O ano passado estávamos juntos há pouquíssimo tempo e entretidos naturalmente com outras coisas, como esse pormenor de nos conhecermos um ao outro. Fomos adiando a resposta a convites e acabámos sozinhos no réveillon. Mas vestidos a rigor, com a sala devidamente enfeitada para um jantar com requintes formais, e depois as 12 badaladas na rua, o frio compensado pela presença espontânea de tantos vizinhos, uma pequena multidão a apreciar os fogos-de-artifício simultâneos em Lisboa e Almada – com o Tejo como espécie de fronteira simbólica entre os anos Velho & Novo. Nota: ganhou a Margem Sul.

Não nos fez grande confusão essa efeméride a dois somente. Das nossas poucas características comuns sobressai esta: não somos pessoas optimistas por-dá-cá-aquela-palha nem dadas a felicidades marcadas no calendário.

Todavia, este ano resolvemos inovar e – aproveitando os dois meses e pico de vida do Welcome ABorges – a Sara lembrou-se de organizarmos uma celebração. Encontramo-nos, portanto, na ansiedade própria de quem se prepara para ser anfitrião duma festa bizarra: na qual coabitarão sexagenários e vintinhas, escritores e bancários, pt’s e designers, advogados e assistentes sociais. Todos eles Welcome A2017, bem-vindos chez Casal Almeida Santos Borges, oxalá se divirtam numa casa sem cadeiras suficientes e permanentemente revirada pelos guardiões do templo Haruki e Indie, a.k.a. cadela frenética e gato rotundo. Se correr mal e suceder algum acidente grave, que seja ao menos antes da meia-noite (para ficar no malfadado currículo de 2016).

Além do problema relativo à quantidade de rabos extra por sentar, ainda temos de tratar da questão das passas: essa fruta seca que só consumo mesmo neste dia. De resto, sabem-me a ginjas. Odeio ginjas. Mas enfim, cumpro a tradição… acrescentando-lhe um twist: meia dúzia de passas vão para desejos, a outra metade para resoluções. Não vos vou maçar aqui com o rol completo, até porque alguns poderão ser do foro – coff, coff – íntimo, mas sempre adianto o desejo mais lamechas e a resolução menos provável: desejo fazer a Sara feliz mais um ano.

- pausa para os leitores com coração fazerem “oooohh”

- e para os leitores com ênfase na bílis fazerem “ahahah”

E a resolução mais épica: que em 2017, ano em que cumpro – aaargh – 40 anos de vida, possa enfim ser capaz de escrever um romance. Ou realizar um filme. Ou fazer um filho. Ou pelo menos decidir-me em relação a uma delas.

Por Luís Filipe Borges

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