Num documento sobre microplásticos a que a Lusa teve acesso, da responsabilidade de organizações não-governamentais ambientalistas, salienta-se que o alerta parte de cientistas e que há alternativas naturais, uma delas a cortiça, que até já foi certificada pela Federação Internacional de Futebol (FIFA).
No entanto, segundo as organizações, em 2017 apenas 3% dos campos certificados pela FIFA utilizavam alternativas orgânicas.
O uso de grânulos provenientes de pneus usados é frequente em campos de futebol de relva artificial e outros campos desportivos. Os campos de relva artificial são feitos em várias camadas de diferentes tipos de plástico, de borracha e de outros materiais.
“Os pneus incluem borracha sintética, um polímero plástico com muitos aditivos tóxicos, pelo que os grânulos são uma verdadeira preocupação, de tal forma que estão proibidos nos aterros de resíduos”, dizem as organizações, que acrescentam que os jogadores nem sempre sabem dos riscos potenciais dos altos níveis de gás que se desprendem dos grânulos.
Nem tão pouco, acrescentam, da elevada toxicidade dos grânulos que se “escapam” dos campos e que envenenam o ambiente com o seu “cocktail” de aditivos químicos e metais pesados, incluindo altos níveis de zinco e cloro.
De acordo com o documento, até ao próximo ano devem existir na Europa 100.000 campos, que geram algo aproximado a 16.000 toneladas de poluição de grânulos em cada ano.
No ano passado um painel de peritos, a pedido da Agência Europeia de Produtos Químicos (ECHA, na sigla original), analisou a questão e recomendou a proibição total do uso dos granulados com origem nos pneus usados, diz-se no documento, no qual se acrescenta que há alternativas seguras e naturais, além da cortiça, como a madeira, ou mesmo caroços de azeitonas moídos ou cascas de nozes moídas.
A opção pelos “granulados tóxicos”, dizem os responsáveis, pode estar relacionada com o facto de serem muito baratos. Em 2016 a produção global de borracha sintética e natural foi de 27,3 milhões de toneladas, com cerca de 70% delas utilizadas em pneus. Em cada ano vão para o lixo, a nível mundial, mil milhões de pneus, pelo que há muita matéria-prima.
Segundo os dados do documento, um campo artificial de futebol, de tamanho normal, absorve 25.000 pneus triturados. Este uso aliviou a pressão sobre as empresas desde a década de 1990, que assim deixaram de se preocupar com a eliminação dos pneus, antes passando o problema para os donos dos campos. Um relvado artificial deve ser substituído a cada oito a 10 anos.
“Mas o problema da eliminação torna-se mais difícil quando cada pneu se torna em centenas ou milhares de pedaços”, alerta-se no documento. Embora a indústria recomende a reciclagem de velhos campos, as organizações não-governamentais dizem que na Europa apenas uma empresa faz de facto a reciclagem dos campos, e que como os campos são compostos por várias camadas e de materiais diferentes, a reciclagem é muito difícil, tanto mais que os granulados provenientes dos pneus não podem ir para aterro.
A proibição do uso dos restos de pneus iria impulsionar alternativas naturais, mas as organizações não-governamentais de defesa do ambiente referem que nos últimos meses a União Europeia tem sido pressionada pela indústria de produção e reciclagem de pneus para que essa proibição não seja efetivada, “porque os campos constituem cerca de 30% do seu mercado”.
E não só campos, parques infantis e passeios para peões também são “clientes” do material feito de pneus usados, acrescentam.
As organizações não-governamentais concluem que na Europa se substituíram os campos de relva natural por campos de resíduos tóxicos, e querem que esses campos sejam feitos de produtos naturais “em vez de se esconder os resíduos tóxicos de pneus à vista de todos”.
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