“Temos perdas anuais de água na ordem dos cinco milhões de metros cúbicos no perímetro de rega de Silves, Lagoa e Portimão e de cerca de dois milhões no de Alvor, o que é muito significativo para o período de seca que estamos a atravessar”, referiu à Lusa Pedro Valadas Monteiro.
O volume de água desperdiçado anualmente nos canais de distribuição é superior ao que regista atualmente a barragem da Bravura, em Lagos, – cerca de cinco milhões de metros cúbicos — que serve o perímetro hidroagrícola de Alvor, numa área de cerca de 1.800 hectares.
De acordo com aquele responsável, para evitar as perdas ao longo dos canais “vai ser investido um total de 35 milhões de euros, em trabalhos de isolamento e de pressurização” dos canais de rega, 27 milhões de euros no perímetro Silves, Lagoa, Portimão, e cerca de 08 milhões de euros no de Alvor.
“Neste momento, estão terminadas as obras no bloco de Silves, faltando concluir as de Lagoa e do Falacho e, em 2023, está previsto o início da modernização do canal da Bravura, do perímetro de rega de Alvor, aquele que se encontra em piores condições e onde já decorrem obras de revestimento do canal, com a aplicação de tela isolante para tapar as fissuras ao longo de 10 quilómetros, entre Odiáxere e o Vale da Lama”, notou.
Segundo Pedro Valadas Monteiro, “na prática, neste último perímetro, converter o sistema, que é gravítico em pressurizado, vai permitir uma poupança de água anual na ordem dos dois milhões de metros cúbicos, e de cerca de cinco milhões no de Silves”.
“As intervenções e pressurização do sistema vão permitir minimizar os impactos da seca nos anos com valores de precipitação abaixo do expectável”, concluiu.
Construída em 1958, a barragem da Bravura é destinada à rega agrícola, golfes, jardins e abastecimento público, abrangendo cerca de 1.800 hectares de explorações no perímetro hidroagrícola de Alvor, num total de 937 beneficiários.
A barragem da Bravura é a albufeira do barlavento algarvio com menor volume de água armazenado, cerca de 14% dos 34 milhões de metros cúbicos da sua capacidade total.
De acordo com António Marreiros, presidente da Associação de Regantes e Beneficiário de Alvor (ARBA), entidade gestora da água da bacia da Bravura, “o volume atual é o mais baixo dos últimos 29 anos, só podendo ser comparado aos meses de janeiro dos anos de 1983 e 1993, altura em que tinha três milhões de metros cúbicos”.
António Marreiros disse à Lusa que, no último ano agrícola, que terminou em outubro, foram retirados cerca de sete milhões de metros cúbicos de água da Bravura, “mas apenas foram faturados cinco milhões, o que representa um desperdício na ordem dos dois milhões”.
“São estas perdas que temos de evitar, ainda para mais num ano que se avizinha de seca e extremamente difícil para esta região, o que faz antever, caso não chova, que não tenhamos água para a próxima campanha agrícola”, alertou.
Segundo o responsável, da bacia da Bravura “atualmente, dos cinco milhões só podem ser retirados cerca de 2,5 milhões de metros cúbicos de água, porque o restante é residual”.
António Marreiros considera que as obras de modernização dos canais condutores de água a partir da Bravura, estruturas com 64 anos, “são essenciais para evitar as perdas ao longo dos 60 quilómetros de condutas e servir as explorações agrícolas”.
De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), o Barlavento do Algarve, é uma das regiões mais afetadas pela seca que o país atravessa.
Segundo dados do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH), no final do mês de dezembro, as bacias do Barlavento apresentavam uma disponibilidades de água de 14,3%, sendo que a cada bacia hidrográfica pode corresponder mais do que uma albufeira.
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