dificuldade em retomar a atenção depois de a termos desviado. A maioria das pessoas leva mais de 20 minutos a recuperar a concentração após uma distração.
- Não admira que as velhas formas de comunicar não consigam aterrar no meio deste caos emergente.
A visão geral
Passamos a maior parte do tempo em que estamos acordados a chafurdar em ruído e disparates. E damos voltas na cama enquanto dormimos – é a loucura da mente moderna.
Este crescente nevoeiro de palavras tem origem em duas causas: a tecnologia e os nossos resistentes maus hábitos.
- A internet e os smartphones abriram as portas para que todos digam e vejam tudo em grande escala, de forma gratuita e instantânea, e a toda a hora. Todos ganhámos acesso ao Facebook, Google, Twitter, Snapchat, TikTok… usamos e abusamos deles, e de que maneira. Podemos partilhar qualquer pensamento. Publicar quando estamos orgulhosos ou zangados. Ver um vídeo sobre qualquer assunto em qualquer momento.
- Mas as pessoas continuam a despejar emails, cartas, memorandos, teses, histórias e livros como se ainda estivessem em 1980.
Pensa nisto: sabemos que todos têm menos tempo, mais opções, distrações sem fim – e, ainda assim, continuamos a debitar a mesma quantidade de palavras. Ou mais! Escritas da mesma forma como têm sido escritas ao longo de gerações.
Nada disto é novo. Mark Twain, ao escrever a um amigo em 1871, confessava que “não tinha tempo para te escrever uma carta curta, por isso escrevi‑te uma longa”.
- Toda a gente o faz. Tentamos fingir – ou mostrar que somos muito espertos – exagerando nas palavras. Isso vê‑se no trabalho, nos emails pessoais, nos meios de comunicação.
- Aprendemos que o tamanho equivale a profundidade e importância. Os professores atribuem trabalhos definindo o número de palavras ou de páginas.
Artigos longos em revistas são sinal de seriedade. Quanto mais espesso for o livro, mais inteligente será o autor.
- A tecnologia transformou esta obsessão pelo tamanho num monstro sorvedor de tempo. O resultado é um desperdício de milhões de palavras:
- Cerca de um terço dos emails importantes de trabalho ficam por ler.
- A maioria das palavras da maioria das notícias não são vistas.
- Inúmeros capítulos de inúmeros livros passam‑nos ao lado.
O problema é muito grave em praticamente todos os locais de trabalho dos Estados Unidos. Não interessa se trabalhas na Apple, num pequeno negócio ou numa nova start‑up, nunca foi tão difícil manter as pessoas focadas no que mais interessa.
- A recente realidade de trabalhar a partir de qualquer lado, num mundo mudado pela covid‑19, transformou as comunicações numa profunda e crítica fraqueza para qualquer empresa, qualquer líder, qualquer estrela em ascensão, qualquer trabalhador dedicado.
- Este problema far‑se-á sentir em todas as organizações, porque uma cultura vibrante, uma estratégia clara e uma execução eficiente dependem de um sistema de comunicações forte num mundo fragmentado.
- Stewart Butterfi eld, CEO da Slack, disse ‑nos que, numa hipotética empresa de 10.000 empregados que gasta mil milhões de dólares em ordenados, 50 a 60% do tempo de um funcionário é usado para algum tipo de comunicação. Mas ninguém apresenta as ferramentas ou a formação para melhorar esta situação.
A conclusão
Todos estamos perante um enorme desafio: como é que consegues fazer alguém prestar atenção a algo importante no meio desta confusão?
A nossa resposta
Adapta‑te à forma como as pessoas consomem conteúdos – não como tu gostarias que o fizessem, ou como o faziam antigamente. Depois altera a forma como comunicas. Imediatamente. Isto pode ser feito rapidamente, se adotares Smart Brevity.
O lado positivo para ti
Vais aprender a destacar‑te no meio do ruído, a ser ouvido nos assuntos que têm importância para ti e a ser reconhecido pelas tuas ideias mais relevantes. E vais aprender que esta nova forma de pensar e comunicar é libertadora, contagiante e pode ser ensinada.
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