Pela primeira vez, depois de todos os escândalos em que esteve envolvido, John Galliano concede uma emocionante entrevista à Vanity Fair onde abre o seu coração, a sua infância, a sua vida.
À editora Ingrid Sischy, o costureiro de 52 anos revela, a propósito dos seus comentários racistas, “ não sei porque fiz aquilo. Ainda estou a tentar descobrir. Acho que estava com muita raiva de mim mesmo e acabei por dizer a coisa mais maldosa que me veio à cabeça”.
Sóbrio há dois anos, Galliano acrescenta ainda que, apesar de parecer bizarro, “estou grato pelo que aconteceu. Aprendi muito sobre mim. Tenho redescoberto aquele rapaz que teve a fome de criar e que eu acho que tinha perdido. Afinal, estou vivo". "O que tinha começado como autoexpressão transformou-se numa máscara", diz Galliano. "Eu vivia numa bolha e ficava refugiado nos bastidores”.
A sua história começou como tantas outras de dependência. Confessa que não bebia para ser criativo: "Eu não preciso de álcool para nada disso. Primeiro começou como uma muleta que eu usava depois de terminar as coleções. Dois dias depois já estava ok. Mas com o tempo, os incidentes aumentaram e quando dei por mim já era escravo da minha dependência. Então comecei a tomar comprimidos, porque não conseguia dormir. Em seguida, tomava outros porque não conseguia parar de tremer. Também tinha sempre ao meu dispor essas enormes garrafas de licor que as pessoas gostam de me oferecer. Já no final, tudo o que chegava às minhas mãos servia. Vodka e vinho, na crença de que iriam ajudar-me a dormir. Errado. Eu só consegui parar as vozes. E, nem por um segundo, admitia que era um alcoólatra. Sempre pensei que estava tudo sob controlo".
Por duas vezes foi alertado formalmente para a situação em que estava emerso. Primeiro por Sidney Toledano, CEO. da Dior, que num almoço disse que Galliano precisava de ajuda. O costureiro reagiu mal, virou a mesa e sugeriu que Toledano começasse também a comer mais saudavelmente.
O segundo confronto ocorreu quando Bernard Arnault, presidente e CEO da LVMH, disse a Galliano, de forma direta e chocante, que ele iria morrer se não fizesse alguma coisa para resolver o seu problema. Em resposta, Galliano arrancou a camisa e perguntou: "Será que está a olhar para o corpo de um alcoólatra?". Outros amigos alertaram, mas no final do dia, ninguém queria trair o costureiro.
A gota de água foi mesmo o escândalo em relação aos comentários racistas, os quais Galliano nem se lembra de ter proferido. O vídeo foi passado pela sua assistente e quando o criativo viu, confessa: “Quando eu vi, vomitei. Fiquei paralisado de medo”.
"Estou grato pelo que aconteceu. Aprendi muito sobre mim. Tenho redescoberto aquele rapaz que teve a fome de criar e que eu acho que tinha perdido. Afinal, estou vivo"
Internado numa clínica de reabilitação no Arizona a 1 de março de 2011, Galliano inicia assim o seu processo de recuperação. O primeiro telefonema que fez foi a Bill Gaytten (que o sucedeu como diretor criativo da etiqueta John Galliano), pouco antes do desfile de Galliano começar em Paris, mas não correu bem.
O seu sucessor reagiu mal.
No primeiro fim-de-semana que recebe visitas, Linda Evangelista foi a única amiga presente e quando Kate Moss lhe pediu para desenhar o vestido de noiva, ainda Galliano estava em reabilitação, o costureiro sentiu a esperança: "A criação do vestido de noiva de Kate salvou-me pessoalmente porque foi a minha reabilitação criativa. Ela desafiou-me a ser eu novamente”.
Hoje, Galliano diz que ainda está a aprender a ser um ser humano diferente e sabe que magoou muitas pessoas, mas o processo continua. E o regresso à moda, mais do que uma vontade, é uma necessidade para a sua recuperação total.
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