O preço de referência do gás natural na Europa é o de um megawatt/hora (MWh) para entrega no mês seguinte, negociado no mercado holandês conhecido como TTF.

Na segunda-feira, o preço rondava 73 euros, o mais baixo desde 21 de fevereiro de 2022. O preço no atacado caiu quase 50% num mês e está muito abaixo dos máximos de agosto de 2022, quando alcançou 342 euros.

Os preços do gás começaram a subir antes da guerra na Ucrânia, mas dispararam a partir da invasão de 24 de fevereiro de 2022.

O encerramento de vários gasodutos entre Rússia e Europa, até então o seu maior cliente, elevou o preço desta commodity, pois menos gás chegava ao continente. As exportações de gás da Gazprom para União Europeia e Suíça caíram 55% em 2022, anunciou a companhia russa na segunda-feira.

A empresa russa entregou 62 mil milhões de m³ à Europa em 2022, frente aos 138 mil milhões de 2021, segundo uma estimativa de Thierry Bros, analista do mercado energético e professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris.

A queda atual de preços explica-se, em primeiro lugar, porque a Europa encheu os seus reservatórios durante o último verão no hemisfério norte e porque o outono foi bastante suave. Além disso, as famílias e as empresas reduziram voluntariamente o seu consumo. Nesta segunda, as reservas europeias de gás estavam 83,3% cheias, segundo a Gas Infrastructure Europe.

'Incerteza'

O preço do gás afeta o custo da eletricidade, já que muitas centrais europeias queimam gás para produzir energia. Mas estas variações de preços no atacado não se refletem diretamente nos preços cobrados aos consumidores, já que os fornecedores suavizam suas tarifas. Em relação ao futuro, os analistas continuam a ser bastante prudentes.

"Tudo depende do que o presidente russo Vladimir Putin decidir sobre os fluxos de gás para a Europa", disse Thierry Bros à AFP. "Poderia enviar menos, mas também poderia enviar mais em determinadas direções com a esperança de dividir os países europeus entre si, é o que alguns académicos chamam de o 'princípio de incerteza do Kremlin', que põe à prova a unidade europeia", opina.

"Se a Europa não receber pelo menos 30 mil mlhões de m³ de gás russo, será complicado encher as instalações de armazenamento", indica o especialista, que, no entanto, garante que o continente está "melhor preparado" do que no ano passado.

Em janeiro de 2022, antes que o conflito estourasse, as reservas europeias de gás apenas estavam cheias em 54%.

A mesma incerteza aplica-se à indústria. "Se houver uma onda de frio no fim de janeiro, os preços voltaram a subir", adverte Nicolas de Warren, presidente da associação que reúne as indústrias que mais consomem energia da França.

Também teme que haja concorrência entre Europa e Ásia - onde os preços "são agora superiores aos europeus - para obter gás natural liquefeito (GNL).