Afinal, ao contrário do que antes se pensava, não foi Redoshi Smith, que faleceu em 1937, mas, sim, Matilda McCrear, a última sobrevivente dos escravos africanos levados para os EUA. E, contrariamente ao que muitos historiadores defendiam, o Clotilda, o último navio a transportar trabalhadores forçados negros para o país, aportou no continente americano em 1860 e não em 1869. A escrava, que era uma das passageiras, morreu, aos 83 anos, em 1940.

Hannah Durkin, professora e investigadora na Universidade de Newcastle, em Inglaterra, descobriu-a e identificou-a. "A história dela é impressionante", garante a historiadora. Depois de ter sido libertada, Matilda McCrear casou com um judeu de ascendência alemã, teve 14 filhos mestiços e, na década de 1930, foi ativista. Lutou pelo repatriamento de muitos dos seus concidadãos. Vivia em Selma, no Alabama, no sul dos EUA, quando faleceu.

A investigação de Hannah Durkin sobre a mulher que foi a última escrava africana sobrevivente daquela que foi a derradeira viagem transatlântica de um navio de escravos tem sido divulgada pela publicação especializada Slavery and Abolition. "Ela conseguiu ultrapassar aquilo que era esperado de uma negra no sul dos EUA anos depois da libertação. As pessoas que tinham sido escravizadas tinham um estigma muito grande", sublinha a historiadora.

"Era mais vergonhoso ter sido escravo do que ter sido escravizador", garante Hannah Durkin. Comandado pelo capitão William Foster, o navio Clotilda aportou em Mobile Bay, no Alabama, em julho de 1860. No seu interior, vinham entre 110 a 160 trabalhadores forçados negros. Apesar da importação de africanos já ser ilegal na altura, Timothy Meaher, proprietário da embarcação, terá gasto 9.000 dólares, mais de 8.300 euros, em escravos.