A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo e sempre que lava a roupa que veste ainda está a agravar mais o problema. Todos os anos, 13.000 toneladas de microfibras acabam nos mares europeus. O número é avançado num novo estudo científico levado a cabo por um grupo de investigadores da Universidade de Northumbria, em Newcastle upon Tyne, em Inglaterra, que recorreu à análise forense para determinar a origem dos tecidos que são encontrados no oceano.
Segundo a análise, divulgada pela publicação especializada PLOS One, em cada ciclo de lavagem standard são libertados 114 miligramas de microfibras por quilo de roupa lavado. Tendo por base um relatório de 2013, que sugere que são feitas, por ano, 35,6 mil milhões de lavagens nos 23 países europeus analisados, os investigadores garantem que, pelo menos, 12.706 toneladas dessas partículas, o equivalente a dois camiões de recolha de lixo por dia, vão, anualmente, parar aos mares europeus.
O impacto dessas lavagens não é, no entanto, sempre igual. De acordo com os cientistas, sempre que são lavados a 15º C num ciclo de lavagem de 30 minutos, os tecidos libertam menos 30% de microfibras, em comparação com um ciclo de lavagem de 85 minutos a 40º C. Se todos os cidadãos europeus reduzissem a temperatura da água e encurtassem a duração das lavagens que fazem no dia a dia, os especialistas acreditam que menos 3.813 toneladas de microfibras iriam parar ao mar. Outra das formas de combater a poluição passa, segundo o estudo, por encher mais as máquinas de lavar roupa mas nunca ultrapassando o peso recomendado pelos fabricantes desses equipamentos.
O ideal, segundo os cientistas, que trabalharam em parceria com a Procter & Gamble, empresa que detém marcas de detergentes e amaciadores como o Ariel, o Tide, o Downy e o Lenor, é preencher sempre três quartos da capacidade do tambor com roupa e utilizar as peças de vestuário durante mais tempo, uma vez que as novas tendem a libertar mais microfibras do que as antigas. De acordo com os investigadores, só a partir da oitava lavagem é que a libertação dessas particulas começa a diminuir.
Durante a análise forense efetuada por Kelly Sheridan, especialista em fibras textêis, os investigadores apuraram ainda que 96% das microfibras libertadas nos oceanos são de origem natural, como é o caso do algodão, da lã e da viscose, que têm a vantagem de se degradarem mais rapidamente. As fibras sintéticas representam apenas 4% das encontradas, com destaque para o nylon, para o poliéster e para o acrícilico. Ao fim de oito meses debaixo de água, 76% das fibras de algodão desaparece.
Durante esse período, as de poliéster não vão além dos 4%, pelo que a escolha das matérias-primas a privilegiar pelos consumidores também tem um papel fundamental na redução da poluição dos oceanos europeus. "Este foi o maior estudo a analisar a correlação entre as descargas de água das lavagens e a quantidade de microfibras libertada", sublinha John R. Dean, professor de cienciês ambientais e analíticas da Universidade de Northumbria, o coordenador da investigação.
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